Inspirado na Obra de Nelson Rodrigues, conto aqui histórias que deveriam ser mentirosas, mas não são.
De um grande amigo blogueiro Eraldo Paulino em Eraldo e suas Paulinisses.
Era a missa de casamento dela com ele. Ele, o noivo, estava no altar todo contente. De certa forma, aquele momento era uma espécie de troféu para quatro anos tentando conquistar aquela moça linda que, apesar de sempre ter sido solteira e demonstrar carinho por ele, jamais quis namorar. Mas ele conseguiu finalmente emplacar o namoro depois do primeiro e inacreditável beijo. Menos de duas semanas depois disso já estava noivo. Passado um mês, lá estava ele. No altar. Orgulhoso de si próprio. Um vencedor.
Diante do noivo, ele: o padre. Como era o único presbítero daquele lugarejo, não havia outro a não ser ele para celebrar aquele matrimônio. Claro que havia alguns fofoqueiros que só estavam naquela igreja pra procurar defeitos, é verdade, mas todo mundo aparentava felicidade. Menos o padre. “O que o senhor tem? Está passando mal?”, perguntou uma madrinha do altar, pouco antes da cerimônia começar. O padre, sempre faceiro, estava muito sério. “Senti uma pontada no coração, mas não se preocupe. Vai me fazer bem celebrar, tenho certeza”, respondeu já se saindo para a sacristia para vestir a batina.
Ao lado dele, o noivo, e um pouco abaixo dele, o padre, estava ela, a noiva. Ela não chorava. Não sorria. Estava séria. Prestando bem atenção ao que o padre falava. A cerimônia seguiu normalmente. À medida que o tempo passava, o rosto dela ia mudando, demonstrando de passividade à raiva. Ele, o noivo, não notava. Estava muito feliz. Ele, o padre, parecia olhar pra tudo menos ao rosto dela. Conforme o rito já conhecido, ele jurou fidelidade a ela na tristeza, na doença e nas outras coisas. Depois do “aceito”, dele, o noivo, foi a vez dele, o padre, perguntar a ela, que antes de responder puxou uma arma debaixo do vestido.
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Era uma tarde quente da Amazônia quando finalmente o novo padre chegara ao vilarejo. Recém-ordenado, ele foi visitar a casa da coordenadora da comunidade, que se orgulhava do fato de que todos os cinco filhos, quatro homens e uma mulher, eram lideranças da igreja. Antes mesmo que o presbítero chegasse, ele já havia se comprometido de ir primeiro a casa dela e depois ir à igreja, tamanha era a moral da coordenadora. Os filhos na mesa batiam papo com o sacerdote. A filha ajudava a servir. Foi nesse momento que um olhou para o outro. E ninguém viu quando ele chegou perto dela na cozinha, com o coração palpitante, e sussurrou ao ouvido dela que ela era linda. Ela não fez cara de espanto, ou de irritação. Ela sorriu. E ele teve as boas vindas que queria.
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Ela sentia dor. “Quer que eu pare?”, perguntou ele, todo preocupado. “Pode vir, mas vem devagar, por favor. Não tenho a experiência que você tem”, respondia ela, que era virgem, a ele, o padre. Antes disso, ele já tinha dito que sabia que aquilo não era certo, mas ele estava apaixonado, por isso não conseguia ficar longe dela. Ela disse pra mãe que iria à capital. Ele disse à comunidade que iria a um retiro. Encontraram-se numa cidade a 100 km dali. Local que seria ponto de encontro semanal dos dois a partir de então.
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Ele, o pretendente, era muito querido por ela, a coordenadora da comunidade. Ela queria que a filha casasse com ele. Posses. Trabalhador. Família boa. Partido melhor não podia ter. Ela não o maltratava por causa da mãe, mas achava ele um babaca. Chegava lá falando de como fez pra comprar o carro novo, como era linda a fazenda, como era viajar de jatinho. Mais tarde, depois que ele ia embora da casa, ela costumava entrar pelos fundos da casa paroquial, e levar tapas na cara, puxadas de cabelo, mordidas no cangote e gritar “Ai meu Deus” involuntariamente enquanto gozava.
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A menstruação atrasou. De repente ela viu a chance de finalmente ficar com o ele, o padre. “Eu não posso assumir esse filho! Sou filho único e minha mãe não aguentaria tanto desgosto”, inventou a melhor desculpa que pôde. Durante duas semanas ela tentou convencê-lo de que poderiam ser felizes, e ele já não conseguia mais ter criatividade para desculpas. Até que ela resolveu tomar uma medida desesperada. Aceitou namorar com o panaca do pretendente, e aceitou casar, desde que fosse logo. Ela arranjou tudo para que o padre não tivesse tempo de fugir ou arrumar outro para presidir a celebração. Ela não queria esconder o filho ou coisa parecida, queria que o sacerdote sentisse ciúme. Ela queria que ele falasse a qualquer momento pra parar com aquilo.
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Com a arma na mão, ela disse pra ele confessar que a amava. A igreja toda gritando, a velharada correndo, gente desmaiando, o noivo se mijando, e o padre lá, covarde que era, fingindo não entender o que acontecia. Aliviava o coração do presbítero saber que ele ao menos morreria ali, sem ter que conviver com aquela culpa. Diante do silêncio dele, o padre, e das calças mijadas dele, o noivo, o tiro. Seco. Escorreram do padre, as lágrimas. Do noivo, mais mijo. Pelo vestido, o sangue. Com um só tiro, duas vidas se perderam.
Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...
"Histórias que deveriam ser mentirosas, mas não são".
ResponderExcluirConcordo!
Na minha cidade natal, chegou um padre baiano, e não passou muito tempo, cidade pequena, logo um boato se espalhou.
Uma moça, filha de família tradicional, católica por demais, estava se encontrando às escondidas com o padre.
Resumindo, engravidou.
Ele foi transferido pra uma cidadezinha da Bahia e ela ficou ali com o filho na barriga.
Hoje o menino já se tornou um homem e até pai já é.
Moral da história, o padre já é avô.
#Fato
Histórias como esta existem milhares né Majoli? No entanto a hipocrisia impera por lá ...
ExcluirAdorei a história, trágica, mas envolvente.
ResponderExcluirE Eraldo manda muito bem com as palavras ... eu aprecio muito ... parabéns a ele ...
Excluirbjão
A la Nelson Rodrigues mesmo, trágico, mais ainda é como existe pelo mundo afora. Por isso estou me denominando Atoa, sem igreja e ou religião, vemos isso no dia a dia na igreja católica ou nas igrejas evangélicas ou nas matrizes africanas.
ResponderExcluirAbraço
#fato
ExcluirMais Nelson Rodrigues impossível... hehehe! Muito bom o texto! E vou adorar teus anúncios anos 60... pode mandar! Bjos!
ResponderExcluirrecolhendo e mandando querido ...
Excluirbeijão
Aqui na minha cidade também tem filhos de padre. Outro dias mesmo, apareceu um, depois que o padre morreu. Herdou uma fortuna...era filho de uma professora do colégio de freiras... e nunca soube quem era o pai..até a pouco.
ResponderExcluirMas me lembrei de um livro que tínhamos de ler no ensino médio... talvez você conheça: " O Seminarista "..o padre fica louco, encomendando a alma da amada... Bom o livro...rsrrsr
Beijos Paulo.... gostei do conto.
Sim Margot, também conheço histórias reais por aqui ... o Seminarista eu tb li ... bons tempos de colégio ... ai ai ... rs
ExcluirEu já soube de cada caso envolvendo padres! Teve um que largou tudo pra ficar com um rapaz da paróquia. Tadinho, a família do moço fez o maior auê!
ResponderExcluirBeijos.
Eita Lucas! Danadinho este eim? eu conheci pessoalmente um q foi morto por um garoto de programa pq ele não quis pagar um cachaça com coca cola pra ele ... além de burro era pão duro ... OMG!
ExcluirQue mal lhe pergunte, esse causo aconteceu em Minas? (kkkkk) Mas, falando sério, a narrativa tá bem Nelson Rodrigues mesmo. E por falar em Nelson, precisa ver o livro do Rafael (Baú do Jamal)! É de uma "nelsice" que dá medo! Coisa mais linda!
ResponderExcluirBeijos.
kkkkkkkkkk ... not embora existam muitos por aqui assim ... Qto ao livro do Rafael eu tenho e será o próximo de minha lista por ler ... estou terminando o Cinquenta Tons mais Escuros e vem ele depois ... pondo em dia meus livros q estavam aqui na estante pegando poeira ...
Excluirbjão
Ahhhh,lembrei de um livro que li qdo era adolescente,chamava-se Pàssaros Feridos, a autora era uma tal de Colleen Mc Culough,se não me falha a memória, e contava a história de um padre lindo e sexy(Ralph de Bricassar!!!)que se apaixona por uma garota, o romance proibido deles virou até um filme com o Richard Chamberlain como protagonista..por acaso,vc leu o livro ou viu esse filme??? Era meio meloso mas era lindo...
ResponderExcluirPutz ... eu li e vi o filme ... primeiro em série no SBT e depois em VHS ... meloso sim mas uma delícia mesmo ...
ExcluirÉ que "anões" são parte do meu povo... hahahahaha! Gracias pelos links, bebê! Farei bom uso deles! Bjão!
ResponderExcluirQue final tragedia .....
ResponderExcluirrs ... fazer o q né? :-p
ExcluirGente, que tenso!
ResponderExcluirAdorei! ahahah
Beijo!!
#tenso
ExcluirBratz:
ResponderExcluirLinda semana querido.
Beijão.
para vc tb amigo ...
Excluirbjão aos dois
Os seres humanos, como eles são, né?
ResponderExcluirCom certeza ser humano tal e qual ele é ... o q me impressiona é a hipocrisia de alguns ... no caso dos ditos religiosos ...
Excluirbjão
Ah, Braccininho... eu DJUREI que tu ia vibrar com a Maysa Abusada... hahahahahahaha! BjAs!
ResponderExcluirsei viu? DJUREI né? hummmm ...rs
ExcluirEu até pensei em passar batido nesse te teu post, mas Kardecista que sou acho que NADA acontece sem nosso consentimento, ainda que nessa vida não saibamos. Bjo!
ResponderExcluir#fato
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