domingo, 31 de agosto de 2008

Forró na Fazenda (fragmento)


"O forró lá na fazenda
vai até as altas horas
Invadindo a moenda
Sacudindo as senhoras!

Até o galo vem dançar
co'a galinha carijó
Esta a cacarejar...
dá um nó em seu gogó!

A égua e o cavalo
gostam de se esfregar
E no meio do embalo
já começam a namorar!

....

Se você quer ser feliz
seja simples por favor
Ouve a vida que lhe diz...

"Só cultive o amor"!"

Sônia Maria Cidreira de Farias . imagem João Werner


São João na Roça.m...

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 30 de agosto de 2008

Máscara da Velhice



Pouca gente se dá conta
mas estamos preparando
sem pensar e aos poucos
sem saber e sempre
a nossa máscara da velhice.
Estamos durante a vida,
desde meninos,
esculpindo talhe a talhe,
a forma da escultura
na qual teremos resultado.
Estamos preparando o vernissage do nosso rosto definitivo.
Seremos, no desfecho,
a cara com as linhas da coroa
e vice-versa.
Nosso avesso lá estará:
no hidrográfico bordado dos rios do riso
e dos rios do sofrimento.
Estamos, em nosso caderno de rosto,
grafitando nosso mapa.

Elisa Lucinda

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Receita


Ingredientes:

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos Beatles

Modo de preparar:
dissolva os sonhos eróticos nos dois litros de sangue fervido e deixe gelar seu coração . leve a mistura ao fogo adicionando dois conflitos de gerações às esperanças perdidas . corte tudo em pedacinhos e repita com as canções dos Beatles o mesmo processo usado com os sonhos eróticos . mas desta vez deixe ferver um pouco mais e mexa até dissolver . parte do sangue pode ser substituído por suco de groselha . mas os resultados não serão os mesmos . sirva o poema simples ou com ilusões

Nicolas Behr



Lucy in the Sky Wi...

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ser





O milagre possível . onde cuidar da memória é um passo . amplo . tão perto e tão longe . excessivo como a síria . água sustentável . como paris . romântica ponte do abraço virtuoso . quente e branco .
não ser inocência nem passado revisitado . ideia dissidente . como árvore amazônica . resistente e pluvioso olhar sobre a tua madrugada . babélico andamento vário e tantas vezes ausente__________e digo deste primitivo desvelo__________desvio nebuloso que à sombra da vida dá à pele a caligrafia da morte .
impossível milagre________o do trágico amor.
(Paris, Síria, Amazônia)
Isabel Mendes Ferreira
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Esculpir



esculpir o corpo . o pão . em seara e musas . como se fora um fio . temporário . sereno e contemplativo . na ordem da inteligência e na urgência de um desejo . segredo sagrado . subir todos os degraus . catedral em escarpa . ser . te demanda das imagens mais claras no meio da floresta e trigo e chão e mancha e céu . evidente intensa e confessional . esculpir.te o tempo ao contrário . abstracto e mimético . paixão intacta . fora das ideias... levedar.te todos os gestos . incompreender os sinais . re.criar.te . como fio . como taça . como pão . milagre maior . de resistir . à fome . lâmina . seda . sede . sede de voar . ser-te foz .
Isabel Mendes Ferreira

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ser Poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca


Nature Boy - Leila Maria

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

As Minas Gerais . suas cores . seus sons . suas emoções


Os sons que vem de Minas

Afinal, o que há na música de mais sublime para enlevar o coração da gente? O que há escondido nela a comunicar com as nossas paixões, angústias, medos, ressentimentos, procuras, encontros e desencontros? O que há nos sons e nas palavras que a faz vincular-se ao espírito humano? Diria alguém que isto vem desde a criação do mundo! Deus criou o mundo como se compusesse uma sinfonia!
Os estudos sobre a história da música apontam que os chineses e ou hindus foram os primeiros povos que a viu surgindo por volta de 2000 anos a.C. Acredita-se, ainda que foram os egípcios que a popularizou no meio rural à beira do rio Nilo em rituais de oferendas aos deuses. Os gregos (Ah! sempre eles!) narram através da mitologia que Apolo tornou-se o deus da música porque teria vencido Pã em um torneio musical e levava a vida a tocar sua lira, conduzindo a musas! Daí, a origem da palavra música: do grego, mousikós - "musical", "relativo às musas". De lá até os tempos atuais, a música veio trazendo o amálgama da humanidade e enraizou-se neste país transmutando-se mais e mais.
E assim, o homem foi construindo a história da humanidade e a música foi passando junto com as civilizações até que, às vésperas dos grandes descobrimentos, ela já havia se tornado uma manifestação cultural urbana. Nessa época, a música além de ter funções ritualísticas e religiosas, era utilizada pelos trovadores como forma de levar e trazer notícias, no lazer através das danças, folguedos e peças teatrais e ainda enquanto se executava funções como lavar roupa, ninar, capinar, remar, etc. E foi assim que ela veio dar aqui no Brasil para se juntar ao som produzido pelos nativos.
O primeiro registro histórico encontra-se expresso na carta de Pero Vaz de Caminha: “Diogo Dias, que é homem gracioso e de prazer, levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles (os indígenas) a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam, e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras e salto real, de que eles se espantavam e riam e folgavam muito.” O surgimento da música brasileira, a partir de então, deu-se com a contribuição dos indígenas, dos colonizadores e dos negros, sendo este último o que mais forte caráter imprimiu na formação do perfil cultural brasileiro.
O processo de colonização viria prender a música brasileira à matriz européia durante muito tempo até que as novas expressões populares nascidas da miscelânea étnica faria com que a música brasileira se tornasse uma das mais expressivas da América. A partir daí, mais do que uma simples manifestação artística dentre tantas outras, a música popular brasileira veio forjando de maneira acelerada a cultura e o pensamento nacional.
Se no último século ela desabrochou, espalhando sementes no imaginário da gente brasileira, em Minas estes elementos foram-se fundido em sementes, misturando-se ritmos e harmonias, dando origem a uma música “sui generis”: a música de Minas, a desabrochar-se em flor petalada de multicores, fluindo em muitas ramagens pelos vales, campos, montanhas, veredas e espaços, a reluzir estrelas de várias pontas.
De onde vem essa infinidades de tendências da música de Minas? Decerto, essa reunião de tendências surgiu com o batuque vindo da África, célula-mãe da manifestação musical popular mais importante do país e dele surgiram ramos, afluentes, tendências que se espalharam por todo o território. Em Minas, o ambiente urbano da mineração juntou-se com os ritmos rurais vindo da Bahia, adicionadas às influências européias, forjando a base do surgimento do samba na Bahia e Rio de Janeiro. No fim do século XVIII e começo do século XIX, floresceu nas cidades mineiras uma geração de compositores que criaram uma música contemporânea da arte do Aleijadinho e da poesia dos inconfidentes. A música Barroca de Minas.
Os olhares desconfiados, os “causos” retratando o singelo das coisas corriqueiras, as lendas, o folclore e os sons das serenatas do interior de Minas, o som dos carros de bois pelas estradas empoeiradas de terra vermelha, as vielas, o dedo de prosa pelas janelas das vizinhanças, a cantiga das Folias de Reis e de Nossa Senhora do Rosário e os diferentes sotaques do mundo, moldaram uma música única. Música esta que se reuniu com outras tendências, outros ritmos vindo do jazz, dos Beatles, sintetizando-se com outros elementos da música popular brasileira resultando na música sem rótulos do Clube da Esquina, que por sua vez influenciou novas gerações que ampliaram vertentes vanguardistas que vão do som percussivo do Uakti ao pop-rock do Skank e Jota Quest, passando pela música de raiz e expressões dialéticas do Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas e da Gerais “preta e barranqueira” emoldurada pelas carrancas que singraram o Velho Chico e pelo sul-mineiro impregnado com o sotaque paulista.
"A música de Minas evoca todas as formas de sentimentos da alma. Os sons que vem de Minas são melhores para contar a sua própria história. Alguém já disse que o tempo passa mais devagar em Minas."



