domingo, 27 de fevereiro de 2022

Corpos com Vagina!

 


"Corpos com vaginas" é termo que apenas boçais seriam capazes de criar
"A revista “Lancet”, respeitadíssima publicação médica, pôs a expressão na sua capa e recebeu cartas furiosas dos leitores. “Corpos com vaginas”, segundo parece, é uma forma de não discriminar as mulheres trans que se sentem mulheres apesar de não terem a clássica genitália feminina.
Antes de analisar o caso propriamente dito, confesso certo desconforto com a expressão. E imagino, em jantares ou encontros sociais, o embaraço que vou sentir se a palavra “mulher” for substituída por “corpo com vagina”.
Eu: “Boa noite. Deixe-me apresentar C., o meu corpo com vagina".
Anfitrião: “Muito prazer, C. O seu corpo com testículos já tinha me falado de você”.
O problema é que ninguém usa a expressão “corpo com testículos”, certo? A revista Economist, que dedica um editorial ao tema, começa por sublinhar essa sutil misoginia. Na limpeza linguística em curso, “homem” continua no lugar, apesar de existirem homens trans que, apesar da ausência de testículos, se sentem homens na mesma.
Só a palavra “mulher” tem sido alterada por variantes meramente biológicas, como “pessoas que menstruam”. Imagino que o correspondente masculino seria “pessoas que urinam de pé”, embora seja possível imaginar que homens também o possam fazer sentados.
Ponto prévio —minha indiferença liberal se estende a questões de gênero. Se um homem, biologicamente falando, se identifica como mulher, ou vice-versa, viver e deixar viver continua sendo o meu lema.
Mais. Se um vizinho meu, “corpo com testículos”, me informasse que gostaria de ser tratado por “senhorita”, não haveria hesitação ou drama. Ao contrário do que pensam os histéricos das guerras culturais, a fluidez de género sempre fez parte da experiência histórica registrada —dos antigos romanos à belle époque, do Renascimento aos romances de Evelyn Waugh.
E não estou falando de casos de disforia de gênero, que muitas vezes implicam terapia hormonal e cirurgia de reatribuição de sexo. Não. Estou falando de fluidez mesmo, sem precisarmos entrar no bloco cirúrgico.
Acontece que a censura de certas palavras, começando pela palavra “mulher” e a substituição por “corpos com vaginas”, constitui uma regressão quase neolítica do estatuto das próprias mulheres.
Durante séculos, os movimentos de emancipação feminina —e os movimentos feministas; não são a mesma coisa— tiveram como objetivo elevar a mulher acima da sua condição biológica, ou seja, acima da sua função sexual e reprodutiva.
Os homens “objetificavam” as mulheres, reduzindo-as a meros “corpos com vaginas” —para gratificação dos homens, claro. As principais conquistas sociais das mulheres fizeram-se contra esse reducionismo desumanizante, para o qual as mulheres não passavam de um pedaço de carne.
A ambição contemporânea de riscar a palavra “mulher”, regressando a uma estreita definição biológica —“corpos com vaginas”, “pessoas que menstruam”, talvez “criaturas com úteros”— é o tipo de definição que só os homens mais boçais seriam capazes de imaginar.
Aliás, se essa mudança de linguagem triunfar, já imagino os meus netos, na maior das inocências, comentando com os amigos quais são os corpos com vaginas que eles, homens com direito à palavra “homem”, gostariam de convidar para jantar."

João Pereira Coutinho

Bratz Elian
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domingo, 20 de fevereiro de 2022

O Direito de Dizer “Não”!


