O Bratz é um cara experiente e vivido. Mas ele mesmo se surpreende em determinadas circunstâncias.
Há algum tempo venho observando o vai e vem de fregueses em um bar recém aberto aqui perto de casa. Tipos interessantes que, só na observação despretensiosa, já me causava um certo frisson.
Daí, resolvi programar uma passagem por lá para reconhecimento do local.
As tardes de sábado já estava configurado como o dia mais movimentado.
Fui.
Ao chegar pedi uma cerveja, me dirigi ao setor de maior movimentação e encostei na murada com minha bebida companheira.
Ambiente quente, cheiro de cigarro e de cerveja, machos sem camisas exibindo suas peles pardas, tipicamente trajados com suas bermudas florais e suas havaianas.
Isto é o suficiente para tirar o Bratz do sério.
O que faziam?
Jogavam sinuca. Sim! Sinuca.
Aquele esporte que envolve tacos, bolas e caçapas.
Quando falamos de tacos, bolas e caçapas estamos tratando de uma assunto sobre o qual tenho mestrado e doutorado.
Fiquei ali a observar como os cafuçus se divertiam com a prática. Tão compenetrado estava que, em um determinado momento, um deles me pergunta:
- E aí quer jogar?
Meio que constrangido respondi:
- Não tenho as manhas!
Ele insiste:
- Concentração, firmeza, percepção e determinação. Só isto!
Estas palavras vindas de um macho cafuçu me aguçou ainda mais.
Cafuçu intelectualizado? OMG!
Fiquei na minha e retruquei:
Deixa para a próxima!
Vou fazer a próxima jogada, a partida está no final, veja só!
Aproximei-me da mesa e fiquei atento.
O macho segurou firme o taco, preparou a ponta com giz, observou a mesa sob vários ângulos. Reclinou-se sobre ela o que proporcionou-me uma visão do paraíso: Braços fortes, axilas com pelos aparados, peitoral definido, abdômen no lugar, pernas grossas e pés que fugiram da sandália e se mostravam perfeitos. Apertei os olhos e voltei a me concentrar no que ele fazia. Duas tacadas e 3 bolas na caçapa. Percebi que a mesa ficou quase vazia. Só duas bolas restavam - uma branca e uma preta - perfeitamente alinhadas em direção a uma caçapa não muito distante.
Ele olha para mim, me estende o taco e fala em um tom que me soou autoritário:
Vai lá e mata a última! Tá fácil!
Não resisti àquela determinação de um macho que me extasiava.
Peguei o taco com firmeza, bolinei a sua ponta com giz, percebi as duas bolas alinhadas e reluzentes e concentrei-me em uma miragem do cafuçu imaginando-o ali, nu, deitado sobre a mesa. Com determinação dei a tacada final. Uma das bolas inicia o seu movimento em direção à outra. Um som seco de colisão se fez ouvir. A primeira perde força e diminui a sua movimentação, enquanto a outra ganha impulso pela força recebida e caminha célere rumo ao seu destino final. Outro som se faz ouvir e a bola 7 cai na caçapa definitivamente abatida.
Ele coloca sua mão pesada sobre meu ombro e diz:
- Viu! Fácil né?
Olhei para ele e acenei com a cabeça em sinal de concordância.
Peguei meu copo e estendi a ele. Ele agradece, pega o seu e brindamos.
Vamos "jogar" agora?
Respondi:
- Claro! Bora!
Voltei à murada e continuei a tomar minha cerveja e a observar os machos cafuçus em seu divertimento com tacos, bolas e caçapas.
Paulo Braccini
enfim! é o que tem pra hoje...