quarta-feira, 16 de julho de 2008

Percepções


Atualmente, os dias me têm passado em separado, como se estivessem destacados, sem ligação com o anterior e com o que virá.
Assemelham-se a pequenas pérolas de um colar que arrebentou e cada uma rolou para um canto do aposento. São pérolas sozinhas, não são um colar.
O dia se escoa em mim com sua própria cota, sem continuação da trajetória de ontem.
Esses dias, de que faço referência, diferem das novelas televisivas, com os capítulos se ligando entre si. Vivo a trama toda num só dia. E no outro, ela já está terminada.
Como em filme.
E o dia seguinte se inicia úmido, limpo como uma folha em branco a ser preenchida com uma intriga nova.
Tenho a sensação de habitar o dia, como saída de um ovo, mas sem a ingenuidade dos recém-nascidos.
Faço o aprendizado de esmiuçar as coisas e observar os minúsculos fenômenos. Reduzo a pressa, que me fazia varar os dias como se olhasse de uma janela de trem veloz.
Em cada dia, condenso uma vida total, no presente que ocorre.
Isso não é um esquema. Mas, é um efeito didático.
Vivenciar o dia, em separado, é tentativa de fixar a pulsação que cada minuto traz e atentar na surpresa de existir gratuitamente, sem esperar grandes eventos mundanos.
Ando em experiência de vida miúda que, na verdade, pode ser a experiência mais vital que realiza a autêntica vida Maior.
Dora Vilela
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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