“Ainda não estamos maduros para essa questão aí”, tascou Bolsonaro, sobre o projeto da volta dos cassinos no Brasil, que deve ir à votação no Congresso. Me lembrei da dona Santinha, mulher do ex-presidente Dutra. Segundo consta, foi ela, muito carola, que assoprou no ouvido do marido, em 1946, que os cassinos tinham de fechar. “Manda fechar, Eurico, aquilo é só imundície.” Foi o que ele fez. Hoje, quem quer arriscar na roleta pode ir a Livramento e cruzar a fronteira com o Uruguai, onde o povo já amadureceu, ou jogar pela internet, ou ainda fazer uma fezinha no bicho, em algum ponto de Copacabana, onde ninguém incomoda ninguém com essa história de imaturidade.
Caso parecido é o do voto obrigatório. Tempos atrás li um ministro do STF dizendo que “ainda somos uma democracia jovem” e que falta não sei quanto tempo para dar ao nosso cidadão-adolescente a escolha de votar ou deixar de votar. Me surpreendi. De onde vem essa ideia? Já votamos vinte vezes desde a redemocratização, fizemos dois plebiscitos e vamos para nossa nona eleição presidencial. Vamos sair exatamente quando da puberdade política?
Meu caso preferido é o do FGTS. O governo diz: “Vocês têm de ter uma poupança forçada, caso percam o emprego”. E logo: “Mas quem vai administrar o dinheiro somos nós”. Dia desses fui ver o resultado. Alguém que colocou 250 reais por mês, no ano 2000, teria 76.000, pelo FGTS, no fim de 2016. Com a remuneração da Selic, em papéis que os bancos oferecem por aí, teria 166.000 reais. O governo tungou 90.000 da “poupança forçada” de nosso pacato cidadão. Mas tudo bem. Somos “hipossuficientes” para escolher, não é mesmo? Estes dias alguém me retrucou que não era bem assim, que a taxa de 3% tinha sido boa nestes dois últimos anos, quando os juros estavam perto de 2%. Legal, pensei. O trabalhador fica rezando para o juro cair. Se ficar abaixo de 3%, comemora assando umas costelas. Neste ano, com a Selic a mais de 10%, deu zebra. Melhor dobrar a reza para 2023.
A última onda do paternalismo nacional é “banir o Telegram”. “Se não fizer, vai ser um show de fake news” , leio em uma reportagem. Em outra, leio que o ministro Barroso vai conversar com seus colegas para ver o que fazer. Não acredito nisso. Fico imaginando a conversa: “Tem 50 milhões de brasileiros lá” , metade enganando, metade sendo enganada, temos de proteger essa gente toda”. Brasileiro é assim, não sabe distinguir entre o falso e o verdadeiro, não sabe quem está ameaçando a democracia, se há risco nas urnas eletrônicas, se a Terra é plana, se tem déficit na Previdência. Tem de controlar, não tem jeito. O mais curioso é a naturalidade com que se discute o assunto. “Tem de achar uma saída jurídica para banir isso, senão vão achar que foi censura política.” Foi a melhor que eu li.
Há quem diga que nossa tradição paternalista vem dos tempos da Colônia, do Estado que chegou antes da sociedade, neste imenso continente. Tradição que seguiu, na República dos coronéis, e logo em nossas duas grandes ditaduras, e impregnou nossas leis, nossa Constituição exaustiva, nossos hábitos políticos. Há quem debite tudo à desigualdade. À massa de despossuídos, que corre atrás da sobrevivência, que não faz lobby em Brasília, não tem tempo para abstrações em torno do “estado de direito” , nem força para dizer não a qualquer coisa que venha de cima. Não sei dar a resposta precisa a essa questão. O fato é que a liberdade, o rigor com os direitos individuais, o zelo pelo “contribuinte”, essa figura estranha, ficaram distantes da equação do poder.
A impagável Deirdre McCloskey culpa os economistas. Esses tipos “obcecados em oferecer conselhos utilitários, que em geral não dão a mínima para a liberdade”. No fundo é isso que há em comum nos exemplos que mencionamos. Tira a liberdade do sujeito decidir o que fazer com seu dinheiro que o país vai crescer mais rápido; tira a opção de usar esta ou aquela rede social que vai ser melhor para a democracia. A melhor: tira a liberdade de os pais escolherem a escola dos filhos que vai ser ótimo para a educação. Há algo muito errado aí. Governos deveriam focar em garantir o básico. Direitos fundamentais, incluindo acesso à educação, saúde, renda mínima, e o principal: a igualdade de todos diante da lei. Isso está inscrito desde muito em nosso contrato político.
O que não está é essa migração malandra do Estado de direito para o Estado Babá. A brutal diferença entre um governo que garante um vale-creche para uma mãe de menor renda escolher onde colocar o filho (como faz a dona da casa onde ela trabalha), e um governo que diz: “A creche que você vai colocar é na rua tal, número tal, e o que você acha ou deixa de achar não está em questão”.
Vai aí o abismo civilizacional brasileiro. Tem um país feito de gente que pode achar alguma coisa e no fim dizer “não”. Que vai ao mercado se defender da precariedade do Estado e seus serviços. E tem outro que não pode. Que vive numa pré-modernidade, numa cidadania pela metade, que gostamos de empurrar para baixo do tapete.
Por vezes isso adquire dimensão trágica. É o caso da Betina, lá de Cruz Alta, no meu Rio Grande do Sul. Betina começou a vomitar e passar mal no domingo depois do Natal. O Rodrigo e a Catiele, seus pais, levaram-na à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do SUS. Entre idas e vindas, só na quinta a Betina foi transferida para o hospital, o que não adiantou muita coisa. Ela precisava de diálise, precisava de uma cirurgia, era fim de ano, não havia profissionais lá para fazer isso. Betina ficou esperando numa cama, a infecção tomando conta, os pais em desespero. E ela indo embora desta vida, enroscada na burocracia do SUS. No sábado à tarde, enquanto o país comemorava o início do novo ano, Betina se foi. Ela só tinha 2 anos e 10 meses.
Se foi porque não tinha escolha. Era a UPA ou nada. Era o “sistema único” , que deveria ter evitado que ela se fosse, ou coisa nenhuma. Fosse filha de classe média, com um plano de saúde razoável, os pais tiravam de lá na segunda meia hora. Betina se foi porque nosso Estado faz-tudo não fez o mínimo que devia ter feito.
O fato é que fomos nos acostumando. Lemos as histórias tristes do SUS, da escola pública, os números do FGTS, a invasão de nossos direitos à expressão, e vamos dando de ombros. Em parte, porque nunca é bem com a gente; em parte, porque quem paga a maior parte da conta, em regra os mais pobres, não tem força para interferir no jogo. É assim que o fantasma de dona Santinha vai fazendo seu trabalho: a indiferença dos de cima, o silêncio dos de baixo.
O caminho para mudar essas coisas não é fácil, mas sua direção me parece bastante clara: colocar a liberdade individual no centro da equação política brasileira. Garantir às pessoas o direito mais elementar, negado ao Rodrigo e a Catiele, de dizer não. Ele é, no fundo, o melhor antídoto à prepotência do Estado. A melhor bússola para dizer a que distância andamos de uma boa sociedade liberal."

Fernando Schüler

Bratz Elian
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domingo, 13 de fevereiro de 2022

Os Idiotas da Modernidade!


Baita texto do Eduardo Affonso sobre a estúpida tentativa de reescrever até mesmo os contos de fadas, para adequá-los aos tempos politicamente corretos. Ou: quando os heróis anões foram estigmatizados pelos idiotas da modernidade.

“Para não estigmatizar ainda mais os anões, vão tirá-los da história da Branca de Neve. Pelo que li, serão substituídos por “seres mágicos”.
Adeus, Soneca, com quem eu tanto me identificava às 6 da manhã, quando minha mãe passava pelo quarto fazendo o arrastão da “hora de ir pra aula”.
Adeus, Dengoso, meu retrato fiel quando batiam as crises de asma, e eu podia ir mais cedo pra cama, sair mais tarde da cama, fazer corpo mole, gemer, suspirar, com o ar compungido das crianças que sofrem de mentira, e descobrem como os adultos são fáceis de se manipular.
Adeus, Feliz. Nunca te entendi direito, até o dia em que tomei uma caixa inteira de Melhoral Infantil e o mundo tornou-se cor-de-rosa – mesma cor das minhas bochechas afogueadas pela overdose de ácido acetilsalicílico. Minha primeira e única viagem de ácido, ali pelos cinco anos de idade. Houve outra, depois de mamar um frasco de Benadryl, no gargalo. Ah, os paraísos artificiais da infância...
Adeus, Atchim, amigo de fé, irmão camarada das rinites e bronquites. Parceiro na minha alergia a poeira e mofo e no consumo, em escala industrial, de descongestionante nasal.
Adeus, Mestre. Meu favorito, modelo (inatingível) de sabedoria.
Zangado, adeus. Como eu te entendia, eu que era sempre contrariado – não podia repetir sobremesa, não podia ver o que viria depois do anúncio dos Cobertores Parahyba, não podia ter gato nem cachorro em casa, não podia apoiar o cotovelo na mesa, não podia bater nos irmãos mais novos (e todos eram mais novos!).
Por fim, adeus Dunga-eu-mesmo, o que só queria ser criança, mas um pouquinho.
Talvez eu fosse pouco inteligente e, não sabendo o que eram arquétipos infantis, me visse em cada um, sem dar a mínima para o fato de estarem representados por adultos de baixa estatura.
Que as crianças do século 21 se divirtam com a Latina (não é mais Branca, para fugir ao racismo estrutural da sociedade) e seus sete seres mágicos (para não representar os portadores de nanismo de uma maneira retrógrada).”

