segunda-feira, 31 de março de 2008

Livre Pensar


Aforismo
Não esquecer! Quanto mais alto nos elevamos, tanto menores parecemos àqueles que não podem voar.

Friedrich Nietzsche . Aurora
Carpe dien
A coisa mais importante de sua vida é o objetivo que você persegue no presente momento. Toda a vida de um homem se apresenta como uma sucessão de momentos. Se você conseguir entender isso, não existirá mais nada a ser feito, nada mais a almejar. Viva sendo fiel ao objetivo do momento.
As pessoas deixam escapar as oportunidades do momento presente, e depois as procuram como se estivessem em outro lugar. Ninguém parece perceber isso. Porém, quando conseguem agarrá-las, as pessoas começam a acumular experiências. A partir do momento em que nos damos conta desse fato, tornamo-nos pessoas diferentes, mesmo que não estejamos atentos a essa mudança.

Hagakure . O Livro do Samurai . Yamamoto Tsunemoto

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 29 de março de 2008

Ney Matogrosso


Dois momentos inesquecíveis deste talento maior da MPB, o camaleão Ney Matogrosso.
Dono de uma voz inconfudível e de rara beleza, uma capacidade de interpretação inigualável, uma presença cêninca única, enfim ... um artista completo.
Aqui ele interpreta duas canções memoráveis uma de Gilberto Gil - Pai e Mãe e a outra, de Mauro Kwitko - Mal Necessário. Parabéns a este trio, dignos representantes da genialildade brasileira.

Pai e Mãe . Gilberto Gil

Eu passei muito tempo aprendendo a beijar
Outros homens como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo pra saber que a mulher
Que eu amei, que amo, que amarei
Será sempre a mulher como é minha mãe
Como é, minha mãe?
Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não se aborreça comigo
Quando me vir beijar outro homem qualquer
Diga a ele que eu quando beijo um amigo
Estou certo de ser alguém como ele é
Alguém com sua força pra me proteger
Alguém com seu carinho pra me confortar
Alguém com olhos e coração bem abertos
Pra me compreender




Mal Necessário . Mauro Kwitko

Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher
Sou as mesas e as cadeiras desse cabaré
Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo
Sou a febre que lhe queima mas você não deixa
Sou a sua voz que grita mas você não aceita
O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam
Nos bares, na lama, nos lares, na cama.
Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento
O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata
Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem
Nos bares, na lama, nos lares, na cama




Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Paranóia


que paranóia
amanhã
que loucura
amanhã
tantos amanhãs
quantos amanhã
virão
se virão
e quantos olho
solharão os meus passos
e apontarão meus erros
pode ser paranóia
talvez o amanhã
nem chegue
amanhã
é algo que não penso
não penso nem no ontem
meu hoje talvez
e sei que olham
e sei que me seguem
pode ser paranóia
enquanto o amanhã
não chega
e eu espero

Eduardo Santos . Reticências Poéticas





Ai minha doce Loucura . Amália Rodrigues

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 27 de março de 2008

Esperança



É bom ter esperança, mas é ruim depender dela . Textos Judaicos
A esperança é a maior e a mais difícil vitória que um homem pode ter sobre a alma . Georges Bernanos
É horrível assistir à agonia de uma esperança . Simone de Beauvoir
Aquilo a que chamamos o nosso desespero é frequentemente a dolorosa avidez de uma esperança insatisfeita . George Eliot
Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora . Georges Bernanos
Por vezes o entendimento descontrai-se para que a esperança se divirta com o que a imaginação sonha . António Solis
Mesmo quando não havia nenhuma esperança, sempre procurei dar o melhor de mim . Orson Welles









Misteriosa Dona Esperança . Vânia Abreu


Blog Palavra Aguda . Alexandre Magno



Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Sonho


Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chancede fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

Clarice Lispector




Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

terça-feira, 25 de março de 2008

Minha Vida na MPB


Como é Grande o Meu Amor Por Você
Roberto Carlos / Erasmo Carlos


Eu tenho tanto
Prá lhe falar
Mas com palavras
Não sei dizer
Como é grande
O meu amor
Por você
E não há nada
Prá comparar
Para poder
Lhe explicar
Como é grande
O meu amor
Por você
Nem mesmo o céu
Nem as estrelas
Nem mesmo o mar
E o infinito
Nada é maior
Que o meu amor
Nem mais bonito
Me desespero
A procurar
Alguma forma
De lhe falar
Como é grande
O meu amor
Por você
Nunca se esqueça
Nem um segundo
Que eu tenho o amor
Maior do mundo
Como é grande
O meu amor
Por você
Mas como é grande
O meu amor
Por você!




Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Minha Vida na MPB


De Tanto Amor
Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Ah ! Eu vim aqui amor só pra me despedir
E as últimas palavras desse nosso amor, você vai ter que ouvir
Me perdi de tanto amor, ah, eu enlouqueci
Ninguém podia amar assim e eu amei
E devo confessar, aí foi que eu errei
Vou te olhar mais uma vez, na hora de dizer adeus
Vou chorar mais uma vez quando olhar nos olhos seus, nos olhos seus
A saudade vai chegar e por favor meu bem
Me deixe pelo menos só te ver passar
Eu nada vou dizer perdoa se eu chorar


Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje

domingo, 23 de março de 2008

Minha Vida na MPB


Menino do Rio
Caetano Veloso


Menino do Rio

Calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção corpo aberto no espaço
Coração, de eterno flerte
Adoro ver-te...
Menino vadio
Tensão flutuante do Rio
Eu canto prá Deus
Proteger-te...
O Hawaí, seja aqui
Tudo o que sonhares
Todos os lugares
As ondas dos mares
Pois quando eu te vejo
Eu desejo o teu desejo...
Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Toma esta canção
Como um beijo...



Estácio, Holly Estácio

Luiz Melodia

Se alguém quer matar-me de amorque me mate no Estácio
bem no compasso
bem junto ao passo
do passista da escola de samba do largo do Estácio
O Estácio acalma os sentidosdos erros que eu faço
trago não traço faço não caço
o amor da morena maldita
domingo no Estácio
fico manso amanso a dor
Hollyday é um dia de paz
solto o ódio mato o amor
Hollyday eu já não penso mais

aperte o play e ouça estas canções em bela releitura de Mart'nália




Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 22 de março de 2008

Dúvidas Pascais

Cordeiro . Símbolo Pascal


Papai, o que é Páscoa?
Ora, Páscoa é ...... bem ...... é uma festa religiosa!
Igual Natal?
É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
Ressurreição?
É, ressurreição. Marta, vem cá! Sim? Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
Mais ou menos ...
Mamãe, Jesus era um coelho?
Que é isso menino?
Não me fale uma bobagem dessas!
Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu!
Nem parece que esse menino foi batizado!
Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma Educação cristã!
Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Ave Maria!
Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
É filho, Jesus e Deus são a mesma pessoa. Você vai estudar isso no catecismo. Chama-se a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
O Espírito Santo também é Deus? É sim.
E Minas Gerais?
Sacrilégio!!!
É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus.
É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito.
Mas quando você for no catecismo a professora explica tudinho!
Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa? Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
Coelho bota ovo?
Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
Era, era melhor, ou então urubu.
Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
Isso eu sei: na sexta-feira santa.
Que dia e que mês?
???????
Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
Um dia depois.
Não, três dias.
Então morreu na quarta-feira.
Não, morreu na sexta-feira santa ... ou terá sido na quarta-feira de cinzas?
Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!
Como?
Pergunte à sua professora de catecismo!
Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
O Judas traiu Jesus no sábado?
Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
É, boa pergunta.
Filho, atende o telefone pro papai.
Se for um tal de Rogério diz que eu saí.
Alô, quem fala?
Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
Cristo.
Jesus Cristo.
Só?
Que eu saiba sim, por quê?
Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho.
Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha? Coitada!
Coitada de quem?
Da sua professora de catecismo!!!

Luis Fernando Veríssimo


Girasol . Símbolo Pascal

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Minha Vida na MPB


O Meu Amor
Chico Buarque

O meu amor tem um jeito manso que é só seu

E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

linda interpretação na voz de Tête Espíndola



Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Máquina breve


O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
- meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.
Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.

Cecília Meireles






Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Sentir


A Alegria na Tristeza
O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti.
No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.
O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento.
Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir.
Além disso, as pessoas estão sem dinheiro.
Quem tem emprego, segura.
Quem não tem, procura.
Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado.
E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música.
Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia.
Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta.
Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa.
O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado.
Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições.
Até parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada.
Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais.
Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido.
Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões.
E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada.
Triste é não sentir nada.
Martha Medeiros
post do amigo Fabiano do Blog Verdades Musicais . tão lindo que copiei
para ilustrar . o poema Socorro de Arnaldo Antunes na voz de Cássia Eller . perfeito encaixe




Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 15 de março de 2008

Angela Evans . o sucesso batendo na porta




é o merecido reconhecimento e o devico sucesso batendo às portas desta "pequena notável" que vem desta terra das minas gerais.
seu nome . angela evans .
Angela Evans: esta é muito boa ...
O disco rodou três vezes consecutivas (vai rodar muito ainda...) Nesse correr, voltei nessa ou naquela faixa.
Nossa! Essa moça tem que ganhar o mundo!!
Há tempos uma cantora novata – em disco, porque há quase 20 anos ela se aperfeiçoa na noite e escola melhor não há – me ganhava no ato.
Escrevo sem querer soar presunçoso, porém maravilhado...
Escrevo sobre a mineira Angela Evans e “Um pouco de morro outro tanto cidade sim” .
Lançado em 2006, de forma independente, passou despercebido.
Ressurge revitalizado com duas músicas extras: “Meu vadio coração” e “Valha-me Deus”, letras de Hermínio Bello de Carvalho em canções de, respectivamente, Lucas Porto e Baden Powell.
O álbum, agora no catálogo da gravadora Biscoito Fino, mostra uma cantora de voz firme, mas modulável.
Angela tem um aparato musical diferenciado de algumas colegas de ofício (novatas com ou sem aspas) que acreditam encontrar no samba a melhor forma de se expressar – mal sabem que projetos milimetricamente confeccionados acabam por dar sono...
Angela Evans canta samba, sim. Canta bem.
Porém, “Um pouco de morro outro tanto cidade sim” é, sobretudo, um disco de intérprete. Sofisticado, sim. Compositores consagrados, sim. Bons músicos, sim. De que adiantaria tudo isso se caísse em voz errada ou inadequada? Hein?
Timbre bonito, Angela preenche frases musicais e divide compassos habilmente. Conduz as 13 faixas sem laivos de tecnicismo. Arrisca agudos, saem falsetes; encontra conforto maior nas regiões graves. Molda a voz e o coração, ao que parece, intuitivamente.
Em vez do violão (sempre atrelado aos discos de samba), “Um pouco de morro outro tanto cidade sim” tem como base o piano de Cristóvão Bastos, produtor e arranjador de todo o repertório.
Ele soube revestir as canções de modo que Angela Evans pudesse se sentir à vontade.
O disco foi gravado “de primeira”, ou seja, com todos os músicos tocando juntos com ela. Instrumentistas de peso: João Lyra e Cláudio Jorge (violões); Jurim Moreira e Carlos Bala (bateria); Bororó (baixo acústico); Jorjão Carvalho e Ivan Machado (contrabaixo elétrico); e Ovídio Brito (percussão).
Autores de peso: Wilson das Neves (participação especialíssima no inédito “Ao nosso amor”, dele em parceria com Luiz Carlos Vila), Nei Lopes (que também rasga elogios no encarte), Elton Medeiros, Paulo César Pinheiro, Eduardo Gudin, Ivan Lins e, Cristóvão Bastos.
"LINDAS ESTRANHEZAS"- Nada de “sambão” desvairado.
Há sambas de outros jeitos: uns mais cadenciados, outros mais lentos, alguns com breves vibrações jazzísticas, todos bons de se sorver. “E o vento levou” (Wilson das Neves – Cláudio Jorge) é dos mais bonitos.
A voz de Angela dá a cor perfeita a versos vazados pela meloncolia (“És folha que o vento levou/ E eu atrás perseguindo/ Buscando-te em vão”).“Recato” (Elton Medeiros – Salgado Maranhã), não menos belo, é a melhor forma de ouvir os volumes e a maestria da intérprete.
O título do disco foi extraído de “Estrela” (Elton Medeiros- Eduardo Gudin –Roberto Riberti). Como não se deter em “Nada a declarar” (Cristóvão Bastos – Nei Lopes)?
Ah, sim! Deixei para o final. Angela Evans fisgou o coração de Hermínio Bello de Carvalho, que a “ungiu” nas entrelinhas do material de divulgação – confessional, diga-se – onde faz referências subliminares a Elis Regina, Elizeth Cardoso e Zezé Gonzaga.“Com vocês, e com licença de minhas outras amadas intérpretes, Angela Evans. E afirmo: uma excelente e visceral cantora-intérprete, com timbre cheio de lindas estranhezas, portadora de grande personalidade”, escreveu Hermínio que canta em “Valha-me Deus”.“Um pouco de morro outro tanto cidade sim”, Angela Evans.
Um pedido: ouçam.
Outro pedido: que a cantora mineira de Montes Claros pise logo num palco de Curitiba. Sim, porque se depender de Londrina as coisas sempre vão ficar nas boas intenções...
Texto de Antônio Mariano Júnior - Londrina - Pr - publicado no Blog Sintonia Musical


Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 14 de março de 2008

Páscoa


Aos amigos deste Blog
Hoje, nesta postagem especial, quero desejar a todos uma Feliz Páscoa.
Que ela seja um momento de reflexão, de renascimento de sonhos, de projetos, de vida.
Que todos conquistem o verdadeiro sentido da vida.
“Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude”
(João 10,10b)

Nesta semana, por envolvimento em outras atividades, faremos um breve recesso em nossas postagens.
Vou sentir saudades.
Abração a todos.






Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Sobre Vacas e Moedores


Um amigo tinha um sítio. Colocou nele uma vaca. A vaca lhe dava uma enorme despesa. Teve de construir um estábulo, além de comprar uma picadeira de cana para a ração. As pessoas ajuizadas da sua família tentaram trazê-lo de volta à razão. “Com as despesas todas que a vaca lhe dá, o leite dela é o mais caro da cidade! Seria mais prático comprar o leite nos saquinhos plásticos...”. Mas ele me confessava: “Eles não entendem... Eu não tenho a vaca por causa do leite. Eu tenho a vaca porque gosto de ficar olhando para ela, aqueles olhos tão mansos, aquele ar tão plácido, tão diferente das pessoas com quem lido... Tenho a vaca porque ela me faz ficar tranqüilo...” Meu amigo sabia aquilo que seus práticos familiares não sabiam: que uma vaca além de ser um objeto com vantagens práticas e econômicas, é também um objeto onírico. As vacas nos fazem sonhar... Havia, na casa do meu avô, um quadro bucólico. Era um campo com grandes paineiras floridas ao fundo e algumas vacas que mansamente pastavam. Eu, menino, gostava de ficar ali, olhando o quadro. E me imaginava assentado à sombra das paineiras, gozando da felicidade de ter como companhia apenas vacas que nada pediam de mim. Não existe nelas nenhuma ética, nenhum comando. Nada querem fazer, além de comer o capim verde. Já os cavalos provocam sonhos diferentes: criaturas selvagens, cheias de uma beleza energética, relincham num desafio para as corridas desabaladas e o vigoroso bater das patas no chão. O relinchar de um cavalo é um grito de guerra. Mas o mugido de uma vaca, apito rouco de um navio vagaroso, soa como uma oração... “de profundis...” Acho que foi por isso, por essa sabedoria filosófica, que as vacas nos fazem sonhar, que os hindus as elegeram como seres sagrados. As vacas parecem estar em paz com a vida – muito embora o seu destino possa ser trágico. Trágico, não por causa delas, mas por causa dos homens, que pouco se comovem com seus olhos mansos. Cecília Meireles colocou num verso esta condição bovina, como paradigma da condição humana: “Sede assim – qualquer coisa serena, isenta, fiel, igual ao boi que vai com inocência para a morte.” Pois bois e vacas, esvaziadas de suas belas e inúteis funções oníricas, pelos homens práticos, estão destinados ao corte. Passei pelo açougue, lugar onde se realiza o destino das vacas. Um açougue é o lugar onde a mansidão bovina é transformada em utilidade comercial. Para serem úteis elas têm de morrer. Sobre o balcão, um moderníssimo moedor de carne. O açougueiro, afiando sem parar a faca, corta as carnes que, um dia, pastaram à sombra das paineiras. Por um buraco, à direita, entram os pedaços de carne. Ligadas à máquina, giram as engrenagens invisíveis que trituram a carne. Operação necessária para que a vaca se torne útil ao homem. Em sua placidez filosófica, a vaca não é útil a ninguém, apenas a ela mesma. É preciso que a máquina a transforme em outra coisa para ser útil ao homem. Na outra extremidade do moedor elétrico há um disco cheio de orifícios. Por ele esguicha a carne moída, que vai caindo em uma bandeja. Terminada a operação, o açougueiro toma um punhado de carne e o coloca sobre um pedaço de plástico, e, por uma manipulação destra, enrola-a sob a forma de rolo, como se fosse um salame. E assim vai repetindo. Sobre o balcão os rolos vão se acumulando, todos iguais, um ao lado do outro. Tentei conversar com os rolos de carne moída. Perguntei-lhes se sentiam saudades dos pastos, dos riachos, das paineiras floridas?... Mas parece que haviam se esquecido de tudo. “Pastos, riachos, paineiras – o que é isso? Parece que a máquina de moer carne tem o poder de produzir amnésia. Perguntei-lhes então sobre os seus sonhos. E me responderam: hamburgers, Mc Donald’s, Bob’s, churrascos... Só sabiam falar da sua utilidade social. E até falavam em inglês... Meditei sobre o destino das vacas e fiquei poeta. A gente fica poeta quando olha para uma coisa e vê outra. É isto que tem o nome de metáfora. Olhei para a carne cortada, o moedor, os rolinhos e vi outra coisa: escolas! Assim são as escolas... As crianças são seres oníricos, seus pensamentos têm asas. Sonham sonhos de alegria. Querem brincar. Como as vacas de olhos mansos são belas, mais inúteis. E a sociedade não tolera a inutilidade. Tudo tem de ser transformado em lucro. Como as vacas, elas têm de passar pelo moedor de carne. Pelos discos furados, as redes curriculares, seus corpos e pensamentos vão passando. Todas são transformadas numa pasta homogênea. Estão preparadas para se tornarem socialmente úteis. E o ritual dos rolos em plástico? Formatura. Pois formatura é isto: quando todos ficam iguais, moldados pela mesma forma. Hoje, quando escrevo, os jovens estão indo para os vestibulares. O moedor foi ligado. Dentro de alguns anos estarão formados. Serão profissionais. E o que é um profissional se não um corpo que sonhava e que foi transformado em ferramenta? As ferramentas são úteis. Necessárias. Mas - que pena – não sabem sonhar...

