domingo, 6 de março de 2022

Luxo e riqueza das "sinhás pretas" - Fato Histórico

 


Podem dizer o que quiser do Leandro Narloch, menos que ele não seja um cara corajoso. Seu artigo de ontem, na FSP, está deixando os coletivistas da esquerda neuróticos - olhem os comentários deixados na página do artigo, onde ele é tachado de racista pra baixo. Obviamente, como bons cidadãos tupiniquins, a maioria faz uma interpretação completamente deturpada do texto, que nada mais é do que resenhas de livros de historiadores que ousaram escrever sobre 'assuntos proibidos'. Louve-se também os editores da Folha de São Paulo, que não se recusaram a publicar artigo.

Luxo e riqueza das 'sinhás pretas' precisam inspirar o movimento negro (Por Leandro Narloch)
"Antonio Risério acaba de publicar um livro sobre um personagem fascinante da história do Brasil: a “sinhá preta”, como se dizia no século 19, a escrava que conquistou a liberdade, superou preconceitos, enriqueceu pelo comércio de rua e deixou em seu testamento joias, vestidos, casas e escravos.
Em 1836, Marcelina Obatossi comprou sua alforria de um outro negro liberto e a partir de então acumulou 18 escravos, meia dúzia de casas no que hoje chamamos de centro histórico de Salvador e muitas joias.
Francisca Maria da Encarnação, liberta em 1812, tinha quatro escravos e diversas peças de ouro e prata. Custódia Machado de Barros morreu com duas casas e seis escravos. Joaquina Borges de Sant’Anna tinha dinheiro suficiente para emprestar a donos de armazéns do porto de Salvador.
Casos assim são exemplos anedóticos ou um fenômeno mais consistente? Certamente não eram raros, pelo menos em regiões em que a economia prosperava e criava oportunidades.
“Na verdade, pesquisas mais recentes indicam, com segurança razoável, que mulheres de cor libertas formavam a categoria mais rica de nossa sociedade, depois dos homens brancos”, diz Risério em “As Sinhás Pretas da Bahia: suas Escravas, suas Joias”, baseado em estudos de Sheilla de Castro Faria e Eduardo França Paiva.
O viajante austríaco Johann Emanuel Pohl percebeu essa riqueza em 1819, quando passou pela cidade de Goiás. Segundo ele, muitas mulheres brancas, envergonhadas de sua pobreza, frequentavam a missa às 5 horas da manhã. “Nela aparecem principalmente as brancas empobrecidas, envoltas num manto de má qualidade, para não se exporem aos olhares desdenhosos das negras que aparecem mais tarde e entram altivamente ornadas de correntes de ouro e rendas.”
(As “joias de crioula” renderam outro grande livro, “Joias na Bahia dos Séculos 18 e 19”, de Itamar Musse Júnior, que conta com uma extensa coleção fotográfica.)
A sinhá preta é um personagem poderoso porque complica narrativas de ativistas. As negras prósperas no ápice da escravidão são uma pedra no sapato de quem acredita que “o capitalismo é essencialmente racista e machista” e que o preconceito é uma força determinante, capaz de impedir que indivíduos discriminados enriqueçam.
Outra ideia que a sinhá preta abala é a da culpa coletiva pela escravidão. Na verdade, como se diz em sessões de terapia, “todos são culpados, mas ninguém tem culpa”. Se há um responsável pela crueldade escravista, não são exatamente os portugueses ou africanos que tiveram escravos. Muito menos os imigrantes europeus (cuja maioria chegou faminta por aqui no finalzinho da escravidão). A culpada é a época e seus valores diferentes dos nossos.
Ativistas do movimento negro não deveriam desprezar as lindas histórias de vida das sinhás pretas. O costume de tratar negros somente na voz passiva (“escravizados, humilhados, exterminados”) acaba por menosprezar o protagonismo deles na história do Brasil.
Como observou certa vez o historiador Manolo Florentino (que assina a apresentação do livro de Risério), é muito mais estimulante, para negros de hoje, imaginar que seus antepassados foram em alguma medida protagonistas de seu destino. Protagonizaram ações —ações dentro dos costumes da época, como a de comprar e alugar escravos.
Muitos ativistas e estudiosos militantes confundem a atividade do historiador com a de um promotor moralista que monta peças de condenação. As sinhás pretas oferecem a essas pessoas a oportunidade de enxergar o passado com mais maturidade e conciliação.
A teoria crítica racial, em voga hoje nas faculdades de humanas, enxerga o mundo pela lente das relações coletivas de poder. Nessa visão, houve na história uma divisão nítida entre opressores e oprimidos, nitidez que persistiria hoje. No entanto, como diz Risério, na história da Bahia “esse dualismo esquemático não encontra correspondência factual”.

João Luiz Mauad

Bratz Elian
enfim, é o que tem pra hoje ...

12 comentários:

  1. Texto Brilhante :) Obrigado pela partilha

    Abração

    ResponderExcluir
  2. Um dos nossos maiores erros é analisar o passado com as regras sociais, politicas, militares, etc do presente. Não dá para comparar. Se em 2022 a questão de "ter escravos" é inconcebível, na época histórica do texto partilhado, não era bem assim. Era quase uma questão cultural e aceite pela sociedade em geral. Se era errada? Era. Mas vemos isso hoje, em 2022, com olhos de 2022. Também os romanos escravizavam os povos que conquistavam, e como tal, foi natural que na Península Ibérica, os povos que ai viviam e se opuseram ao Império Romano, fossem tornado escravos, mas não podemos julgar a história com os olhos de hoje. Não é assim que funciona.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Perfeitas considerações Lobo. Cada tempo com sua cultura. Assim como hoje também temos nosss mazelas.

      Abração

      Excluir
  3. Não há por que fugir à evidência dos factos históricos.
    Mas se negros alforriados continuaram a manter outros negros escravos, a preocupação social sobre a situação de escravatura vigente atira um pouco para o salve-se quem puder.
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bem por aí Juvenal. Cada tempo no seu tempo. Nos dias de hoje temos coisas até piores!

      Abração

      Excluir
  4. Muito bom texto de João Luiz Mauad. É preciso lê-lo novamente com mais atenção para retirar dele importante reflexão. A escravidão sempre irá existir, independente de cor, raça ou etnia, enquanto houver seres que se julgam acima dos demais, e por sua vez, enquanto esses "demais" não se convencerem sobre a sagrada liberdade dos seres.
    Parabéns Paulo, sempre nos trazendo informações que nos fazem pensar e filosofar .
    Beijo carinhoso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Maria Lucia.

      O João Mauad é excelente mesmo em suas reflexões!

      Bijão

      Excluir
  5. Muito interessante e curioso este post.

    Arthur Claro
    http://www.arthur-claro.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. Incrível reflexão!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está de volta cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    ResponderExcluir

então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin