Oh meu Deus!!!
Então Deus, cansado dos meus pecados, resolveu punir-me: enviou uma obra ao apartamento de cima. Faz alguns dias que salto da cama, apavorado, sob a orquestra de marretadas, crente que é a célula paulistana da Al Qaeda que acaba de entrar em atividade. Deus, ao que parece, mandou trocarem o piso. Inteirinho.
Os marreteiros do Senhor não brincam em serviço, foram treinados nos porões (ou sótãos) da ditadura - de todas as ditaduras. Derrubaram paredes em Sodoma e Gomorra, prestaram serviços a Torquemada, foram agentes duplos da CIA e da KGB. São hábeis em fazer a quebradeira da pior maneira possível: sem ritmo. Tum, tum, tum...., eles batem, você espera que a próxima nota seja tum, mas vem então uma pausa e... Tuntum. Tum-Tum, Tum-Tum – você vai se acostumando e... Tum-tá-tum!
O ser humano é capaz de suportar qualquer coisa, desde que faça sentido, e não há sentido mais antigo, impresso nas primeiras folhas do livro de nossa memória, do que o ritmo. Ritmo do coração de nossas mães, quando ainda boiávamos em líquido amniótico; ritmo que reaparece nas músicas de ninar, logo depois, insinuando que nem tudo está perdido, ritmo que buscamos nas rimas e na métrica da poesia, ritmo que adicionamos à mesma granola, toda manhã, ritmo que ouvimos por trás do boa noite do William Bonner, ritmo que nos alegra só por aparecer sete vezes no mesmo parágrafo, pois se tudo se repete, por que a vida também não?
Onde há sentido, há salvação. Mas com os marreteiros de Javé não há salvação. Não há padrão. É o código Morse do Demônio, o caos, e se o ritmo nos assegura o sentido da vida e a repetição funciona como uma metonímia da ressurreição, a falta de ritmo semeia o desespero, a loucura, a morte.
Eu trabalho madrugada adentro, justamente por causa do silêncio. Às três da manhã, a Tim não me liga para oferecer planos, a Mastercard não me avisa que minha conta está “há 26 dias em aberto, senhor”, as pamonhas de Piracicaba dormem tranqüilas em alguma garagem da cidade e eu posso pegar as palavras pelas mãos ou pelos cabelos, conforme a necessidade, e agrupá-las em diferentes caixinhas, sobre a minha mesa. Isso tudo, até a semana passada, pois agora as marretas ressoam dentro e fora da minha cabeça, eu sou um zumbi e as palavras estão todas espalhadas pelo mundo.
É um mundo injusto. É proibido ouvir a Cavalgada das Valquírias ou Sheena is a punk rocker depois das dez da noite, mas nada impede que o vizinho de cima destrua seu apartamento a marretadas a partir das nove da manhã. Não há o que fazer. Só me resta sofrer nesse brejo da cruz, enquanto o coaxar dos martelos-sapo me castiga pelos 31 anos que vivi em pecado. Perdão, Senhor!
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...
"Vamos pedir piedade. Senhor, piedade. Pra essa gente careta e covarde" (Cazuza).
ResponderExcluirBjs.
sua inspiração não tem limites amigo Guará ... adoooro ...
ResponderExcluirbjux
;-)
Amei a foto-pelo insólito do macho de fio dental(calcinha?).Já passei da fase de certas ortodoxias gays.
ResponderExcluirE construção ao lado de sua casa é mesmo uó.
Beijos,querido.
rs que texto foda!!! 'Deus' sacaneou... a foto também, Sr Paulo, é ilária! rs
ResponderExcluirAi ai, essa foto merece um Quadro kkkkkkkkkkkkkk.
ResponderExcluirViver no silêncio nem os "surdos" conseguem. A desordem humana grita alto.
bjux
kkkkkkkkk realmente não muito ortodoxa a foto ... rs
ResponderExcluirbjux queridos James e Messias
;-)
pois então Edu ... mais urbanoide q eu está para nascer mas existem determinados barulhos q eu qdo os ouço tenho vontade de ficar surdo ... aff
ResponderExcluirbjux
;-)
Puxa, super fixe esse teu lado religioso ha ha ha!
ResponderExcluirolha, também concordo que o ritmo é uma necessidade humana. Temos que viver num mundo onde haja pelo menos uma certa ordem nos acontecimentos, senão enlouquecemos. Mas, como dizia a boa e velha Golda Meir: "Nos acostumamos com tudo quando é preciso".
Deve de ser, sei lá, instinto de auto-preservação.
Só o que posso te desejar é que passe logo. Tudo é fase na vida. Não sei se ajuda, mas uma dica que dou é aproveitar pra dormir nas horas em que o barulho não aparece! Af!
PS.: A foto é realmente o ó!
Au revoir!
Abdoul vc é ótimo ... seus coments não existem de tão bons e gostosos ...
ResponderExcluirbjux
;-)
Estar com uma obra no imovel próprio ou no do vizinho deve ser considerado como os portões do inferno de dante. Um verdadeiro inferno.
ResponderExcluirEspero q este período passe logo.
e nOn eh mesmo Fabiano ... bjux querido e bom fim de semana ...
ResponderExcluir;-)
Maravilhoso! Impagável!
ResponderExcluirViva a beleza e o humor!
Parabéns sempre pelo seu maravilhoso blog que sempre nos trás essas delícias.
Abraço amigo mineiro.
Bom domingo.
Obrigado Andre pelo seu carinho e atenção ...
ResponderExcluirbjux
;-)