Navegando pela net encontramos preciosidades. Este é um autêntico exemplo disto. Tânia Meneghelli, do Blog De Tudo Fica um Pouco, que se define como “uma jornalista quarentona, casada, mãe de um filho tão esquisito quanto ela, atuante na área de assessoria de imprensa e, paralelamente, também trabalha com ilustrações vetoriais”, postou esta jóia rara que compartilho com os amigos .
A qualidade que mais admiro no ser humano, sem a menor sombra de dúvida, é a coragem. Porque aos olhos dos outros a gente pode ser tudo nessa vida - inteligente, bonito, bom caráter, bem sucedido ou qualquer outra coisa superbacaninha - mas sem culhão pra se impor de verdade, pra se assumir como se é sem máscara, pra encarar o que vier, simplesmente não se é nada.
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Pra tudo a gente precisa de coragem. Seja na hora de enfrentar uma doença, conviver com a morte ou até mesmo (e principalmente) expondo fragilidades, não há solução possível se a gente não encarar o bicho. É por isso que, mesmo considerando discussões sobre sexualidade já ultrapassadas, acredito que ser gay é coisa de homem com "H". Seguir padrões convencionais é moleza. Se valer de um pênis que se encaixa só onde dizem que a natureza determina também. A fórmula já está pronta, basta apenas seguir o fluxo considerado "normal" pela sociedade e se colocar na cômoda posição de homem acima de qualquer suspeita. Mas quando a vida coloca o sujeito na contramão da convencionalidade é que são elas. É complicado ser diferente e conseguir o respeito que se merece sob qualquer circunstância. Isso exige uma determinação fora do comum. Recentemente esse debate ficou bem acirrado, quando o general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, indicado para ocupar a vaga de ministro do Superior Tribunal Militar, afirmou que soldados não obedecem a comandantes homossexuais. Segundo ele, as atividades desempenhadas nas Forças Armadas não são adequadas aos gays e estes devem seguir outros ramos de atuação. O general é do tipo que acredita que gay seja capaz apenas de ser cabeleireiro, maquiador ou qualquer outra atividade mais "feminina", digamos assim. Aí eu fico aqui só pensando o que é que o taco tem a ver com a caçapa. O homem não apenas desqualificou os gays, como também reduziu a praticamente zero a participação das mulheres na carreira militar. Tão equivocado quanto, foi o outro - o almirante Luiz Pinto (ui!), que na tentativa de ser mais flexível, afirmou não ver nenhum problema no ingresso (ou permanência) de homossexuais nas atividades militares, desde que "mantenham a dignidade", uma coisinha na base da atual legislação norte-americana, que prega o tal "Don't ask, don't tell", proibindo que soldados gays e lésbicas assumam sua orientação sexual, bem como que sejam questionados sobre isso. Segundo o almirante, a "opção" sexual de cada um, desde que preservada, em nada interfere no bom desempenho das funções militares. Me espanta ver um montão de gente que se considera livre de preconceitos pensando dessa maneira. Caramba, mas desde quando alguém pode "optar" por uma coisa dessas? Quem é que acorda num belo dia e escolhe ser hétero ou homossexual? Oras, a única escolha possível para os gays é sair ou não do armário. É exercer o justo direito de viver conforme sua essência ou de acordo com o que os outros esperam. É pagar o preço altíssimo de expor francamente suas preferências - como qualquer ser humano deveria ter a liberdade de fazer - ou se calar e fingir, sufocando dentro de si todos os seus desejos. Quantos não são os homens casados, que têm até filhos, mas mantêm namorados escondidos ou saem à caça de transinhas furtivas com travestis? Convivo com gays que são pessoas extraordinárias. Cultos, bem sucedidos, profissionais competentíssimos nas mais diversas áreas. Gente que sabe muito bem separar a vida sexual de todo o resto, como qualquer um deveria fazer. Em absolutamente nada me interessa o que fazem entre quatro paredes, cada um que se resolva nessa questão. Já faço muito se der conta da minha própria sexualidade. O que me importa, de fato, é que são pessoas cujas companhias me fazem um bem danado e que me acrescentam muito, no mínimo um papo genial, com tiradas divertidíssimas. Aliás, pode reparar, em geral os gays têm uma sagacidade muito acima da média, dizem coisas pra lá de marcantes. Quando assumidos publicamente, então, têm toda minha admiração pela coragem. Ontem, por exemplo, fiquei encantada com a atitude de um atleta que vi na final da patinação artística masculina das Olimpíadas de Vancouver. Mesmo depois de ter sido alvo da maledicência de comentaristas da TV australiana, que dois dias antes fizeram piadinhas acerca da sexualidade do patinador, Johnny Weir não se intimidou. Depois da apresentação impecável (que mesmo assim o deixou no sexto lugar, afinal o pódio era pequeno pra tantos talentos), ao receber os presentes jogados pela platéia, fez questão de aguardar suas notas assim, todo florido:
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Fala sério, tem culhão ou não tem? ADOREI esse cara! Pena que viva tão longe daqui. Mas tudo bem, afinal o "irmão gêmeo univitelino" que ele nem conhece é brasileiro e, igualmente resolvidíssimo, está lá no Big Brother, mandando uma bela bananona pros hipócritas de plantão. Olha só se incrivelmente um não é mesmo o focinho do outro (Serginho à direita):
É isso aí. Se assumir não é pra qualquer fracote não, precisa ser muito macho (sentido figurado, claro). Ainda que não seja a maior demonstração de coragem que um homem pode dar, significa a presença do discernimento fundamental, que possibilita até a um filhote de anta compreender definitivamente que o cérebro não depende do pênis pra funcionar com perfeição. Por isso mesmo é que no caso de certos machões (no infeliz sentido literal), propagadores de convicções intransigentemente viris e ignorantes, se tirar o pênis não sobra nadica de nada.
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...