domingo, 22 de março de 2009

Epifanias . Fragmento II


Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham.
Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis,
cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível.
Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça.
Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Caio Fernando Abreu

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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