segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Delírios Tropicais!



Não vou aqui discutir política mas apenas deixar registrado este sensacional texto de Fernando Gabeira publicado em O Globo.
Ele retrata toda a minha percepção do momento que o Brasil atravessa e a minha esperança em dias melhores para esta nação e seu povo.

"Seguir na estrada um longo julgamento como o de Lula é curioso. Há momentos em que a internet vai para o espaço e as emissoras de rádio desaparecem com zumbidos e estalos insuportáveis. O interessante é ouvir muitos programas diferentes, na medida em que passamos pelo raio de ação das emissoras. Não é a mesma coisa que a Coreia do Norte, onde aquela mulher com trajes típicos anuncia os foguetes de Kim Jong-un. A cobertura é bem descontraída, até um pouco vaga. Num dos programas, o comentarista reclamava: o juiz está chamando cozinha de kitchen, usando a palavra em inglês.
Imediatamente, alguém vem em socorro e explica que Kitchen é marca da cozinha, a mesma comprada para o tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, ambos atribuídos a Lula. Em seguida, começam as projeções. Alguns calculam que os recursos vão demorar tanto que Lula poderá ser presidente antes de todos serem julgados.
Isso não confere com minha visão. Mas o que fazer? Havia também uma grande excitação sobre o resultado, algo que para mim era previsível, tanto que já tinha escrito sobre essa novela e esperava o seu fim para que se possa discutir o que importa: a reconstrução do país.
O que senti ao longo do caminho, ouvindo fragmentos de debates, foi uma sensação de, para muitos comentaristas, a novela não pode acabar nunca. Os recursos, restam os recursos. Cada recurso será um capítulo à parte da novela e assim, segundo eles, vamos ter confusão até o fim da campanha de 2018.
Tinha de escrever dois artigos à noite. Fiquei temeroso: será que minha visão não é simples demais? Esperava esse resultado, achava-o um desfecho previsível apesar de toda a marola do PT. Já tinha a experiência do depoimento de Lula em Curitiba. Tudo normal.
Num tema tão emocionalmente carregado como esse, era natural que a fronteira do delírio fosse muitas vezes transposta. Gleise Hoffman, por exemplo, teve visões. Conseguiu achar um cartaz pro Lula na torcida do Bayern. Na verdade, era um cartaz escrito Forza Luca, um torcedor que está internado. O deputado cearense José Guimarães viu ônibus levando apoiadores de Lula da fronteira, mas eram apenas ônibus transportando sacoleiros.
Mas os comentaristas não estão livres de alucinações. Uma delas é imaginar um presidente dirigindo o país da cadeia.
No fim da tarde, a maneira como descreviam o resultado de 3 a 0 me desconcertava. Como escrever artigos daqui a pouco? Entendi que Lula foi condenado por unanimidade. Ouvi, e nesse momento o som do rádio estava audível, que ele deve cumprir a pena na prisão.
Como interpretar frases como essa: com essa condenação o destino eleitoral de Lula ficou incerto? Para um viajante na estrada, com pouca conexão, a tendência é achar que uma pessoa condenada a 12 anos de cadeia tem um destino muito mais definido do que a maioria dos mortais que circula em liberdade.
Para mim, a leitura de uma condenação unânime e a conclusão de que a pena deve ser cumprida em regime fechado é o dado essencial. Os comentaristas davam uma volta nele, como se não existisse. Só tratavam da eleição de Lula e, com alguma volúpia, das confusões jurídicas que projetavam para o futuro.
Na estrada concluí que havia uma diferença de enfoque. Todos estavam concentrados na eleição de Lula. Mas o que está em jogo a curtíssimo prazo é a liberdade de Lula. Para que Lula continue representando o candidato que vai salvar o Brasil, é preciso que alguém o liberte. Nesse caso, as esperanças vão se voltar para o Supremo, mais especificamente Gilmar Mendes. Aí, sim, talvez tenha alguma emoção no futuro. O Supremo teria de mudar seu próprio entendimento para que Lula não fosse preso, após o julgamento em segunda instância.
Se isso acontecer, será a revelação final de como a instituição faz parte do sistema político e apodreceu velozmente com ele. A ideia de que a lei vale para todos vai ser contestada de uma forma pedagógica.
O Supremo teria de rever às pressas sua decisão, contrariar abertamente a sentença explícita do TR4. E afirmar que Lula não pode ser preso, exceto quando se esgotarem todos os recursos, inclusive no próprio Supremo. Vejo um cenário desse tipo com certa frieza. Afinal, como dizia Guimarães Rosa, o que tem de ser tem muita força. Alguns ministros, como Marco Aurélio Mello, já declaram que a prisão de Lula vai incendiar o país. Vai ficar mais claro ainda o papel do Supremo na degradação nacional e sua cumplicidade objetiva com a corrupção dos políticos.
Há sempre um incêndio no futuro. Na semana passada, era o resultado do júri. Agora, suas consequências. Muitas ameaças não cumpridas acabam sendo a única uma forma de argumentar. E ela fracassa quando se perde o medo de viver numa sociedade em que todos pagam pelos seus crimes.
Em vez de inventar uma saída para Lula, um Supremo com um mínimo de vergonha na cara deveria estar fechando a dos outros políticos, protegidos pelo foro privilegiado.

Artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 28/01/2018.

Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A morte é um dia que vale a pena viver!



Neste meu aniversário ganhei, de uma pessoa muito querida, o livro da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes - A morte é um dia que vale a pena viver.
Um livro que devorei em poucas horas, por toda a sabedoria, lucidez, clareza e dignidade com que a Dra. Ana trata o tema.
Tão empolgado fiquei que fui pesquisar sobre a autora e encontrei este vídeo em que ela faz uma palestra sobre o tema. Compartilho com os amigos, salientando que ele trará muita lucidez para cada um de vocês em algum momento pessoal em que a luz parecerá não mais existir.

ps: Se interessar pelo livro fica a dica. Amazon.

 

Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Gisberta!


Misturando política, história, música, teatro, poesia e ficção, a montagem idealizada por Lus Lubianco coloca sob os holofotes questões como identidade de gênero e respeito às diferenças, sempre pertinentes. No espetáculo, que busca tornar conhecida a história de Gisberta no Brasil, o ator dá vida a vários personagens, sendo acompanhado por três músicos em cena e, de maneira delicada, transita entre o humor e o drama.
Depois de 25 anos em Portugal [Porto], vivendo já em condições de indigência, Gisberta estava à margem da sociedade, estigmatizada pro múltiplos fatores: transexualidade, prostituição, drogas, AIDS, imigração ilegal. A sua história, atravessada pela transfobia, marcou a sociedade portuguesa e levou a um aprofundamento dos debates sobre discriminação e direitos humanos no país, com impactos positivos nas leis de igualdade de gênero e também na abordagem de tema pelos meios de comunicação.
Um espetáculo ímpar, com roteiro, direção, produção, elenco, cenografia, iluminação impecáveis, colocando-o à par de sua simplicidade, dentre os melhores que já assisti.
Em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil em Belo Horizonte [CCBB - Circuito Cultural Liberdade] até o dia 05 de fevereiro. Imperdível.

 


Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Porque!





Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo. 
Porque os outros são hábeis mas tu não. 
Porque os outros vão à sombra dos abrigos 
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não. 

Sophia de Mello Breyner Andresen

E que venha o 2018 com dias melhores, pessoas melhores, mundo melhor.

Bratz Elian 
enfim! é o que tem pra hoje ...

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