Rubem Alves


Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Mudança . Tributo a Bob Dylan



Mude.
Mas não tão devagar.
Pois a direção é tão importante quanto a velocidade, frente à emergência da mudança ditada pelo atual momento histórico de todo o mundo.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho.
Ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das suas roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia.
No parque e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama ...depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de TV, compre outros jornais.
Leia outros livros.Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia e, também, uma outra língua.
Corrija a sua postura.
Coma um pouco menos,escolha comidas diferentes.
Novos temperos, novas cores,novas delícias.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros lugares vá a outros restaurantes.
Tome outro tipo de bebida.
Compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado.
Outra marca de sabonete, outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue fora os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar outro emprego.
Uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso.
Mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível, sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores.
E coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, a ousadia, a criatividade, o lúdico, sem os quais a vida não vale a pena!

Edson Marques





Um tributo a Bob Dylan . um dos grandes revolucionários da história .

este sim, concretamente ajudou a mudar uma geração e o mundo.








Like a Rolling Stone by Bob Dylan


Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

terça-feira, 11 de março de 2008

Lavar Palavras Sujas




Mergulhar a palavra suja em água sanitária.
Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza.
Por exemplo, a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas, que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras.
Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos.
À noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

Viviane Mosé



Ilustração João Werner

Lavadeiras








Paulo Braccini

enfim, é o que tem...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Tu Tens um Medo



Tu Tens um Medo

Acabar.

Não vês que acabas todo o dia.

Que morres no amor. Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que te renovas todo dia.

No amor.

Na tristeza

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Não ames como os homens amam.

Não ames com amor.

Ama sem amor.

Ama sem querer.

Ama sem sentir.

Ama como se fosses outro.

Como se fosses amar.

Sem esperar.

Tão separado do que ama, em ti,

Que não te inquiete

Se o amor leva à felicidade,

Se leva à morte,

Se leva a algum destino.

Se te leva.

E se vai, ele mesmo...

Não faças de ti

Um sonho a realizar.

Vai.

Sem caminho marcado.

Tu és o de todos os caminhos.

Sê apenas uma presença.

Invisível presença silenciosa.

Todas as coisas esperam a luz,

Sem dizerem que a esperam.

Sem saberem que existe.

Todas as coisas esperarão por ti,

Sem te falarem.

Sem lhes falares.

Sê o que renuncia

Altamente:

Sem tristeza da tua renúncia!

Sem orgulho da tua renúncia!

Abre as tuas mãos sobre o infinito.

E não deixes ficar de ti

Nem esse último gesto!

O que tu viste amargo,

Doloroso,

Difícil,

O que tu viste inútil

Foi o que viram os teus olhos

Humanos,

Esquecidos...

Enganados...

No momento da tua renúncia

Estende sobre a vida

Os teus olhos

E tu verás o que vias:

Mas tu verás melhor......

E tudo que era efêmero se desfez.

E ficaste só tu, que é eterno.


Cecília Meireles



Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

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