sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Borrão Vermelho de Sangue



Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

Clarice Lispector



Wagner - Cavalgada das Valkírias

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

Um comentário:

  1. Clarice é sempre Clarice...que sabia e sabe, até hoje, por meio de seus textos, traduzir perfeitamente os nossos sentimentos!
    Linda postagem!

    ResponderExcluir

então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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