terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lixo Extraordinário



A trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina localizado na periferia de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, até ser transformado em arte pelas mãos do artista plástico Vik Muniz e seguir para prestigiadas casas de leilões internacionais. Obras que, muitas vezes, retornam ao Rio para compor as paredes da alta sociedade carioca. 

Era janeiro de 2008 quando Sebastião Carlos dos Santos, presidente da Associação dos Catadores do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, conheceu o artista plástico Vik Muniz. 
A impressão não foi das melhores. "O Vik explicou que a obra dele era quadro e não era quadro, era foto e não era foto. Parecia que falava javanês", contou Tião, como é conhecido. 
Muniz chegara ao aterro --que recebe todo o lixo descartado na cidade do Rio de Janeiro-- com um objetivo triplo: montar uma série de quadros a partir dos dejetos, colocar os catadores para trabalhar no feitio dos quadros e, jogada de mestre, filmar tudo, para o documentário "Lixo Extraordinário", que estreia nesta sexta. 
O filme foi dirigido por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. Venceu como melhor documentário do Festival de Berlim, em 2010. 
Após dois meses retratando o aterro sanitário, Muniz contratou cerca de dez catadores para montar as imagens, num galpão em Parada de Lucas, subúrbio carioca. "Pagava R$ 75 por dia, igual ao que receberiam com o lixo", contou. O meio de campo era feito por Tião Santos. "Ele é o embaixador de Gramacho", explicou Muniz. 
Tião começou a frequentar o aterro na infância, quando o pai, estivador, teve o trabalho substituído pelo de guindastes que chegavam ao porto do Rio. "Minha família se viu obrigada a ir para o lixão, que era perto de casa", contou. Aos 8 anos, levava comida à mãe e dois irmãos, que trabalhavam no aterro. "Não me deixavam catar. Eu ficava brincado com os outros meninos", lembra. 

Maquiavélico 

Aos 18 anos, após um hiato de três anos distante, resolveu voltar a Gramacho, para trabalhar em uma cooperativa que recebia o material coletado. Nas noites de sábado, quando não estudava, ia para o aterro "dar um complemento na renda". 
Numa incursão noturna, encontrou "O Príncipe", de Maquiavel. "Eu conhecia a palavra 'maquiavélico'. Me deu uma neurose de ler aquilo. Levei pra casa, sequei atrás da geladeira e, partir daí, passei a pegar todo livro que encontrava." Já leu Schopenhauer e Nietzsche, que encontrou no lixo. 
Em 2007, dois anos após comandar um protesto contra a prefeitura, foi eleito presidente da Associação dos Catadores. "Logo depois, me ligaram para dizer que um artista brasileiro queria fazer um trabalho com a gente." 
Tião diz que, em princípio, não seria fotografado. "Meu trabalho era acompanhar o Vik no aterro, para apresentá-lo aos catadores." Isso até o dia em que Zumbi, seu amigo, surgiu do lixo, carregando uma banheira. "O Vik teve um estalo e disse, na hora: 'Vamos fazer o Tião de Marat? Ele morreu no banho'." Após ouvir que Jean-Paul Marat (1743-1793) havia sido um dos líderes da Revolução Francesa, Tião sentenciou: "Combina comigo". 
O quadro foi vendido em 2009, num leilão da Phillips de Pury, em Londres, por 28 mil libras (R$ 74 mil). O dinheiro foi revertido para a Associação. Tião diz que, mais do que o dinheiro, o retorno profissional foi positivo. "Hoje vou receber a visita de 21 alunos de uma universidade de Nova York que viram o documentário. Daqui a três dias, tenho um encontro no BNDES, para falar sobre o futuro do aterro, que deve ser desativado em 2012." 
Conta que a amizade com Vik Muniz permanece: "Outro dia a gente se encontrou, no aniversário da filha dele. Às vezes, fico pensando quando vai dar meia-noite, e a carruagem vai voltar a ser abóbora. Mas não dá. Já faz três anos que esse meu conto de fadas não termina". 

Assista ao trailer:


fonte: UolMais


Paulo Braccini
enfim! é o que tem pra hoje...

25 comentários:

  1. Onde muitos enxergam lixo, outros enxergam sua fonte de sustento, outros oportunidades e um artista... Enxerga a mais pura arte. Muito interessante.

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  2. isso é uma prova que a vida é mesmo cíclica!

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  3. Para você que não vê novelas da Globo (olha o veneno, rs), Vik Muniz, autodenominado "filho da cultura de massa", é o autor da obra feita especialmente para abertura da última novela da oito/nove, "Passione".
    Aliás, espetacular.

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  4. E que conto de fadas hein... adorei! Bela estória :)

    *DB*

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  5. Cara, vai entrar na lista de filmes pr'eu assistir, certeza.
    Já não dizem por aí que lixo é luxo? Então, além de ajudar o plano reciclando esses matérias ainda é bonito de ver. : )
    Esse cara arassou.

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  6. Legal, pena que detesto o trabalho do Vik Muniz (a exposição que fui dele fo brochante, só valeu a pena porque no segundo andar tinha uma exposição IN CRÍ VEL de fotografias de naturezas mortas.

    Que bom que o trabalho dele está tendo bons desdobramentos

    abs

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  7. nossa, q historia!!!
    nao sabia desse documentario, mas ja tinha lido sobre o trabalho do Vik!

    bjs do voy

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  8. Muito legal essa interação lixo - pintura - cinema. Fica uma mistura de arte e denuncia ... legal é que a a arte pode ver poesia em tudo;

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  9. Ser artista é ver arte onde poucos enxergam .
    Mas o poder da arte e do artista vai muito além do simples ato de ver e de enxergar algo oculto, como neste caso, ele resgata a dignidade através dela.
    Transformando os residuos desprezados por alguns em meio de vida para outros!
    Mas muito mais do que achar o alimento básico para o corpo destas pessoas, ele alimenta a alma delas com a alegria e o entusiasmo de viver com dignidade e bem mais perto do que deveria ser a realidade humana!
    Salve todas as pessoas que vivem dos lixões e parabéns ao artista Vik Muniz!

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  10. WOW! Não sabia disso tudo... com certeza vou conferir esse trabalho aêê! Bjz, queridão!

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  11. O lixo, as vezes é um luxo. Fantástico post. Amei.
    Bjux

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  12. Caraca, não ví o link,vou procurar.
    A humanidade é uma coisa linda, mesmo com um cenário desses.
    bjo

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  13. Quero ver esse documentário.Adoro esses posts que nos deixam atualizados.Ainda mais eu q to fora do Brasil.
    Beijos.

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  14. Precisa ter estômago para trabalhar em um lugar como esse. E conseguir transformar lixo em arte é perfeito. Admiro.
    Beijos

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  15. Muuuito interessante!
    Quero ver esse documentário
    bj

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  16. Puts, adorei o trailer e o texto. Há tempos queria saber o nome desse artista, mas não encontrava... '-'

    Valeu Braccini! ^^

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  17. Belo post...
    O mundo da voltas...
    Abraços

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  18. Que maravilha de postagem essa meu querido.
    Valeu pelas palavras, pelo vídeo.
    AMEI.
    Beijos de uma linda noite.

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  19. A banheira de Marat está excelente. Hajam recursos que criatividade não falta aos artistas.

    Mas... sempre o mesmo ciclo; a vaidade dos ricos alimentando com migalhas a miséria dos pobres.
    Mudam-se os tempos... agora os muito ricos querem as suas paredes decoradas com os dejectos duma sociedade escravizada. Poético, sem dúvida!

    bjux

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  20. um achado essa história, Paulo.

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então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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