Anastácia perdeu o Pai há alguns anos.
Inconformada, desde então adotou os seus queridos manos como filhos e, assim, restabeleceu a figura de um Papys em seu clã.
Todos os anos, no segundo domingo de agosto a história se repete.
Três dias antes, em uma reunião familiar, ela consulta seus filhos queridos o o que desejam de almoço no domingo.
Após muita discussão estabelece-se o cardápio.
Na sexta feira começa a função de Anastácia. Bem cedo,lá vai ela, toda faceira, batendo a sua chinela havaiana e vestida com seu agasalho de frio [aqueles de tactel barato, azul e vermelho, que cabem duas Anastácias dentro] ao mercado comprar os ingredientes para a festança.
No sábado, lá está ela na cozinha com sua chinela havaiana e vestida com seu agasalho de frio [aquele, lembram?] colocar o bacalhau de molho para depois desfiá-lo.
Chega o domingo.
Cedo ainda, ali por volta das dez horas, chega ela na casa da matriarca, ainda com os olhos empapuçados, cabelo amassado, devidamente trajada com seu agasalho de frio e sua chinela havaiana, com toda a matéria prima necessária para o preparo da refeição.
A primeira cerveja é aberta e assim começa a função.
Descasca batata, cozinha batata, pica batata, descasca cebola, pica cebola, abri pimentão, corta pimentão, cozinha ovos, corta ovos [importante: uma bacia de batata, uma bacia de cebola, uma bacia de pimentão, duas dúzias de ovos e as mangas do agasalho de tactel auxiliam e, muitas vezes, dispensam a colher e ajudam no tempero].
Enquanto isto, a matriarca prepara o arroz [importante: uma panela daquelas tipo refeitório, sabem qual né?]. Tudo isto regado por gostosa proza:
- "Mãe! Sabe quem eu encontrei ontem? Não quem foi? Dinah! Dinah? Que Dinah? Dinah aquela que foi nossa vizinha por mais de 40 anos? Gente mas ela ainda está viva? Claro né mãe? Imagino como deve estar velha, acabada e feia! Que nada, ela está até muito bem. A mesma coisa. Ela está com 92 anos mas muito bem. ninguém dá para ela mais que 91 anos.
E proza continua enquanto os convivas vão chegando aumentando ainda mais a alegria de Anastácia. "Warti", sua esposa, a ex-esposa, seu filho e suas e filhas, seus genros, sua nora e seu neto. "Wagní", sua esposa, seu filho e namorada, suas filhas e namorados e mais alguns amigos inseparáveis.
Todos com suas chinelas havaianas, seus olhos empapuçados, cabelos amassados, os devidos shorts de nylon ou moletons. A proza fica mais animada já que as garrafas de cervejas vazias já se acumulam pelos cantos.
Anastácia monta as travessas de bacalhoada [seis travessas, das grandes para não dizer enormes].
O relógio marca 13 horas e lá vão todos desfrutar do digno almoço.
Ao final, do jeito que estão, cada um vai tomando o seu canto para o justo repouso.
Casa escura, cortinas fechadas, cada um com seu cobertor de lã para o rebuço de duas a três horas.
Lá pelas cinco, os primeiros a acordar já levantam procurando um prato para pegar uma rebarba complementar do almoço e, assim, a festa se prolonga até lá pelas sete horas, quando cada um vai para sua casa e, Anastácia feliz da vida se entrega novamente aos braços de Morfeu.
A cozinha? Bem! A cozinha fica para amanhã.
É indescritível a felicidade de Anastácia! Só vendo para crer!
Isto é o que eu chamo de "amor paternal" e de uma digna celebração do "Dia dos Pais"!!!
ps: 01 - Estas celebrações ocorrem todos os domingos mas, claro que, em algumas datas especiais como Ano Novo, Reis, Carnaval, Páscoa, Natal, dia das Mães, dia dos Pais, dia dos Avós, dia das Crianças, dia 7 de Setembro, dia da Bandeira, dia de São João, dia de Santo Antônio, dia de N. S. Aparecida, etc etc etc, elas ganham dimensões de maior requinte.
02 - Não me perguntem quem é Anastácia ... rs.
Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje ...