quinta-feira, 19 de julho de 2007

Radicalidade e Vício

Há dezenas de mitos e histórias com a finalidade de exaltar a preferência do caminho do meio; o que não se deve esquecer é que esse caminho pode também ser o da mediocridade.
Há uma frase que é sempre proferida, quase beirando um chavão, quando, em determinadas circunstâncias, se deseja cobrar de alguém uma postura direta, uma posição explícita ou, até, uma atitude clara: Deus vomitará os mornos ! Essa ameaça vale também quando se quer amedrontar aqueles ou aquelas que seguem pela vida afora sem nunca se aproximar minimamente dos extremos, ficando sempre no ansiado ou proclamado como seguro "caminho do meio", evitando-se, assim, qualquer risco de transbordamento ou ruptura da prudência.
Deus vomitará os mornos ! Está lá no Apocalipse (último livro da Bíblia dos cristãos), capítulo 3, versículos 15 e 16; "Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno,nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca".
Ora, há dezenas de mitos, fábulas e histórias com a finalidade de exaltar a exclusividade e preferência do caminho do meio; o que não se deve esquecer é que esse caminho pode também ser o da moralidade.
Em nome da sobriedade, da prudência e do comedimento, o máximo que se obtém em muitas situações é a mornidão mediana, regrada e constantemente refreada.
Nesse sentido, para não ser morno, é preciso ser radical. Cuidado ! Em nosso vocabulário usual, é feita uma oportunista confusão entre radical e sectário. Radical é aquele, como lembra a origem etimológica, que se firma nas raízes, isto é, que não tem convicções superficiais, meramente epidérmicas; radical é alguém que procura solidez nas posturas e decisões tomadas, não repousando na indefinição dissimulada e nas certezas medíocres.
Por sua vez, o sectário é o que é parcial, intransigente, faccioso, ou seja, aquele que não é capaz de romper com seus próprios contornos e dirigir o olhar para outras possibilidades.
É preciso Ter limites, mas estará o limite exatamente no meio ? Não é necessário ir até os extremos, mas é essencial não ficar restrito ao confortável e letárgico centro.
Muitas vezes, o meio pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor. Alguns desses desejos de romper fronteiras mornas só aparecem nos epitáfios, sempre em forma nostálgica e lamentadora de um "eu devia ter..........".
Para além da mitologia grega, não é por acaso que outros Titãs têm sido tão festejados quando cantam de forma deliciosa e perturbadora (e muitos com eles): "Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer; devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer ...".
A sabedoria para equilibrar essas inquietações pode ser encontrada na reflexão feita no século 5° a.C. pelo filósofo chinês Confúcio: "Eu sei por que motivo o meio-termo não é seguido: o homem inteligente ultrapassa-o, o imbecil fica aquém.
Radicalidade é uma virtude; o vício está na superficialidade.
**Li em algum lugar mas desconheço o autor... como tem tudo a ver comigo ousei anotar e publicá-lo aqui...

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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