Como chateia isso de ouvir ladrarem os cães à noite!
E o pior é que nem sou fumante.
Folheio uma revista, ligo e desligo a TV, preparo um chá.
Que fôlego têm esses cães!
Deviam ser políticos.
Sorvo meu chá e reconheço que encalhei nos sargaços, prendeu-se a aba da vida numa rebarba da cerca e aqui estou, entre a xícara e o Universo, perplexo.
Minha voz resmunga e eu me assusto; só me faltava dar em falar sozinho!
Porra, será que esses malditos cães não tem um osso para roer?!
Abandonei o fumo, deixei de beber e confesso que me sinto muito pior.
Antes, ao menos, eu acendia um cigarro ou brincava com as pedras de gelo e tudo ia tomando seu lugar.
Mas essa de estar aqui sentado numa poltrona, como quem espera sua vez no dentista, é mesmo uma grande chatice.
Amanhã não vou ao trabalho.
Que diabo vou fazer lá se nem mesmo sei o que ando a fazer no mundo?!
Escrevo uma carta simples, objetiva, meto-a no correio e depois vou ao cinema.
Para sempre.
Lá ao menos a vida se resolve em duas horas, com direito a jornal, desenho animado e trailer.
Por que será que os cães deixaram de latir?
eduardo alves da costa . poesia reunida . blog palavra aguda
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...
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