Tudo o que ela quer é um beijo, um simples e sincero beijo. Aos 70 anos de idade, nunca fora beijada. Sempre foi uma mulher de vida entre aspas, a rotina lhe dá autoconfiança, evita ao máximo entrar em conflito com alguém. Pede perdão a todos, se algo de errado acontece, logo assume a culpa. Em seu quarto há várias fotos de beijos. Beijos previsíveis como sua vida sem novidades, sua vida de novela das seis.
Todos os domingos, vai à Praça da Purificação, fica olhando os casais de namorados em beijos apaixonados, delicados, tímidos, ousados. Imagina-se ali... Quem sabe, um dia, teria seu namorado, que lhe pegaria nos braços, lhe beijaria com desejo e paixão. Todas as noites, sonha o mesmo sonho: um beijo interrompido, lágrimas e tristeza... Dormir é um temor, por isso dorme pouco. Aprendeu a conversar com as estrelas. É um diálogo surdo, diálogo em que todos os verbos são irregulares.
Um dia, viu na novela uma personagem secundária (como ela própria) levar um tiro e seu assassino lhe beijar os lábios congelados na estupidez da morte que, embora ficção, lhe tocara profundamente em suas emoções coadjuvantes. No outro dia, entrou em uma loja de armas, comprou um calibre 38. Foi banindo para o não de si o que mais lhe atormentava.
Passou a dormir tranquilamente, no seu sonho nada mais a atormentava.
No domingo, na Praça da Purificação, ficou apenas o deserto do medo, porque beijar era medo. Nunca foi esquecida, porque também nunca fora lembrada. Nunca deixou de mandar flores aos beijos que interrompeu. Um beijo que bem poderia ser como os de novela, sem vida, exato em despedidas nunca acontecidas definitivamente
Bom dia amigo querido, boa escolha de texto, nos mostra que a vida é para ser vivida, mas que muitos não vivem por medos, nossa, medos até de arriscar a conhecer o sabor de um beijo!
ResponderExcluirVamos indo nos atrevendo e vivendo, pois cada momento perdido é o que não volta, é o que deixa a dor de saber que não se viveu!
Abraços bem apertados!
Para viver não podemos ter medo. Com certeza há que se arriscar muito.
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Conto interessante. Gostei.
ResponderExcluirInteressantíssimo meu caro. Adoro os escritos do Ediney!
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Relato bacana, nos faz viajar nas frases.
ResponderExcluirObrigado amigo Ro. Ediney é ótimo com as letras e palavras.
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Olá, querido Bratz,belo texto do Ediney e bela a imagem escolhida...jamais podemos desistir em vida do que sempre julgamos ser nos necessário para viver e “para termos o que nunca tivemos, temos que fazer o que nunca fizemos" ...
ResponderExcluirObrigado pelo carinho,belo domingo,belos dias,abraços!
Ediney tem o dom e a sensibilidade de lidar bem com as palavras. A foto, para mim, veio a calhar com esta mesma sensibilidade.
ExcluirObrigado pelo carinho e um maravilhoso fim de semana.
Beijão