quinta-feira, 11 de junho de 2009

Guarda Chuva Amarelo


Era uma vez um povoado todo cinzento e triste.
Quando chovia, todo mundo usava guarda-chuvas pretos, mas só e rigorosamente pretos.
O semblante de todos era muito carregado e triste. Debaixo de um guarda-chuva preto só podia ser assim.
Certo dia, em que a chuva desabava mais forte, apareceu, como por encanto, um senhor um tanto excêntrico, que ia desafiando aquele dilúvio, usando um guarda-chuva colorido. Mas não era só isso, ele avançava todo sorridente. Isso mesmo, ele sorria.
Alguns dos passantes, como sempre, sob guarda-chuvas negros, olhavam para ele escandalizados e murmuravam:
– Que indecência, fica mesmo ridícula essa sua sombrinha colorida! Chuva é coisa séria e um guarda chuva só pode ser preto.
Outros ficaram indignados e se perguntavam alucinados:
– O que lhe deu na telha desse sujeito de querer enfrentar a chuva com um guarda-chuva colorido? Exibicionista.
Outros ainda fizeram queixa na polícia:
– É certamente um sujeito orgulhoso, alguém que faz de tudo para aparecer. Ele parece mesmo que está se divertindo.
De fato, não havia nada de divertido naquele país de chuva permanente e de guarda-chuvas pretos.
Só Natacha não conseguia atinar o motivo daquelas críticas e um pensamento a perseguia:
– Quando chove, guarda-chuva é guarda-chuva, preto ou colorido, o que interessa mesmo é guarde da chuva. E ponto final.
Percebeu, além disso, que aquele senhor mesmo debaixo de um guarda-chuva colorido se sentia perfeitamente à vontade e feliz. E aí ela queria saber muito mais.
Um dia, ao voltar da escola, Natacha se deu conta de que havia esquecido o seu guarda-chuva preto em casa. Deu de ombros e se meteu na chuva sem nada na cabeça, deixando que a água lhe encharcasse o cabelo.
Quis o acaso que, dai a pouco ela topasse com... isso mesmo, com o homem do guarda-chuva colorido.
– Servida? Ele perguntou.
Natacha hesitou. Se aceitasse, seria alvo de gozação. Entretanto, acudiu-lhe o pensamento:
– Quando chove, guarda-chuva é guarda-chuva, preto ou colorido, o que importa? Além disso, é melhor ter um guarda-chuva que ensopar-se de água.
Aceitou e viu-se debaixo do guarda-chuva do gentilíssimo senhor.
Então compreendeu porque aquele senhor era tão feliz: debaixo do guarda-chuva colorido o mal tempo desaparecia. E em um céu azul, recortado de pássaros festivos, brilhava um grande e quente sol. Natacha ficou encantada e o senhor abriu-se para ela em um sorriso:
– Já sei, ficou encantada. Pois então, escute, explico tudo: houve um tempo em que eu também era muito triste neste país de chuva sem fim. Eu também usava um guarda-chuva preto. Certo dia, saindo do escritório, lá esqueci o meu guarda-chuva. Não voltei para apanhá-lo, fui andando para a casa assim, como estava. E eis que, enquanto caminhava, deparei-me com um senhor que me ofereceu entrar sob o seu guarda-chuva colorido. Como você, hesitei, tinha medo de ser diferente, de tornar-me ridículo. Depois aceitei, porque o que mais temia mesmo era apanhar um resfriado. E me dei conta, como você, de que debaixo do guarda-chuva colorido o mal tempo simplesmente desaparecia. Aquele senhor me ensinou que as pessoas, debaixo de um guarda-chuva preto, ficavam tristes e sem vontade de se comunicar. O gotejar da chuva e o preto da sombrinha os deixavam amarrados. Quando, de repente não o vi mais, percebi que estava segurando o seu guarda-chuva colorido. Ele o teria esquecido? Tentei reencontrá-lo, mas não o vi mais. Por isso, guardei o guarda-chuva. Desde então o tempo sempre foi maravilhoso.
– Linda história! Entretanto, não sente remorso de ficar com um guarda-chuva de outra pessoa?
– Absolutamente! Porque sei muito bem que ele é de todos. Também aquele homem certamente o tinha recebido de alguém.
Quando chegaram em frente à casa de Natacha, despediram-se. Imediatamente, o homem, afastando-se, desapareceu. E a jovem se viu segurando seu guarda-chuva colorido. Mas, então, aquele senhor, por onde andaria?
Assim, Natacha guardou aquele maravilhoso guarda-chuva colorido. Também compreendeu que, mais dia, menos dia, o guarda-chuva haveria de mudar de dono. Passaria a novas mãos, a fim de levar serenidade a outras pessoas.


autor desconhecido


Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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