sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cotidiano



Acordou as nove, mas não olhou que horas eram. Vestiu o agasalho estendido na cadeira, nem fazia frio. Fez café sabendo que não iria tomá-lo, ninguém iria tomá-lo. Apenas fez. Correu a casa verificando o silêncio, uma paz indesejada, cumprimentou as paisagens que pulavam pelas janelas. Saiu à praça para encontrar com algumas árvores, vigiava as folhas e os sapatos das pessoas, atravessava o tempo com a imaginação. Caminhou pela calçada, passou pelo lago, caminhou pela calçada. O quarteirão de tão pequeno parecia sufocá-lo. Os vizinhos roubavam-lhe de sua privacidade. Atrapalhavam sua tristeza. Permaneceu incolor, atrás dos óculos. Tropeçava em vozes, editava histórias que escutava nas esquinas. Aquele lugar é próprio à história alheia. O vento o ajudava a caminhar, seguia com pouca pressa. Nem se preocupou em olhar para os dois lados ao atravessar a rua. O mundo só atropela o que está em destaque.Visitou bares e copos de cerveja. Tomava uma garrafa a cada parada, exatamente uma garrafa, nada mais consumia. Voltou pelo mesmo trajeto, pouco antes das seis. Não conseguiria suportar o peso da noite. Deixou o portão entreaberto, a espera de ventos. Preparou o jantar, comeu apenas o suficiente, dispensou o banho. Deitou no sofá para escapar da cama vazia. Adormeceu antes que o próprio sono.
Fernando Palma

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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