Casualmente nos encontramos no “Cabaré da Martinha” – lanchonete de propriedade de uma balzaquiana vivaz sexualmente e onde entre um lanche e outro os corpos se encontram e se descobrem.
Eu, Fabiano, Pitty, Carlota e Fláviah, somos quatro assumidos e um travestido conversando amenidades; integram a cena uma dezena de jovens alcoolizados e um automóvel que faz a trilha sonora (brega e altíssima).
Carlota e Pitty estão em uma das mesas devidamente acompanhados por caras-héteros-não-preconceituosos-bem-à-vontade enquanto eu, Fabiano e Fláviah nos divertimos em um bate-papo mais gay, repleto de risadas, humor refinado e ácido. De repente o Fabi se vira abruptamente e com o semblante surpreso chama minha atenção para um novo integrante da madrugada animada - o rapaz mudo.
O mudo apareceu “do nada”, e ele é tão bonitinho, sedutorzinho, e o que não fala com os lábios diz com os olhos (fechadinhos e curiosos como os de uma criança), se ele falasse provavelmente me apaixonaria.
A exuberância dos personagens gays foi evidenciada com a chegada do mudo, afinal a comunicação não-verbal era novidade. Confesso que muitas vezes pensei que o “viadeiro” estava fazendo performances de tanto bate cabelo e jogada de braço e mãos. Toda vez que alguém tentava a comunicação eu atento ficava para desvendar a mensagem – não compreendia nada e desconfio que o mudo também não. Tentei versar, mas eu não entendia a linguagem do rapaz e ele me olhando com um ar de “e ae?”.
Preferi me esquivar da comunicação direta. Alguém com um olhar mais atento facilmente perceberia purpurina, paetês, notas musicais e muitas cores, além dos movimentos naquela cena incomum.
E a fim de traçar o perfil de personalidade de cada um dos presentes foram realizadas mímicas absurdas e obscenas; mas o mudo que não era assim tão inocente em dado momento mostrou com as mãos o tamanho de seu documento, sim com veemência ele bateu no peito e milimetrou o tamanho do seu pau/pênis/cacete/blimblim/piroca/rola/pica/jeba/pinto.
Eu ri muito do absurdo da situação, e o mudo se divertiu ladeado de tanta gente de expressão. Entre os presentes acredito que só eu e o Fabiano não estávamos na fila para conhecer melhor o rapaz, pelo menos não naquela madrugada. E havia um problema, o rapaz tinha de passar a noite na casa de alguém, imaginem a disputa e assédio! Pitty (possuidora da maior coleção de aniversários) foi a primeira a se lançar e tentar enlaçar o mudo. Fabi tranquilo queria passar a vez, mas se viu envolvido com a disputa. Fláviah seduziu, fez o tipo “meiga” e não se jogou diretamente. Carlota quase que tem um ataque cardíaco na cadeira em que estava e fulminava o rapaz com olhares diretos e objetivos. E eu, eu queria mesmo era me divertir com meus amigos, não entrei no jogo. Beijos, abraços e despedidas, alguns ficaram outros foram e o mudo acompanhou alguém na linguagem universal dos corpos, até o dia clarear.
Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...
Olá meu amigo Paulo, muito bom e bem escrito esse conto do Giuliano Nascimento!
ResponderExcluirJá pastastes por aqui contos dele, e concordo contigo quando dizes que ele prende a atenção em seus escritos, daria para ler muito mais sem me cansar!
Abraços aperados meu amigo, tenhas uma ótima semana e obrigada pelo carinho de suas sempre amáveis visitas!
Corrigindo, abraços apertados e não "aperados".
ExcluirSim Ivone. Gosto da forma livre e solta com que o Giuliano escreve. Em tempos difíceis como os contemporâneos quando tudo é cerceado e considerado nefasto, gosto de me expor postando coisas do gênero mais explícito. Uma certa dose de rebeldia contra esta maluquice toda ...
ExcluirBeijão Ivone
Ah! estes teclados tb me deixam louco de quando em vez ... rs
ExcluirAmei :)
ResponderExcluirBeijão
Também amo tudo o que é do Giuliano ... Gosto do estilo ...
ExcluirObrigado querido amigo ...
Uma história deliciosa! Pensei que fosse uma vivência tua, foi com pena que fiquei a saber que afinal é só um conto...
ResponderExcluirAbreijos ;)
Na vida meu caro, muitas histórias reproduzem momentos próprios de certa forma vivenciados. Com certeza, nas histórias, as palavras com pontos e vírgulas configuram aos fatos reais um pouco de fantasia que os fatos em si nem sempre possuem. Ficamos assim então: Fatos e versões - duas faces de uma mesma moeda ... rs
ExcluirGostei de seu comentário, permitiu-me divagar sobre a questão levantada ... Beijo grande queridos João&Belfort.
Histórias que acontecem na vida real,né amigo.E certamente presenciamos mais de uma vez essa cena,um ´´mudo´´,razão de guerra na nossa roda de amigos,uma disputa acirrada pra ver quem levará o ´´troféu´´ pra casa.rsrs
ResponderExcluirPerfeito querido amigo Xaverico. Esta é a questão crucial da vida de todos nós. Sempre o ganhar o troféu.
ExcluirBeijão
me recordei de minha vivência profissional com mudos... Aos poucos há entendimento!
ResponderExcluirQue legal isto ...
Excluir