domingo, 24 de março de 2019

As Nuvens!




De quem gostas mais?, diz lá, estrangeiro.
De teu pai, de tua mãe, de tua irmã ou do teu irmão?
Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos.
Dos teus amigos?
Eis uma palavra cujo sentido sempre ignorei.
Da tua pátria?
Não sei onde está situada.
Da beleza?
Amá-la-ia de boa vontade se a encontrasse.
Do ouro?
Odeio-o tanto quanto vós a Deus.
Então que amas tu singular estrangeiro?
Amo as nuvens… as nuvens que passam …
lá, ao longe…as maravilhosas nuvens!

Charles Baudelaire, O Estrangeiro

Pensando …

Eu também amo a transitoriedade das coisas passageiras, sua finitude, sua fragilidade de bolha de sabão. Nada do que permanece sobrevive a erosão do tempo, tudo o que há são os pequenos momentos – como nuvens! – belos e morredouros. É uma outra forma de se relacionar com o que há de essencial em nossas vidas. Afinal, como seres tão suscetíveis ao tempo foram aspirar as coisas eternas? Por imaginação e tédio, e também um evidente temor. A única eternidade possível é a deste momento, por exemplo, em que sozinho, explico-me a mim mesmo. Há o silêncio e ele há de passar, o silêncio deste momento; há esta aflição que sinto, e ela também passará; há esta minha perplexidade só compreensível aqui, comigo, em mim. E não há nada mais simples e evidente do que este momento que já nasceu com os minutos contados. Quanto tempo terá, enfim? Por quanto tempo poderei segurá-lo, prendê-lo, antes que se dilua em esquecimento e passado? A vida talvez não passe desta imagem figurativa da bolha de sabão feita com o sopro de uma divindade aborrecida consigo mesma. E por sermos fruto da imperfeição de uma criatura original, somos todos tão insatisfeitos e imperfeitos, apesar de nossa beleza evidente e cristalina. Eis o fim deste instante.

Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...

16 comentários:

  1. Querido amigo Paulo, que lindo tudo isso que aqui tentaste nos passar, pois é, a gente tenta passar o que sentimos dos momentos vividos, pois cada um deles é significativo.
    O sentir é que nos diferencia, o tempo não nos importa, o que realmente importa é a energia da vida, enquanto a tivermos estaremos aqui vivendo e tentando ser feliz, podemos sim, pois a felicidade pode estar mesmo nesses momentos, esses de aqui e agora!
    Tens uma sensibilidade impar que a sinto daqui e sei que "...o fim deste instante." nada mais é do que o começo do novo instante, bem mais leve e lindo com meus votos de que estejas sempre muito bem!
    Amo sua alma linda meu amigo sempre querido!
    Abraços bem apertados!

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    1. Cara Ivone! Você é super sensitiva e observadora.Claro que isto é fruto da vivência e de sua sabedoria nata, cultivada ao longo da vida. Sem dúvida a vida é mesmo assim: uma sequência de momentos, por vezes paradoxos, mas necessários. Caso contrário, como diz o amigo Francisco, outro sábio, ela seria uma chatice.

      Beijão

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    2. Meu amigo, voltei porque esqueci de comentar o belo poema escolhido!
      Amo as nuvens, elas passam e em segundos mudam tudo, foi assim, observando-as que dei o nome Ao meu segundo blogue, o Levitar em Brancas Nuvens, o primeiro foi o Poemas Sem Peias, que também foi inspirado na vida, nada de prisão, nada de regras pré determinadas, sem peias é a vida e as nuvens onde se levita, eu preferi escolher as brancas, as belas nuvens brancas!
      Mais abraços!

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    3. Acho que nossa identidade vem destes primórdios existenciais.
      Beijo grande querida amiga.

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  2. A vida é como um jogo, que chatice seria ser eterno. Viver sempre com as mesmas pessoas

    Viver enquanto cá estamos e o melhor que sabemos e podemos

    Depois que venham mais um desafio :)

    Beijão de Portugal

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    1. Concordo plenamente com sua percepção meu caro Francisco. Por vezes divago nestas reflexões, apenas para alimentar esta convicção plena. A finitude com seus desafios e paradoxos são o grande charme desta existência.

      Beijo grande meu caro amigo de além mar.

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  3. Sempre amei as nuvens e suas transmutações...

    Creio que sempre me vi dessa forma também, mutável, passageira,
    talvez seja por isso que raramente permaneço muito tempo e algum
    lugar e seja tão desapegada a matéria.

    ler você é um privilégio...

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    1. Exatamente como eu vejo esta vida minha cara amiga. Tudo flui, tudo é passageiro e nada permanece.
      Beijão

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  4. Que post lindo, Paulo!!! Massa!!!
    A gente, quando jovem, acha que é imortal. Tem um ego do tamanho do mundo.
    Mas depois, a gente compreende que tudo passa - embora soe cliché, é a coisa mais certa de todas as coisas. A única.

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    1. Obrigado Ana, principalmente partindo de você que conhece e sabe das coisas. Clichê ou não, só a idade e a experiência de uma vida VIVIDA nos proporciona chegarmos a ter estas percepções tão fundamentais.

      Beijão

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  5. Paulinho meu querido, bom dia!

    Charles Baudelaire, é desapegado as coisas que aprisionam a alma, e ama as nuvens pela leveza e liberdade. Sejamos iguais as nuvens, com sua transitoriedade pela vida, percorre tudo e todos e não estaciona em um único ponto.

    "eu sou nuvem passageira, que com o vento se vai"

    Beijão, menino grande
    Fique na paz!
    Dan

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    1. Boa lembrança a sua ... a canção Nuvem Passageira ... linda ...

      Obrigado pelo carinho da visita e registro ...

      Beijão

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  6. Bela reflexão. Tudo é passageiro hoje em dia.
    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
    Fanpage
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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  7. Esse foi, na minha opinião, o post mais interessante que vi até agora aqui no teu blog, Baudelaire, a imagem das nuvens, o texto, a profundidade das palavras, e senti que houve em ti nesse caso um cuidado estético com o que foi compartilhado, ficou bonito. Um abraço.

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    1. Obrigado Ulisses. Definitivamente Baudelaire é ímpar em suas reflexões e na forma de expressá-las em palavras. Esta em particular, representa muito para mim.

      Beijão

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então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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