O amor, não os milagres, é o que constitui o essencial da mensagem de Jesus Cristo. É por isso mesmo que sua vida, tal como nos é contada, me comove e me esclarece. O recém nascido que é dado à luz num estábulo, a criança perseguida, o adolescente que dialoga com os eruditos, o mesmo, mais tarde, face a face com os mercadores do Templo, a primazia do amor, o senso do universal humano (“Quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”), a abertura para o presente (Não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”), a liberdade de espírito (“a verdade vos libertá”), a parábola do bom samaritano, a do jovem rico, a do filho pródigo, o episódio da mulher adúltera, a acolhida aos banidos e às prostitutas, o sermão da montanha (“bem aventurados os mansos, bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, bem aventurados os pacificadores…), a solidão (por exemplo, no Monte das Oliveiras), a coragem, a humilhação, a crucificação …
Ficaria comovido com bem menos. Digamos que eu forjei para mim, uma espécie de Cristo interior, “manso e limpo de coração”, sim, mas puramente humano, que me acompanha ou me guia. Que ele seja tomado por Deus, é algo em que não posso acreditar. Sua vida e sua mensagem nem por isso me comovem menos. Mas a história, para mim, pára no Calvário, quando Jesus, na cruz, citando o Salmista, geme: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” Aqui ele é verdadeiramente o nosso irmão, pois compartilha a nossa aflição, a nossa angústia, o nosso sofrimento, a nossa solidão, o nosso desespero.
A diferença, que não quero escamotear, é que, para os crentes, a história continua por mais três dias. Sei que esses três dias se abrem para a eternidade, pela Ressurreição, o que faz uma grande diferença, que não se trata de anular. Mas, dito isso, seria razoável dar mais importância a esses três dias, que nos separam, do que aos trinta e três anos que precedem e que, pelo menos em seu conteúdo humano, nos reúnem?
Se Jesus não houvesse ressuscitado, porventura isso daria razão aos carrascos? Isso condenaria sua mensagem de amor e de justiça? Claro que não. Assim, o essencial está salvo, e o essencial não é a salvação, mas “a verdade e a vida”.
Há uma vida depois da morte? Não podemos saber. Os cristãos acreditam que sim, pelo menos no mais das vezes. Eu não. Mas há uma vida antes da morte, e isso pelo menos nos aproxima!
André Comte-Sponville - O espírito do ateísmo
ps: Como a vida clama para ser vivida em plenitude, dia 18 próximo, depois de 6 meses e meio de luta, retomo minhas viagens e vou para São Paulo. Volto dia 30. Se cuidem enquanto isto.
Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...
Admiro a sua sinceridade...
ResponderExcluirNão é fácil usar essa lisura num país muito dogmático.
Raríssimas vezes desabafei os meus sentires, porque não gosto de perturbar mentes., mas a verdade é que, por vezes, fico zangadíssima com Deus... No caso das crianças deficientes, das carequinhas por cancer, das que passam fome, das vendidas, das exploradas, das vítimas de violência doméstica...
A propósito das últimas palavras de Jesus, Saramago, o nosso Nobel, ateu, afirma que Deus cometeu parricídio, no livro O Evangelhos Segundo Jesus Cristo.
Também me dou melhor com Jesus Cristo...
Ótimas viagens e excelentes férias.
Tudo bom.
Beijo
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Boa viagem e tudo a correr pelo melhor
ResponderExcluirClaro que temos de viver a vida antes de morrermos ou mudarmos de jogo ;)
Fazes tu muito bem! A vida é isso mesmo, aproveitar, viajar, expandir horizontes, enquanto cá andamos. Viver só para pagar contas ou trabalhar não é viver...
ResponderExcluirAbreijos :3
Interessante essa reflexão.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Obrigado Emeson ...
ExcluirBoas férias!
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