PS: Recebi este texto por e-mail sem qualquer crédito de autoria ou site de publicação. Todavia, hoje, 23 de novembro de 2010, recebi um comentário de TADEU OLIVEIRA reivindicando a devida autoria, bem como, o site onde ele publicou a artigo. Faço publicar aqui o comentário do autor, bem como, anexo os devidos créditos juntamente com meu pedido de desculpas, pois, no mínimo deveria ter feito o registro de meu desconhecimento sobre a autoria e da forma pela qual ele chegou às minhas mãos. 


Texto de Tadeu Oliveira . Publicado em Canta Minas


Milton Nascimento ...


Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

domingo, 24 de agosto de 2008

Instantes


Apaixono-me por frações de momentos
e não pela repetição deles.
Porque a continuidade é rotina
e o hábito não tem brilho algum.
E esses fragmentos às vezes desconexos
é que me fazem feliz.
São minha melhor memória.
Um quebra-cabeça encantado
que vou juntando somente os pedaços que me agradam.
E não repito peças!
Porque os momentos nunca são iguais.

Marco Antonyo

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 23 de agosto de 2008

Ade


Criei minha ilusão para suportar a realidade
Dispensei o verbo tempo para não me importar com a idade
Inventei um universo para encobrir um mundo de calamidade
Descobri novos amores para enfrentar a inimizade
Valorizei as diferenças para superar a desigualdade
Aprendi a abraçar para suportar a animosidade
Dormi um pouco mais para me esquecer da crueldade.

Marco Antonyo
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Santo e Demônio


Você é tão santinho e eu tão endiabrado. É dever dos santos andar ao lado dos perdidos para mostra-lhes o caminho. Porque dizem que só o amor purifica das maldades. Eu sou tão sujo que você poderia fazer amor comigo essa noite para me purificar. Faz amor comigo e encubra meus pecados!

Marco Antonyo

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Como sou


"Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania.
Depende de quando e como você me vê passar."

Clarice Lispector


Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Eu não vou reclamar


Eu, não vou reclamar da vida
se sinto tristeza, dor, perdas.

Choro.
Eu, não vou reclamar
das voltas, do tempo perdido, dos desencontros.

Aceito.
Eu, não vou
desesperar-me, negativar-me, destruir-me, perder-me.

Reajo.
Eu, não sei o que virá pela frente, que trilhas irei desbravar, o tempo em que ampulheta vira.

Torço.
Eu, choro, aceito, reajo, torço.


Paulo Bergsten Mendes
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sempre em frente


Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo…
Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder…
Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E Selvagem!
Selvagem! Selvagem!…
Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos…
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo…
Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens…
Tão Jovens! Tão Jovens!…

Tempo Perdido, Legião Urbana
Composição: Renato Russo


Legião Urbana - Te...

Paulo Braccini
enfim é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sobre borboletas


A BORBOLETA simboliza a alma, o renascimento e a imortalidade.
A metamorfose de seu ovo para lagarta e depois para crisálida e borboleta indica as etapas da alma para a iluminação.
No Japão, a borboleta está associada à mulher. Duas borboletas significam felicidade a dois.
Uma crença popular da Antiguidade greco-romana dava à alma que deixa o corpo, a forma de uma borboleta.
Nos afrescos de Pompéia, Psique é representada como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta. Entre os astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da boca agonizante.
Uma borboleta brincando entre flores representa a alma de um guerreiro caído nos campos de batalha. Os guerreiros mortos acompanhavam o Sol até o meio-dia; em seguida, eles desciam de volta a terra sob a forma de borboletas.
No mundo sino-vietnamita, a borboleta simboliza a longevidade e também o outono.
Um outro simbolismo da borboleta é baseado na sua metamorfose e vontade de mudança: o casulo é o ovo que contém a potencialidade do ser; sair do ovo é como renascer para a vida.

