Acabei de assistir ao filme Belim Alexanderplatz em DVD, que ganhei de presente da Marcela [minha afilhada]. Para mim o maior filme de um cineasta visceral . Rainer Werner Fassbinder. Berlim Alexanderplatz, baseado na obra literária de Alfred Döblin, é um painel gigantesco da Alemanha nos anos 20 visto pelos olhos do malandro Franz Biberkopf, interpretado de maneira magistral por Gunther Lamprecht.
Esse retrato da cultura alemã é apresentado em 13 episódios e um epílogo, o que nos concede oportunidade única de conferir o tom obscuro e a luz expressionista empregada por Fassbinder na adaptação do romance.
A história começa com Biberkopf saindo da prisão onde permaneceu por quatro anos. O ambiente é o da depressão econômica que se segue à derrota alemã na 1ª Guerra Mundial. As dificuldades econômicas, a humilhação, a incapacidade de pagar a reparação de guerra, são fatores que criam um clima propício à ascensão de aventureiros, como se veria depois. No entanto, no romance, e no filme, essa perspectiva histórica é observada entre os habitantes do submundo. Lá onde Biberkopf, que não tem grande talento para coisa nenhuma a não ser os biscates, trava suas relações eletivas com a marginalidade. Nesse ambiente, tudo é risco: ele mantém caso com uma prostituta, mas com isso desperta a rivalidade de um rufião enciumado, que se finge de amigo.
Deve-se entender que adaptar o romance de Döblin era um desafio e tanto para Fassbinder. Publicado em 1929, o livro valia-se de uma multiplicidade de vozes e pontos de vista, incorporando até mesmo notícias de jornais na narrativa, tudo para falar daquela fauna reunida em torno da praça Alexander em Berlim. No filme, essa explosão narrativa, de certa forma, é concentrada em uma figura única, o protagonista Biberkopf, através do qual passam os fios da história. Mas é claro que toda as tramas se espraiam em narrativas secundárias, e em uma multidão de personagens.
Enfim, é a Alemanha do entreguerras fertilizando em surdina seu ovo de serpente, fato insuspeitado por esses personagens secundários que vivem à margem da vida. O lúmpen, levado pela necessidade única de sobreviver, que agride e entredevora-se para manter-se à tona. Não existe retrato mais complexo e comovente daquele país que poucos anos depois tentaria tornar-se o senhor do mundo. Um retrato expressionista, belo como cabaré decadente, doloroso como uma grande ressaca.
Ficha Técnica:
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Atores: Günter Lamprecht, Karlheinz Braun, Hanna Schygulla, Claus Holm, Franz Buchrieser, Brigitte Mira, Roger Fritz, Gottfried John, Barbara Sukowa, Günther Kaufmann, Ivan Desny, Volker Spengler, Vitus Zeplichal, Barbara Valentin.
Ano: 1980
Duração: Aproximadamente 15 horas
Crítica: Berlin Alexanderplatz é um monumento à arte cinematográfica do final do século XX e é unanimemente considerada como a expressão máxima da visão da humanidade do grande cineasta que foi Rainer Werner Fassbinder.
Um pouco de Rainer Werner Fasbinder: Nasceu em Bad Worishofen , 31 de Maio de 1945 e morreu em Munique , 10 de Junho de 1982. Foi um diretor e ator considerado como um dos mais importantes representantes da Novo Cinema Alemão. Durante a sua carreira, fez não só 43 filmes, mas também trabalhou como ator de cinema e teatro. O sucesso prodigioso de Fassbinder no cinema é digno de nota. Fez, em média, um filme a cada 100 dias. A sua disciplina intensa e energia criativa fenomenal ao trabalhar faziam contraste com os excessos de relacionamentos destrutivos da sua vida pessoal com as pessoas que ele atraiu. Fassbinder era gay assumido e declarado e questões relacionadas à situação de pessoas consideradas outsiders na sociedade alemã predominam nas suas obras. A solidão, o medo, o desespero, a angústia, a busca pela própria identidade e a aniquilação do indivíduo por convencionalismos, o amor não correspondido, a felicidade sonhada e o desejo tortuoso, a exploração dos sentimentos e sua equiparação a uma mera transação comercial. As paixões íntimas como forma de retratar uma época — a Alemanha dos anos setenta que ainda "carregava" consequências do pós-guerra, da "democracia recebida como compensação" — e dar o testemunho das suas dificuldades econômicas, políticas, morais e sexuais são os grandes temas do cinema de Fassbinder. Morreu de uma overdose de drogas aos 36 anos. Há controvérsias se a overdose foi voluntária ou não, e se a discriminação sofrida por ele ser homossexual declarado não tenha contribuído ao seu fim prematuro. A sua morte é considerada um marco do fim do Novo Cinema Alemão. O estilo de Fassbinder é muito variado (clássico, barroco, realista, alegórico, expressionista, moderno), não apenas considerando o conjunto de sua filmografia, mas também cada filme em particular.