João Luiz Mauad

Bratz Elian
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domingo, 6 de fevereiro de 2022

Sabedoria de Margareth Thatcher - A Dama de Ferro!


Queremos uma sociedade na qual somos livres para fazer escolhas, cometer erros, sermos generosos e compassivos. É o que queremos dizer com uma sociedade moral - não uma sociedade na qual o Estado é responsável por tudo, e ninguém é responsável pelo Estado.
Um dos grandes problemas da nossa era é que somos governados por pessoas que se preocupam mais com os sentimentos do que com os pensamentos e idéias.
O problema com o socialismo é que o dinheiro dos outros alguma hora acaba.
Em um sistema de comércio e mercados livres, os países pobres - e as pessoas pobres - não são pobres porque os outros são ricos. Na verdade, se os outros se tornassem menos ricos, os pobres provavelmente se tornariam ainda mais pobres.
Consenso: "O processo de abandonar todas as crenças, princípios, valores e políticas em busca de algo em que ninguém acredita, mas ao qual ninguém se opõe.
Tudo o que um político promete no horário eleitoral será pago por mais tributação ou novos empréstimos.
Todo regulamento representa uma restrição da liberdade, toda regulação tem um custo.
O estado de patronato é um estado arrogante. Ele assume que pode gastar seu dinheiro melhor do que você. No entanto, espera que você trabalhe para obtê-lo em primeiro lugar.
Ser livre é melhor do que não ser livre - sempre. Qualquer político que sugira o contrário deve ser tratado como suspeito.
Deixe-me dar-lhe a minha visão de liberdade: o direito de um homem trabalhar como quiser, de gastar o que ganha, de possuir propriedades, de ter o estado como servo e não como senhor. Estas são heranças britânicas. Elas são a essência de um país livre.
Alguns socialistas parecem acreditar que as pessoas deveriam ser números num computador estatal. Nós acreditamos que eles deveriam ser indivíduos. Somos todos desiguais. Ninguém, graças aos céus, é como qualquer outra pessoa, por mais que os socialistas possam fingir o contrário. Acreditamos que todos têm o direito de ser desiguais, mas para nós, todo ser humano é igualmente importante.
Nunca esqueçamos dessa verdade fundamental: o Estado não tem fonte de dinheiro além do dinheiro das pessoas. Se o Estado quer gastar mais, pode fazê-lo apenas tomando emprestadas as suas economias ou cobrando mais impostos de você. Não existe tal coisa como dinheiro público; existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos.
Nós não acreditamos que, se você reduzir o governo, você diminui sua autoridade. Pelo contrário, um governo que faz menos e, portanto, faz melhor, fortalece sua autoridade.
O individualismo sempre foi alvo de uma enorme quantidade de críticas. É amplamente assumido que seja sinônimo de egoísmo ... Mas a principal razão pela qual tantas pessoas no poder sempre desprezaram o individualismo é porque são os individualistas que estão mais dispostos a evitar o abuso da autoridade.
Seja fabricado por mãos pretas, brancas, castanhas ou amarelas, um produto continua a ser um produto - e será comprado em qualquer lugar se o preço e a qualidade estiverem de acordo. O mercado é uma força libertadora mais poderosa e mais confiável do que qualquer governo pode ser.
Ser democrático não é suficiente, a maioria não pode transformar o que está errado em certo. Para serem considerados verdadeiramente livres, os países também devem ter um profundo amor pela liberdade e um respeito permanente pelo estado de direito.
Não há nada mais estratégico para qualquer país que comida, mas nem por isso os governos devem sair por aí plantando batatas.

João Luiz Mauad

Bratz Elian
enfim! éo que tem pra hoje ...

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