A MUDANÇA… O poder da borboleta é como o ar, é a habilidade de conhecer a mente e de mudá-la, é a arte da transformação… A gente deve observar a nossa posição na vida e, como a borboleta, nós sempre estamos em algum estágio:

Primeiro estágio - é onde a idéia nasce, mas ainda não é uma realidade, é o estágio do ovo, o ponto de criação de uma idéia.

Segundo estágio – da larva, onde temos que tomar uma decisão.

Terceiro estágio – do casulo, é o desenvolvimento do projeto, é fazer para realizar.

Estágio final – é o da transformação, é deixar o casulo e voar, é a realização! Percebendo onde estamos, podemos continuar. Use o ar e os poderes mentais. Tenha clareza mental e procure organizar um projeto, assim, você subirá o próximo degrau de sua vida!

A principal mensagem é:“Criar, transformar, mudar e ter coragem para aceitar!”


Do blog "eu não uso relógio" . Érica Franzon
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

domingo, 17 de agosto de 2008

Venta! (*)


Após a ventania vem a calmaria e com ela surgem, afinal, as borboletas recém-nascidas.

(*) “Coisas-ditas-e-ouvidas-que-jamais-serão-esquecidas”
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 16 de agosto de 2008

Carpe Diem


A vida é curta; abrevia as remotas expectativas. Mesmo enquanto falamos, o tempo, malvado, nos escapa. Aproveita o dia, e não te fies tanto no amanhã.

Horácio, Odes
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A vida


A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida para frente.

Diários, Kierkegaard
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje..

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

É Somente


É somente pondo em risco a vida que se conserva a liberdade.

Hegel
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Amigo


li não sei onde . li não sei de quem é . li achei lindo . li copiei .
li compartilhei com os amigos

"... Amigo não é gente,
Amigo é anjo.
Que te fala as verdades
mas ouve as suas razões ...
que te quebra as pernas mas
te segura no colo ...
Amigo é luz no escuro,
é sol no inverno,
é chuva na sêca,
é perdão no erro ...
Amigo é aquele que sempre
tem a palavra certa ...
não importa se é aquela que você quer ouvir,
mas com certeza
é aquela que voce precisa ouvir ...
Que respeita as diferenças ...
Que não olha a tua cor, nem a tua beleza ...
Que te aceita como é,
e nunca pergunta por que é ...
... Amigo não precisa ser certinho,
bastando apenas que
tenha carinho na medida certa,
não demais porque sufoca,
nem de menos, porque faz falta ...
A única coisa que se espera de um amigo,
é que ele esteja ali,
na hora de enxugar um lágrima,
na hora de ouvir calado,
na hora de concordar e discordar com sinceridade,
e com a sensibilidade à flor da pele.
Se possível, de braços permanentemente abertos
pra te abraçar depois de uma longa ausência,
ou depois de uma longa espera ...
entender seu afastamento, se ele houver,
sem questionar ...
apenas estando ali,
ajudando a colar os cacos ...
juntando tudo de novo
enquanto canta a canção que voce gosta ..."




Como é grande o me...

Paulo Braccini
enfim é o que tem pra hoje...



terça-feira, 12 de agosto de 2008

Estrela Perigosa


Rosto ao vento.
Marulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis.
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho.
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir.
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.
No obscuro erotismo de vida cheia
nodosas raízes.
Missa negra,
feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:
excruciante.
Que medo alegre, o de te esperar.

