Pensamentos Incompletos

- .....sisto e não me incomodo a principio: basto-me estar aparado pelo lugar do corpo que será tocado para fazer-me chorar ao nascer, entrechocando-me com meus irmãos pluri-vitelinos. É evidente que todos gostaríamos de saber a hora exata de ir á luz e deixar de estar menos entregue, mas o útero que nos contém também nos confunde. A alternância rítmica no fado coletivo faz-me agarrar com mais força á placenta fria que se torna tépida ao sugar paulatinamente meu calor. Dentre meus irmãos tão grisalhos, birrentos e pouco violentos, há os que se perfumaram demais numa tentativa de mitigar alguma doença congênita, e também o chulé duma creança desodiosa e um apetrecho diplodérmico que me atenaza o flanco. A cadela quadrada acaba de parir uma senhora – ela obedeceu ao sinal idiossincrático aguardado por cada um, talvez a cor daquela virilha citadina onde se vêem agora uma risada e uma grade incompleta. A aversão da matriz ao decúbito põe-na em movimento novamente e, nessas horas, todos fingem não sentir seus sonhos sugados até o coração psychopompo onde explodem por empatia (sei que alguns vêm até aqui tão-somente para essa dação mecânica de devaneios infrutíferos). Mudando de foco o olhar, gr.ç.s a .....s, apesar de tudo meu corpo sente-se bem por ter sido resguardado do cansaço de carregar-se, e o ônibus grávido de mim trabalha seu parto expulsando-me no vazio conhecido bem guardado por um braço de concreto revestido por um cartaz de propaganda que diz “sou o que fôdo”. Daqui, agora, vejo penoso e involuntário o tecido etéreo cerzido pelos olhares dos nascituros – perdidos, é verdade, pois parecem tentar lembrar-se de algo escrito que o suor lhes apagou das mãos tr......

Daniel

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...