quinta-feira, 6 de março de 2008

Crônica sobre o Amor


Ninguém ama a outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário, os honestos, os simpáticos, os não-fumantes teriam sempre uma fila de pretendentes batendo à porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referências.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom da voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas e ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado. O beijo dela é mais viciante do que o LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e nem liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, ele está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, e, ainda assim, você não consegue dispensá-lo.
Mas quando a mão dele toca na sua nuca, você se derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não me pergunte. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu pra ser sacudido num comercial de shampoo e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desse, criatura, por que diabos está sem um amor?

Há, o amor, esta raposa.
Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática:
eu linda + você inteligente = a dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amor não requer conhecimento prévio e nem consulta ao SPC, Serasa.
Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e ótimos pais de famílias tão assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!

Roberto Freire






Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

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