Clarice Lispector


lui coimbra-astrologia.mp3 -

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Não


"olhando o quarto, entre os cabelos caídos sobre o rosto, ela procura os comprimidos. pelas gavetas. nos armários. descalça, pés pretos, ela agora desobedece. contraria a infância higienizada e protegida. a meninice desinfetada. de chãos limpos. pisos brilhantes. cheiro de pinho. a vida de regras. de pode-não-pode. de coisas proibidas. a vida de nãos. não solte as tranças. não fale com estranhos. fique longe das tomadas. não deixe comida no prato. não suje o vestido. não fale palavrão. não caia do balanço. não ouça música alta. leia apenas os clássicos. não bata no seu irmão. só coma coisas verdes. não trepe sem casamento. não use drogas. não responda seus pais. respeite seus professores. não beba gelado. não saia sem blusa. não tome o sol do meio-dia. faça o dever de casa. não grite com sua mãe. não coma porcarias. cumprimente seus tios. não ponha a mão na boca. não aceite carona. esqueça que há vida de madrugada. não mostre a língua. não deixe a camisinha. não fale de boca cheia. não durma até tarde. não aponte. não chore. não tome remédios sem receita. não mais que um comprimido. não mais que dois. três. quatro. não mais que dez. não vomite sobre o tapete. não morra. idiota, não morra."

Eduardo Baszczyn
n
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

domingo, 10 de agosto de 2008

Rascunhos


Desenhei palavras vazias. Corri três rascunhos, parei ofegante. Revisei imaginação, aparei as pontas dos dedos, fiquei tentado encontrar uma maneira de emendar poemas. Tomei estrada, dirigi textos sem rumo, além do horizonte de dentro de mim. Apertei acelerador das mãos, atropelei uma saudade que atravessava a rua. Passei para visitar um rascunho antigo, a casa tava imunda. Notei um poema semeando na mão direita, animei a esquerda, curvei as costas dos braços, puxei o teclado tentando fazer germinar. Rabisquei um grito, confundi o inicio, briguei com a segunda estrofe, apanhei de uma antítese, sai para procurar uma analogia melhor. Irritado, memorizei a origem da inspiração para saber exatamente onde não voltar a consultar. Tentei hidratar algumas idéias secas guardadas na gaveta, procurei por palavras potáveis. Caminhei em círculos por versos, fiquei tonto, mas não parei. Senti fome, fritei alguns pastéis em Mario Quintana. Falei a um amigo sobre aquela questão emendar poemas, ele sorriu e mudou de prosa - notei algumas ameaças metafóricas cintilando no enredo da conversa dele, mas não acho que ele tenha percebido.Voltei para as palavras vazias. Reli o esboço, inverti o inicio, assassinei dois pensamentos covardes, motivei paradoxos, entortei as linhas, escorreguei na terceira estrofe, colidi na conclusão, bruscamente. Quase um acidente fatal. Fui sentindo uma certa falta de organização, desordem de idéias, mudança de ritmo. Uma bagunça.
Comecei a gostar ...
Fernando Palma
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 9 de agosto de 2008

O Órfão


Quando escrevo
nunca sei onde chegar.
Percebo o ponto
ao ultrapassá-lo.
O excesso me equilibra.
Reflito-me nos
espaços vazios
entre os poemas.
Nunca nos versos.
Invejo a ausência,
somente o vazio não tem um dono.
O resto é criação de alguém.
Incansável,
procuro pelas palavras
que me inventaram.
Sou órfão de letras.
Desconfio da expressão correta,
do poema exato.
A escrita engana,
inexiste palavra verdadeira.
Como encontrar uma copia fiel?
Como imitar com perfeição?
Tudo que escrevemos e falamosé imitação.
Só o silêncio é original
Fernando Palma
Paulo Braccini
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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

hell





"O Caminho do Excesso conduz ao Palácio da Sabedoria. A prudência é uma velha donzela cortejada pela Incapacidade. Quem deseja, mas não age, gera a pestilência."

