segunda-feira, 4 de junho de 2018

Um Pouco mais da História de Minha Família - "Figueiredo"!




Como falei no post passado sobre a família de minha mãe trago, aos amigos de BlogsVille, uma postagem minha datada de 28 de março de 2015.

"Foi com enorme emoção que vi, esta semana, parte da história da minha famíla por parte de mãe, ser retratada e revivida com rigores históricos por Eder Ayres Siqueira.

Ela, além da força pessoal mostra também, um pouco da história das Minas Gerais e, por que não dizer, do próprio Brasil. 
Compartilho com vocês, pedindo desculpas pelo tamanho do texto, mas não seria conveniente editá-lo pois, perderia muito de sua autenticidade e originalidade."

"Você conhece a história do Casarão Doutor Moreira? 
O Casarão Doutor Moreira abriga hoje as Secretarias Municipais de Agricultura e Meio Ambiente,de Saúde,de Cultura e Turismo, o Escritório da EMATER, a Casa do Empreendedor e a Escola de Cerâmica, mas esta bela construção tem história, e quem nos conta uma parte dela é o catas-altense, Eder Ayres Siqueira: 
Casarão Dr. Moreira “Solar dos Figueiredo” 
No jardim do lado externo do Casarão Dr. Moreira, foi afixada uma placa com os seguintes dizeres: 
"A tradição oral relata que este imóvel pertenceu ao médico Manoel Moreira de Figueiredo Vasconcelos no século XIX. Conhecido pelo espírito caridoso, aqui costumava hospedar enfermos para cura de beribéri e outras doenças da época. Também foi propriedade, no início do século XX, do Capitão Gonçalo Moreira de Figueiredo [meu bisavô], cuja esposa, Tereza de Jesus Vieira de Figueiredo [minha bisavó], teria sido assassinada em 1937, com sua serviçal, pela suposição de ter em casa um baú de ouro. Em 1984, o Casarão foi reedificado, seguindo o traçado arquitetônico original." 

obs: A dita tradição é uma história real, presenciada por meu Tio e Padrinho Custódio, na época com 7 anos de idade. Durante o crime ele ficou escondido debaixo da cama da avó Terezinha.

Vamos ver um pouco da sua história: 

O Dr. Manoel Moreira de Figueiredo Vasconcelos era catas-altense. Nasceu em 23 de outubro de 1809 e faleceu em 10 de março de 1895. Foi sepultado na quarta sepultura no arco cruzeiro da Capela-mor, do lado das epístolas na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, ao lado da sepultura da família do minerador português Capitão Thomé Fernandes do Valle. Foi casado com sua sobrinha do lado materno Dona Maria Brasilina de Alkmim Figueiredo. 
"Caridoso ao extremo, servindo-se da medicina como um instrumento que lhe fora posto nas mãos, por Deus, em benefício dos pobres, acessível a todos, afável, hospitaleiro, amigo dedicado dos seus parentes, do que nos deu superabundantes provas, pai de família exemplar, depositário fiel das tradições de honra e de fé dos seus antepassados, de uma probidade a toda prova, de uma circunspeção modelar, modesto até o mais completo desprezo das honrarias e vaidades, mas, ainda assim, nimbado de uma majestade simpática, a que davam particular realce os fios de prata de sua barba natural, completamente branca quando o conhecemos; eis, em rápido bosquejo, o perfil moral deste homem pouco comum." 
Com a morte do Dr. Moreira, o filho Capitão Gonçalo Moreira de Figueiredo passou a residir no casarão. Ele foi bom fabricante de vinho que aprendeu a fabricá-lo com o Monsenhor Mendes, o qual vinho tinha o nome de “VINHO CATTAS ALTAS” e foi “Distinguido com o Grande Prêmio no Jury da Exposição Internacional do Centenário” (Centenário da Independência do Brasil) em 1922. No solar ele possuía grande adega e plantação de videiras. Foi casado com Dona Thereza de Jesus Vieira de Figueiredo, filha do fabricante de vinhos o senhor Domingos Vieira da Silva. Ela era sua parenta também pelo lado materno, que nasceu no "Solar João Vieira da Silva" onde é hoje a "Sede da Prefeitura de Catas Altas" e foi assassinada em sua residência em 12 de março de 1937, no solar assobradado, conhecido hoje como "Casarão Dr. Moreira". Desta família, não há descendentes em Catas Altas. 
Conforme o Padre José Evangelista de Souza em seu livro "Os Povoadores de Sertões e as Minas de Ouro" a história do assassinato de Sá Therezinha foi assim descrito: "O assassinato de Sá Therezinha, Thereza de Jesus Vieira de Jesus Vieira de Figueiredo, era necessário para apaziguar a violência dos senhores de escravos, aqueles broncos lusitanos. Therezinha, mulher tão piedosa quanto caridosa! Na véspera de seu holocausto, oferecera a missa e a comunhão, em sufrágio da família de seu Eleutério, que não frequentava a Igreja, nem rezava. Pediu a Deus pela conversão do pobre do Cecílio. Que não saia de sua casa, sempre rachando lenha, no terreiro. 
Matar o violento, o carrasco ou o mandante, gera mais vingança e o ciclo da violência não termina. Torna-se necessário imolar uma vítima inocente, uma vítima não-vingada. Ou, então, entrega-se a administração da violência a um corpo, no qual todos confiam. Transferi-la da forma espontânea e impulsiva para o controle da justiça; esta administra a violência, com a aprovação de todos. Do contrário, os homens se exterminariam pela vingança. 
Therezinha Vieira preenchia todas as exigências de uma vítima agradável, vítima não-vingada, segundo René Girard. Era mulher e frágil, incapaz de ofender uma barata. Piedosa, meiga e caridosa. 
Com a crise do ouro, encerra-se o sonho das mil e uma noites. Saint-Hilaire dizia: "Catas Altas do Mato Dentro é sede de uma paróquia considerável. Os habitantes atuais desta povoação, como os de Antônio Pereira, não se entregam à agricultura; e, quando o trabalho de algumas horas lhe rendeu três ou quatro vinténs, vão descansar". 
Aliás, trabalho pesado era coisa de escravo. Os nobres gostavam mesmo era de luxar, refestelar-se em banquetes de talheres de ouro e prata e divertirem-se em caçadas glamorosas. 
"A gente estuda para não sujar as mãos", diziam os nobres. Instala-se em Catas Altas a família de Eleutério, pardos livres, fugidos da desgraça de Antônio Pereira. Chega faiscando, com a bateia, na praia, e aí fica. Mas Cecílio, filho do casal, não ajudava, não gostava de trabalhar. Sua cabeça não regulava bem. Às vezes, rachava lenha, a troco de um pedaço de pão caseiro e um copo de café com leite. Era tudo que ele queria para sobreviver, garantindo o pão de cada dia. 
A lenda do ouro ainda vagava, na imaginação do povo. O ouro era tão fácil que bastava arrancar uma touceira de capim. Ao sacudi-la derramava-se o metal. Ouro enterrado nos quintais; canastras de ouro escondidas nos porões; um veio de ouro na direção da porta do sacrário; tacho de ouro que ficou enterrado na Mina da Boa Vista. Ouro no dente: boca de ouro! 
Meteram na cabeça de Cecílio Lotério que o Capitão Gonçalo Figueiredo legara um tesouro precioso do metal à sua viúva. Sá Therezinha seria guardiã de muito ouro herdado do marido. A viúva mais rica de Catas Altas. A cobiça medrou, no coração do moço, por culpa de conversa fiada dos rapazes normais de Catas Altas. Cecílio passou a sonhar com a riqueza fácil. Imaginou uma artimanha capaz de levá-lo a botar a mão, no ouro de Sá Terezinha. 
Arquitetou o plano e o demônio entrou no seu coração para executá-lo. Esperou a noite entrar, porque o demônio só age nas trevas. Seus olhos se ofuscam com a luz do dia. 
Cecílio entra, no terreiro do sobrado, apanha o machado com que ele próprio rachava lenha. Chama à porta. Como o cordeiro em direção ao matadouro, Therezinha desce para abrir a porta. Cecílio, sem trocar palavra, agrediu-a com o machado na cabeça. Constância grita socorro e corre, em direção de sua sinhá. Em Constância ele acertou de cheio, os miolos pularam, no chão de pedra fria. Mais uma vez a terra se manchou de sangue. O sangue correu solto, esguichou em borbotões: sangue quente, sangue vivo, sangue humano.” 
Constância, por ser uma negra que morava com Sá Terezinha e lhe ajudava nos serviços da casa, não lhe causava medo. Não titubeou no golpe. Therezinha, embora meiga e frágil. introjetara sua imagem no espírito. O oprimido absorve a imagem do opressor e o reproduz. Vacilou no golpe em Sá Therezinha. Ela não morreu na hora, o conflito e a contradição interior fê-lo titubear. Constância morreu, na hora, defendendo sua Sinhá. Que nobreza de negra era esta Constância! "Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos..." 
O calendário marcava, na parede: 12 de março de 1937! Sá Therezinha ainda sobreviveu sete dias, perdendo sangue. Sobrou-lhe tempo suficiente para se oferecer em sacrifício a Deus, pedindo a conversão dos pecadores. Teve forças suficientes para perdoar o seu algoz. 19 de março de 1937, dia de São José: Therezinha de Jesus Vieira de Figueiredo solta seu último suspiro. 
Sá Therezinha não foi vingada por ninguém, como era de se esperar, caso fosse assassinado um senhor de escravos ou um feitor, ... Condenado à prisão, Cecílio cumpriu sua pena na cidade de Neves. Mas virou ameaça pros meninos de Catas Altas: "cuidado que Cecílio Lotério está solto"! Uns diziam Cici Lotero, Cici Lotério. 
Fechou-se o ciclo de violência, acabou-se o risco da extinção pela vingança de um sangue derramado. Só não se fez justiça à constância, a negra, pelo gesto de nobreza. Esta mulher de altivo proceder, venha a história, um dia, insculpir-lhe o nome, no mármore de seu túmulo. 
“Chiquinha de Cláudio Felipe, com o cachimbo na boca, assentada no pilão da cozinha, lá na rua da Outra banda, advertia, com sotaque africano: "Uhm! Ocês tem que banzar, gente! Ocês todos mataram Sá Therezinha!".” 
Vale ressaltar que não havia mais escravidão naquela época, a abolição ocorreu em 13 de maio de 1888. A Constância era uma ex-escrava, com isso, era uma empregada tratada com todo carinho por dona Therezinha, como muitas outras pessoas que continuaram morando com seus senhores, ou mesmo filhos destes, como foi o caso da negra Joana e outras que continuaram morando nos Solares dos Emery, dos Ayres, etc. 

Obs.: No início do texto há referência sobre os dizeres da placa que está na frente do casarão sobre a tradição oral, por isso, esclarecemos: Tradição oral porque ainda não foi comprovado que o Dr. Moreira ali morou, mas o seu filho sim. No óbito de sua esposa D. Maria Brasilina em 1902, consta que ela era moradora em sua residência na Rua São Miguel. Também, um bisneto do Dr. Moreira, disse que o casarão não pertenceu a ele, apenas ao seu avô o capitão Gonçalo. Sabemos ainda que o Dr. Moreira era proprietário da Fazenda do Engenho da Onça, onde tinha cemitério no qual alguns escravos do mesmo foram lá sepultados.) 
O Casarão foi demolido e reconstruído. A sua inauguração foi em novembro de 1987, com o título de "Casarão Dr. Moreira" (Homenagem ao Dr. Moreira) pelo Prefeito de Santa Bárbara Dr. Eustáquio Januário Ferreira, catas-altense, e mais dois vereadores catas-altenses que representavam o Distrito lá em Santa Bárbara, sendo Sr. Adahir Alves Pereira e Sr. José Hosken, conforme se vê na placa de inauguração afixada no mesmo Casarão.""

O Cenário:

Casarão dos Bisa Antes:


Casarão dos Bisa Hoje:


Alguns dos Personagens:






Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...

5 comentários:

  1. Gostei muito :)

    Adoro estas histórias reais :) são um must :)

    ResponderExcluir
  2. Daria um pelo episódio de série hahah


    sacredcockclub.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  3. Paulo Roberto Figueiredo Linda Historia, tenho esse livro em maos e tive o prazer ler essa historia o assassinato de Sa Therezinha. Tambem sou descedentes da familia Figueiredo,O capitao luis de Figueiredo Leitão. Sua filha Anna Valentina De Jesus casou com Thome Monteiro De Oliveira

    ResponderExcluir

então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin