Sempre tive uma sólida formação moral alicerçada em valores inquestionáveis. Ainda os tenho, mas a cada dia que se passa, nesta já longa caminhada pela vida, me sinto coagido a refletir muito sobre certas convicções e valores, principalmente o que vem a ser o "bem" e o "mal"..
Certa vez, conversando com o Blogueiro Douglas Marques (Blog Tempestade), não me lembro mais sobre o que, ele, ainda um garoto, me solta esta pérola. "Não acredito no altruísmo. Nem Madre Tereza de Calcutá escapa! Ela, convicta de sua ideologia religiosa, fazia o bem para ganhar a "Vida Eterna"! Onde está então seu altruísmo?"
Guardei isto para mim e me coloquei a refletir sobre isto e ver o quanto isto tinha de verdade, e eu, velho e experiente, aprendi isto de um garoto. Obrigado Douglas.
Outro dia, eu e Elian divagávamos sobre este país, suas mazelas, sua violência, a hipocrisia humana e outros temas que configurava uma verdadeira "Babilônia de Ideias". Ao final falei para ele que hoje, eu me sentia perdido com certos valores tão arraigados em mim e me sentia forçado a rever muitos deles.
Coincidentemente, recebo um comentário por aqui de uma leitora nova, a Marli Terezinha do Blog Naco de Prosa. Fui ao seu blog e me deparei com duas postagens com questionamento idênticos aos meus naquele momento. Deixo aqui os links destas postagens para quem se interessar: "Todos merecem Perdão(?)" e "Polícia para quem precisa".
Revisitando meu passado, lembrei-me de um fato ocorrido a há muitos e muitos anos atrás que muito me abalou, mas que, com o tempo, tudo caiu no quase esquecimento.
Uma pessoa de minha família, muito jovem, foi vítima de estupro coletivo. Uma coisa hedionda! Para mim ainda pior, pois foi quem foi socorrê-la e buscá-la na casa de uma pessoa que lhe prestou ajuda.
Um período de ódio, de sofrimento, de preocupação. Tínhamos um grande amigo, cujo pai era da Polícia Civil. Quando soube nos procurou para prestar solidariedade (na época não fizemos "BO" para poupar a vítima de mais sofrimento) e ele nos afirmou que iria investigar a fundo tudo de forma informal. Passados alguns dias, coincidentemente véspera de Natal, nosso amigo e seu pai foram à minha e nos informaram que havia pego os marginais e que eles confessaram este e outros casos. Disse que se desejássemos poderíamos ir à Delegacia que ele nos apresentaria os delinquentes com toda a segurança. Veríamos mas não seríamos vistos. Claro que não fui. Meu irmão foi. O pai do amigo afirmou: Não se preocupem estes nunca mais atacam novamente. Passados mais alguns dias vimos no jornal estampado. "Estupradores encontrados mortos em um matagal com as marcas do Esquadrão da Morte".
Confesso que nunca me senti tão feliz e vingado com tudo isto. Mas os meus valores logo vieram me atormentar e a forma que encontrei foi tentar esquecer e apagar esta tragédia, o que, de certa forma, consegui.
Vivemos hoje no mundo, em particular no Brasil, uma escalada absurda da violência, onde os marginais ficam impunes e nós acuados e com medo de tudo e de todos.
Aí surgem aqui e ali os novos "Justiceiros" que, à margem da lei, buscam fazer justiça com as próprias mãos. Não faço apologia disto, isto me incomoda e muito ainda, mas me questiono cada vez mais em meus valores.
Governos omissos, polícia despreparada e mal aparelhada, ONGs que adoram defender os "Direitos Humanos" de marginais mas que não levantam a voz para defender os Direitos do cidadão vítima e obrigado a viver acuado, com sua liberdade comprometida.
Complicado sim! Muito complicado mesmo. Sei bem que muitos que me leem aqui e agora devem estar estarrecidos com estas minhas questões, mas afirmo com convicção, os que ainda discursão achando que é um absurdo a justiça pelas próprias mãos, o fazem de forma idealista e ingênua. Que a vida não lhes conceda a oportunidade de ter uma mãe assassinada, uma irmã estuprada, um irmão morto por conta de cem reais, pois aí eu quero ver a persistência arraigada destas convicções.
Bem, isto é só um desabafo de ideias, mas são questões que estão me martirizando, e muito, atualmente, rever ou não valores. O meu lado moral me empurra para uma convicção, enquanto o meu lado racional e emocional me empurra para o outro. Definitivamente não sei qual o lado sairá vencedor e sobre este tênue trilho sigo o meu caminho.
Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...