Quem tiver oportunidade não deixe de assistir. Enquanto isto compartilho com voces o trailler e o soudtrack deste clássico cinematográfico.
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...
PS: atendendo sugestão do Gui Franco estou mudando a fonte de minhas postagens ... espero que fique melhor para todos ... bjux
já está na lista de filmes a serem vistos.
ResponderExcluirBom dia com um beijo molhado de caju! Rsrs.
ai vou dar uma lookada pra ver com o Kai (que ama filmes assim).
ResponderExcluirMega besos
Eu detesto usar a palavra "genial", ela é muito mal colocada; tem gente falando até que Millor Fernandes é genial, vê se pode. Mas Berlin Alexanderplatz, se não é genial, tá bem próximo disso. Considerando ainda que foi feito para a televisão, não é pretensioso dizer que é o melhor produto feito para essa mídia até hoje.
ResponderExcluirAmigo, amigo, já pensou em mudar essa fonte que você usa no seu blog? Não sei se alguém já reclamou, mas tenho certeza de que concordam comigo; a leitura é muito difícil.
Ai... filme alemão?!?
ResponderExcluirMe senti tão burro agora...
Mas transar, eu transo bem... hahahaha!!!
E meu caro... sobre seu comment, imaginação eu tenho até demais... mas imaginar vc, o Paulo, o Wans, o Ale, o Edu... todos compartilhando o mesmo fleshlight me deixou t-e-n-s-o!!!! Hahahaha!!!! Hugzão!!!
não conheço o Belim Alexanderplatz,mas pela que vc comentou me deu vontade de ver para saber...
ResponderExcluirSuas férias já acabaram tão rápido assim?
quanto ao que disse o Guy também concordo no Brasil todo mundo é genial, menos eu vc e ela e sua vaca, se vc mandar esse post para Maria Braga ela vai ler de cabaeça à baixo...mas a ner faz bem o seu papel nos apresentar o desconhecido comoBelim Alexanderplatz que quero saber quem é e como pode me emocionar
Poxa, agora dá pra ler bem! =)
ResponderExcluirEu estava lôka da buceta pra vê-lo. Fiquei feliz em saber que vale a pena. Eu tô com 3 filmes do Fasbinder para ver em casa. Vou ver se assisto um deles nessef im de semana que tá tudo pra ficar agarradinho.
ResponderExcluirbjão!
é... estou em dívida com a cultura cinematrográfica... tanta coisa pra assistir! :S
ResponderExcluirPaulo, dica anotadíssima! Obrigada, viu?
ResponderExcluirBeijo, beijo.
ℓυηα
Quero ver também...amei sua resenha!
ResponderExcluirPaulo, querido, muito obrigado pela dica! Vou ver amanhã 12;6 em comemoração ao Dia do Correio Aéreo Nacional! rsrs Não vi nada do cinema alemão, só Nosferatu. Bj!
ResponderExcluirNão pude passar para comentar decentemente mas como eu adorei o post do video do casamento gay.
ResponderExcluirEla foi tão simples na explicação, espero que as pessoas peguem o fio da coisa!
Abração meu querido e bom findi! ^^
Foi o melhor filme que já vi até hoje, nem a sua longa duração é capaz de nos fazer desviar a atenção. Amei, ou melhor, amamos.
ResponderExcluirBjux
Queridão, eu clico clico mas não vejo a sua postagem dos selos e ela tá lá no reader, nos meus marcadores. E tanta inquietação minha era só porque de queria dizer:
ResponderExcluirEste blog do Bracciola é totalmente selado. Quase uma sucursal dos Correios.
Ufa! Alívio deu agora no... kkkkkkkkk
EU quero a senhora aqui em Aju com seu maridão, pois sozinho é um perigo, feito um caranguejo que a gente tem que amarrar no cipó para ver se não faz arte.
E eu fico mais tranquilo em saber que Wander vai ter acompanhar nesta viagem a SP. ADLaine é uma virgem do agreste nordestino, indefesa em toda sua ingenuidade.
Eu odeio quando pessoas inteligentes escrevem resenhas perfeitas que induzem quem lê a fazer o que é proposto, mesmo quando este está sem tempo até para viver. Agora, diante de suas palavras, sinto-me tentado em dedicar 15 horas do tempo que não tenho para me dedicar a este filme, graças a sua resenha formidável que despertou minha curiosidade.
ResponderExcluirEnfim! é o que tem para hoje"
Maravilha amigo!
ResponderExcluirSe você indica é porque tem qualidade.
Amigo Paulo,
Bj.
E lá vai mais um filme pra minha lista de too see...
ResponderExcluirMas do jeito que essa lista tá andando devagar, acho que só vou conseguir assistir esse em 2014!
Um beijo Paulo!
Já quero ler e assistir!
ResponderExcluirabraçooo!
Parece ser mesmo um excelente filme
ResponderExcluirFeliz dia dos namorados
lindo, lindo absolutamente tudo que li por aqui....
ResponderExcluirdesde a histórias das suas lutas
as imagens da infância
poesias, contos, crônicas
e até
olhem só
lembranças e saudades!
lindo tudo o que li aqui
certamente vou voltar
Adorando suas dicas, pena que onde eu moro é praticamente a idade média q não encontro nada de nada!
ResponderExcluirAh, Paulo... depois de tanto tempo esse blogueiro ingrato vem a lhe retribuir com palavras a gratidão e o carinho da visita e da 'perseguição', hauhuhauhuahuha...
ResponderExcluirPutz, gostei muito do seu blog, engraçado que tava procurando imagens de acordo com o que eu queria postar e geralmente tenho essa mania, de ver de onde veio a imagem. Pronto, surpresa boa! Tenho gostado muito do seu blog... MESMO!
E quanto ao meu blog, Me expressar é necessário, de verdade... mesmo que ngm se importe com o que vc diz! Eu só preciso me expressar e ponto. O resto é consequência :)
Adotei a sugestão, vou procurar o filme e assistir.. só pela sinopse já deu muita vontade de assistir
Grande abraço!
Pôxa, me deu vontade de assistir esse filme, vou providenciar isso logo.
ResponderExcluirA história me chamou muito a atenção.
Obrigada pela dica meu querido Paulo.
Beijos com muito carinho.
VocÊ deve estar achando que sou um mexeriqueiro.
ResponderExcluirque texto luxuoso amigo, adoro indicação de filmes cult. O Reinaldo mandou perguntar quando vc vai postar sua história de amor?
ResponderExcluirOlá, Paulo, bom dia. Aqui tem iogurte, biscoitos e doce de leite, pois é domingo e como não fui à padaria ontem, fica no básico mesmo. Mas está bom, aceitas?
ResponderExcluirOlha, quanto ao teu texto, acho que falarei demais mais uma vez, hahaha. Vejamos.
O Fassbinder eu já conheço um pouco, assisti algo dele no passado. Definitivamente, me desagrada o facto de tanta gente talentosa e sensível buscar o suicídio e também outras formas de autodestruição. Será culpa deles ou da sociedade? Será que há um culpado? O importante para nós é a obra que ele deixou, e sem dúvida que esse genial cineasta e actor foi fruto de seu tempo e de seu maio sim, embora ele questione o ambiente no qual está inserido, muitas vezes de maneira ácida e irónica. Uma obra excelente sem sombra de dúvida.
Menos lustrosa, porém, é a Alemanha. Falo do passado, obviamente. De longa data, apesar do desenvolvimento urbano, industrial, comercial, científico e financeiro, os alemães foram protagonistas de episódios tristes da história europeia. Antes do Nazismo, foi o fim da República de Weimar, a guerra franco-prussiana de 1870, a grande depressão (não exactamente nessa ordem, hahaha). É como se o dinheiro e a modernidade não tivessem trazido bonanças, felicidades, apenas desgraças... E, ainda depois de 1945, se vê que o alemão continua o mesmo: sisudo, frio, com tendência à beber muita cerveja e a se fechar dentro de casa... Claro que parece um preconceito, mas pelo menos é o que se vê na arte dos próprios alemães. Conheço algo da literatura, especialmente, e os grandes poetas e escritores alemães ou influenciados pela cultura germânica - são bem menos cálidos e luminosos que outros artistas.
Já ouvi falar de "alma eslava", "alma russa", "balcânica", "sangue latino" etc. Diz-se que os russos são duros, os eslavos povos autoritários, os balcânicos um bando de sanguinolentos, os que latinos têm um pé na ditadura... Da Alemanha, não se fala muito diferente. Gostaria de conhecer de perto para poder julgar, é claro, só não deixa de ter uma certa lógica, analisando-se os acontecimentos conhecidos dessas regiões. Isso me deixa muito triste. Tomara que com o passar do tempo o ser humano mude, evolua. Porque o mesmo que se aplica à alma de uma nação, se aplica à alma de todas as demais.
Abraços meu amigo Paulo!
Obrigado amigos, pela presença e pelas considerações ...
ResponderExcluirbjux
;-)