terça-feira, 26 de outubro de 2010

Não mais que quatro gemidos


Da série 'Circus Christi', do fotógrafo espanhol Fernando Bayona

Percepção de tempo é muito relativa, alguns minutos podem ser quase nada ou longuíssimos (até mesmo definitivos), mas há alguns padrões mínimos exigidos/esperados quando o tempo corrente é preenchido com sexo – sim eu também faço isso, menos do que pensam meus leitores e bem mais do que imagina minha avó.
Um perdido, numa noite perdida, encontra-se entre uma encruzilhada, são dois os corpos expostos no açougue da ordinária madrugada. 
Ele hesita, olha, dedilha seu aparelho celular, esboça falar e ziguezagueia por entre ruas. Praticidade - e os corpos, antes expostos em conjunto, agora seguem caminhos distintos e jogam o peso da decisão para o errante explicitamente indeciso.
Alguns passos, outras ruas e a tão recorrente paradinha estratégica. Olho de soslaio e entre os dentes um tímido: – “Chega aí!”, apenas aceno a cabeça e o faço virar a esquina atrás de mim. 
O cumprimento com firmeza: - “E aí, beleza?”, e em resposta outra pergunta: - “A fim de pagar um boquete?”. Encaro o objeto da aventura sexual sem compromisso, e afirmo com um casual: - “Demorou”.
Homem jogado em cima da cama, membro em riste e um meio sorriso no seu rosto, enfim...
Nem sequer 2 minutos e meio depois já estava finalizado o ato, desejo (dele) saciado entre lábios e língua. O tempo exato de umas quatro gemidas, e seu gemido baixo, contido, era excitante – mas não o suficiente.
Um tchau sem compromisso e protocolar, ele ainda olha para trás e vai. Tranco a porta, e o primeiro pensamento que me vem à tona é o de que se eu fosse uma prostituta aquele seria o melhor programa da noite, sem tensão alguma e o dinheiro da carteira dele ao meu bolso em no máximo três minutos – o tempo de preparo de um miojo. O não-sexo me obriga a saciar ao menos a fome cotidiana do fim das madrugadas. A cozinha desarrumada me espera e é onde encontrarei algo para matar a fome, mas infelizmente lá não há nenhum macarrão instantâneo que seja rápido e prático assim como meu mais recente parceiro. Até o lanchinho da madrugada demora mais que ele.


Paulo Braccini
enfim! é o que tem pra hoje...

21 comentários:

  1. Tipo: Vamos!
    Foi bom?
    Quendo de novo?
    Opa, foi legal!
    Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Um texto forte, muito bem escrito, que retrata com perfeição o momento... eu achei triste... senti uma imensa solidão e sensação de abandono.
    Beijokas.

    ResponderExcluir
  3. Querido amigo, essa é a realidade que vivemos hoje, esse texto é muito bom. Tenha uma linda semana. Beijocas

    ResponderExcluir
  4. rapidinhas sao boas e necessarias. mas nada como uma bem demorada praapagar o fogo!!!

    abraços
    voy

    ResponderExcluir
  5. E depois fica uma sensação de vazio...Será que valeu a pena?
    Bjux

    ResponderExcluir
  6. O tempo só é importante quando é a gente que paga o motel.

    ResponderExcluir
  7. é engraçado sentir q vc pode ser uma prostituta.

    quando aconteceu comigo, caí na gargalhada voltando no metrô.

    mas a minha carteira... vazia.

    essas experiências tb contam. sempre tem aquela hora, na mesa do bar, que começam a falar das piores fodas. então?

    ResponderExcluir
  8. Mais rápido que um miojo?

    Então...

    Chamou o cara de Hot Pocket na cara dura!

    Hahahahahahahahahahahahahahahaha...

    Se cuida, Paulo!

    Abraço.

    ResponderExcluir
  9. Assim tão rápido nem deu tempo de alguém ali respirar
    Adorei o texto

    Beijões

    ResponderExcluir
  10. Esse texto me remeteu ao passado não tão longínquo, lembrei-me do filme Perdidos na Noite. Daí vemos que ainda está em evidencia e atual englobando todo o tipo de relacionamento.
    Abraço

    ResponderExcluir
  11. O texto é despudorado e entusiasta (por isso é bom). Parece ter sido escrito logo após o lanche da madrugada.
    Teve um momento que não segurei o riso: "E aí, beleza?" Resposta: "Afim de pagar um boquete?". Que sutileza do sujeito, né não?

    ResponderExcluir
  12. O instantâneo também nos cansa, de fato.

    * Acho que faço sexo na medida em que os leitores pensam e menos do que apostaria a minha avó...ehehehe

    Beijo³.

    ℓυηα

    ResponderExcluir
  13. Que texto bom! E que merda de não-sexo.. rs Bj

    ResponderExcluir
  14. Que ciclo! prazer, dinheiro, prazer, vazio...
    Bem, se pensarmos que quando não se faz por dinheiro, não se faz por obrigação...

    rs
    Beijokas, Paulo!

    ResponderExcluir
  15. nOssa.. quanta praticidadhy... estou cada vez mais convencido em tornar-me michê!

    ***

    ;D

    ResponderExcluir
  16. adorei o texto , achei realmente mt bom .

    obrigado por visitar e seguir o meu blog .

    ResponderExcluir
  17. Saudade do blog!
    rsss
    Eu estava com raiva porque o meu blog não atualiza... =(

    ResponderExcluir
  18. adorei!
    e já fiz mto
    mas agora não mais

    ResponderExcluir
  19. Depois fica um ocoooo, um vaziooo...


    Paulinho, beijoooo meu querido!

    Demoro um cadim, mas inimaginável deixar de passar aqui!!!

    ResponderExcluir
  20. Adorei, me fez lembrar de situações que decidi nao comer o miojo e ficar com fome por puro moralismo =[

    Bessha nova é assim mesmo, hauahau

    bjs

    ResponderExcluir

então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin