Depois dos últimos sinais, fiquei com a impressão de que minha maior ignorância, a mais grave distração, meu esquecimento mais freqüente é de mim.Ignoro-me, esqueço-me e sigo em frente desprezando quanto custo. Quanto sou o que acabei me tornando. Minha dispersão é o coeficiente de quanto custa ser assim. Sou perspicaz em descrever as pessoas a minha volta. Qualquer movimento alheio faz soar meus juízos e afetações. O que todos dizem ou ouvem de mim imprime uma memória quase infalível. Mas me dei conta de que tudo o que sei sobre mim sei de longe. Sei acanhado. Os sinais que recebi poderiam ser mais discretos, mas sutileza apenas convence a face ignorante de minha dor. São ruidosos. Expuseram-me. Estamparam minha impotência. Sinais escatológicos devem ser indiscretos. Dão-me bom dia as lágrimas. Um choro engasgado de tão profundo e distante. De lá de onde um dia espero ser resgatado. Choro sem decisão, aos poucos. Espero pelas dez, ou onze. Sempre passa, silencia e me adia. Minha angústia disfarçada pelos cantos é ávida devoradora das minhas manhãs. Quando, enfim, a mínima tarefa reinicia, reencena, reticências. Em um dia desses, sem mais sinais, tão temida, a epifania de mim.
Paulo Braccini
enfim! é o que tem pra hoje...
é, meu apocalipse tá bem perto...
ResponderExcluirmuito bom, apesar da depressão total
ResponderExcluirbjos boa semana
Pohãn!! Que texto forte e bonito, hein??
ResponderExcluirGrande abraço pra vc!!
Interessante...
ResponderExcluirObrigado pela dica! Vou seguir o cara!
ResponderExcluirEnfia o dedo na ferida sem dó e com beleza!
Gosto disso!
Bjs ao Muso
É mesmo muito difícil encarar-se.
ResponderExcluirBeijos, Paulo
Ah,mas não devemos deixar aos outros a tarefa de mostrar quem somos.Corremos o risco de nos vermos transformados num inusitado mosaico e pior,tentar corresponder às expectativas de pessoas que nem sempre nos enxergam com os olhos do coração,mas não devemos dispensar encarar a imagem da verdade.mas desde que seja a do nosso próprio espelho...
ResponderExcluirdifícil fazer um comentário sobre esse texto. Li duas vezes e em ambas não consegui pensar nada...uma argumentação muito contundente e forte...
ResponderExcluirabração...
Olá Paulo, estava com saudades das suas interrogações e exclamações, pois esse é o espaço devido para uma boa lida em prosa e versos do cotidiano mundo dos seres humanos.
ResponderExcluirApós uma boa parada por conta do mau estado do meu computador estamos de volta, e, com força total.
Abraço
Intenso. Forte. Filosófico.
ResponderExcluirObrigado.
Forte abraço.
Fiquei ARRETADO .............
ResponderExcluirAdorei o post Radiohead !
ResponderExcluirBjs!
É aquela velha história de se olhar no espelho apontar o dedo pra si mesmo e ver se conseguimos nos auto encarar sem máscaras e fugas...
ResponderExcluirAbraço!