quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Ah! Quem me dera um lugar!




Ah, quem me dera um lugar
no olho do furacão
- um centro de paz
no seio do turbilhão!
Um barracão de madeira
rodeado por um jardim
onde ninguém se lembrasse
nem pensasse em mim.
Mulher e filhos comigo,
sem cuidados nem sustos,
entregues todos à faina
de cultivar o umbigo.
Nada de planos nem datas,
visitas ou comprimissos;
apenas a chuva nas latas
do telhado e o vento
a cantar nos caniços.
Na hora de comer, comer;
na hora de bailar, bailar;
na hora de dormir, dormir.
E isso não é trabalhar?
Beber água com a boca,
usar os olhos para ver;
parece fácil ao dizer,
mas são necessárias mil vidas
para o aprender.
Nenhum lampejo de inteligência,
tudo opaco, sem brilho:
digamos que se trata de trocar o ouro
pela madeira, o banquete
por um peixe a frigir na frigideira.
De resto, borboletas no espaço,
algumas carpas agitando as águas
do tanque e ausência de mágoas.
Nenhum sonho impossível
lançado aos ares para morrer
no laço; nem suposições,
hipóteses, conjecturas, projetos,
que ao primeiro terremoto
desabassem com pesos concretos.
Visões, sim; mas tão leves
que pudessem pairar
sobre nosso breve dia
com asas de poesia
sustentadas tão-somente
pela certeza de se estar contente.

Excertos do poema “Ah, quem me dera um lugar”, Eduardo Alves da Costa





Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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