Era assim que fazia todos os dias: o louvor mudo nas padarias, o baptismo samsonico das barbearias
e a doutrina de Pio X applicada ás bancas de jornal -- as melhores Biblias são as mais baratas,
todos o sabem.Mesmo assim, todas as vezes que ia ao Caffé ,
por habito ou por auto-piedade, algo atravessava sua mente funámbula :
um pensamento fuliginoso que germina ao passar pelos portões daquelle harém do paladar. Uma mythologia indescritivel rege esses lugares meio bordéis, meio cathedraes, cheio de putas
e de putras .
Sorvia aquele liquido negro enquanto via seu reflexo
na grande xicara de caffé. Algo, porém, passou a perturbar a acção eucharistica que o tornava mais humano a cada dia.Toccando seus labios os labios reflectidos ,
absorvia todo o amargor daquele calice enquanto rogava por mais um dia em si mesmo. E desde então não ouvia resposta: seu beijo não transmutava mais sua alma em perfume de flor antiga.
Tudo culpa daquelle beijo que vira, tão differente do que dava quotidianamente no tal harém onde se encontrava consigo mesmo: era lá que, vendo sua miseria beijal-o com tanta acrimonia, jurava á imagem beijada tiral-a de vez daquella vida infeliz e prostituta -- quando compartilharia com ella sua parte menos tellurica...
Daniel C.Z. - http://danielcz.multiply.com/journal
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...
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