William Blake, in: “Provérbios do Inferno”

Post do Blog Uomini
este blog é fantástico . visite-o
Paulo Braccini
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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

To be a gay


Perfeito este posicionamento ... gostei tanto que “roubei” e partilho com os amigos deste blog:

Discutindo sobre os rumos da nossa “gay life style”: Deveríamos criar um modelo de vida gay a ser seguido? Defender um gay que fique bem num comercial de margarina? Banir determinados comportamentos da cultura gay? Sair do gueto e ocupar um lugar na sociedade a qualquer custo? Que tal casar com um rapaz apresentável, ter uma relação monogâmica, manter um comportamento masculino e, para não chocar as outras pessoas, não demonstrar afeto em público? Isso me lembra o casal vivido pelo Carlos Casagrande e o Sérgio Abreu na novela do Gilberto Braga... Particularmente não acredito que um modelo específico de vida homossexual possa ser eleito como “certo” e definido como passaporte para a nossa aceitação social. A luta por uma real inserção dos homossexuais na vida social e pela isonomia de direitos deve ser irrestrita. Deve abranger os (as) homossexuais monogâmicos, os que preferem ter inúmeros parceiros, os masculinos, os afeminados, os travestis, os rebeldes, os *bem comportados*, os profissionais do sexo, os *casadoiros*, os adolescentes, os idosos, os que ouvem rock, os que dançam ao som de música eletrônica, os que assistem DVD em casa... Assumir-me gay é aceitar todas as variantes do termo, ainda que o meu comportamento seja inevitavelmente específico. Enfim, a causa gay deve tender à universalidade. Deve incluir todos os modelos. Aceitar uma inclusão parcial dos gays na sociedade seria um grande equívoco.

Post do Blog Uomini
Paulo Braccini
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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

À frente de si mesmo


Ser moderno significa estar sempre à frente de si mesmo, num estado de constante transgressão.

Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida.
Paulo Braccini
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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Espírito e Sabedoria


Que é que tenho de fazer e que ninguém mais no mundo pode fazer em meu lugar?

Constantin Noica, As seis doenças do espírito contemporâneo.

Sempre há tempo para proferir uma palavra, mas nunca para retirá-la.

Baltasar Gracián, A arte da sabedoria mundana.

A língua é um animal selvagem, e, uma vez solta, é difícil devolvê-la à jaula.

Baltasar Gracián, A arte da sabedoria mundana.


Certas alegrias só os poetas podem dar a si mesmos.


Fausto Wolf, A milésima segunda noite.
Paulo Braccini
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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Tarde


"Tarde como prenúncio de noite, sempre se revestirá de sombras; sombras que nos tocam com seu manto envolvente e nos acuam; acuam pela introspecção a que as sombras nos levam; introspecção que nos atira ao abismo dos mais profundos sentimentos; sentimentos que nos inquietam; inquietação fruto de nossa mais profunda insegurança; insegurança que será vencida pela força do amor; amor, o maior de todos os sentimentos, que nos cobra atitudes e que muito precisa de quietude na alma."


concierto de aranjuez de joaquim rodrigo - alexandre lagoya



Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

domingo, 3 de agosto de 2008

Truculência



Nossa truculência
Quando penso na alegria voraz
com que comemos galinha molho pardo,
dou-me conta de nossa truculência.
Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
tanto gosto delas vivas
mexendo o pescoço feio
e procurando minhocas.
Deveríamos não comê-las e a seu sangue?
Nunca.
Nós somos canibais,
é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
comeríamos gente com seu sangue.
Minha falta de coragem de matar uma galinha
e no entanto comê-la morta
me confunde, espanta-me,
mas aceito.
A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue e com sangue corta-se a união
que é cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também
.

Clarice Lispector . a palavra . a tela
crônica versificada por Pe. Antônio Damázio


Diário - Ney Matogrosso

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 2 de agosto de 2008

Solidão


Sozinho
a mesa posta e o vinho
as flores vesgas de mirar a janela.
Sozinho com minha esperança
de que o mundo vire e o mar recolha suas águas
algum milagre pequeno
que desperte o que não passa,
não passou.
Só tristeza,
o cristal marcado,
a boca de ninguém.
Solidão.

Saramar
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Dúvida


Só tenho certeza da persistência da dúvida!
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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