quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Folia Brasileira . Breve Recesso


o reinado da folia chegou . hoje só para comunicar um breve recesso neste período de carnaval . afinal também mereço um descanso . estarei em sampa e, tão logo regresse, estaremos aqui para este nosso adorável encontro diário .


enquanto isto . deixo para reflexão .


"me leva para o cantinho e diz: agora morde!!! "


hihihi ...


Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Especulações em torno da palavra "Homem"





Mas que coisa é homem, que há sob o nome: uma geografia?
um ser metafísico? uma fábula sem signo que a desmonte?
Como pode o homem sentir-se a si mesmo, quando o mundo some?
Como vai o homem junto de outro homem, sem perder o nome?
E não perde o nome e o sal que ele come nada lhe acrescenta
nem lhe subtrai da doação do pai? Como se faz um homem?
Apenas deitar, copular, à espera de que do abdômen
brote a flor do homem? Como se fazer a si mesmo, antes
de fazer o homem? Fabricar o pai e o pai e outro pai
e um pai mais remoto que o primeiro homem? Quanto vale o homem?
Menos, mais que o peso? Hoje mais que ontem? Vale menos, velho?
Vale menos morto? Menos um que outro, se o valor do homem é medida de homem? Como morre o homem, como começa a?
Sua morte é fome que a si mesma come? Morre a cada passo?
Quando dorme, morre? Quando morre, morre? A morte do homem
consemelha a goma que ele masca, ponche que ele sorve, sono que ele brinca, incerto de estar perto, longe? Morre, sonha o homem?
Por que morre o homem? Campeia outra forma de existir sem vida?
Fareja outra vida não já repetida, em doido horizonte?
Indaga outro homem? Por que morte e homem andam de mãos dadas
e são tão engraçadas as horas do homem? mas que coisa é homem?
Tem medo de morte, mata-se, sem medo? Ou medo é que o mata
com punhal de prata, laço de gravata, pulo sobre a ponte?
Por que vive o homem?
Quem o força a isso, prisioneiro insonte?
Como vive o homem, se é certo que vive? Que oculta na fronte?
E por que não conta seu todo segredo mesmo em tom esconso?
Por que mente o homem? mente mente mente desesperadamente?
Por que não se cala, se a mentira fala, em tudo que sente?
Por que chora o homem? Que choro compensa o mal de ser homem?
Mas que dor é homem? Homem como podedes cobrir que dói?
Há alma no homem? E quem pôs na alma algo que a destrói?
Como sabe o homem o que é sua alma e o que é alma anônima?
Para que serve o homem? para estrumar flores, para tecer contos?
Para servir o homem? Para criar Deus? Sabe Deus do homem?
E sabe o demônio? Como quer o homem ser destino, fonte?
Que milagre é o homem? Que sonho, que sombra? Mas existe o homem?

Poesia Completa de Carlos Drummond de Andrade, p. 428 (Nova Aguilar)



palavras densas e contundentes . uma canção também densa e contundente .
qualquer coisa . caetano veloso




Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Carnaval




Que saudades dos antigos carnavais, da gentileza dos foliões, da beleza das fantasias, da gostosura das marchinhas, do colorido dos confetes e serpentinas, do cheiro de lança perfume, dos blocos de sujos, das donzelas em suas máscaras de gatinhos com suas varinhas a surrar a todos, dos índios, das bailarinas, da alegria contagiante.



Mas os tempos são outros e mais um Reinado de Momo se aproxima.
Verdade que sem o glamour que caracterizava os velhos tempos, mas com certeza, um período de muita alegria e descontração.
Um bom CARNAVAL para todos que aqui compartilham de minhas emoções.


Carnaval, pedaços de confetes atirados ao alto, a valorizar o brilho enquanto serpentinas cruzam os céus como estrelas cadentes a deixar um rastro de cores e de alegria! Tudo é carnaval, corpossuados , requebros sensuais, beijos ardentes, sorrisos largos, mão que se juntam, corpos que se tocam, nada em nome da paixão, tudo em nome da folia!!



E para os saudosistas como eu, um pouco daqules bons tempos das marchinhas.








Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

domingo, 27 de janeiro de 2008

Uma Diva

tempo fechado . tempo chuvoso . tempo triste . tempo que nem parece tempo de domingo . tempo que nem parece tempo de carnaval . tempo que nem parece tempo de viagem para são paulo . mas é o tempo assim como êle é . assim como êle quer ser . mas eu o transformo . tempo especial . especial para este cantinho . este cantinho de partilha . de partilha de emoções . emoções fortes . emoções maiores . emoções eternas . ELIS REGINA .


diva das maiores . sensibilidade pura . voz . presença . movimento .
ontem . hoje . sempre ELIS .

ilustração de Felipe Campos . blog kooldot


momentos raros . momentos eternos . momentos documentados . momentos postados . momentos de emoção . poucas palavras . eles se revelarão por si mesmos . vejam e sintam .


cara de elis este poema de lupcínio rodrigues . VOLTA .
como seria bom se pudesse ser . VOLTA .




Quero ouvir a tua voz
E quero que a canção seja você
E quero em cada vez que espero
Desesperar, se não te ver
É triste a solidão
É longe não te achar
É lindo o teu perdão
Que festa é o teu voltar
Mas quero que você me fale
Que você me cale caso eu perguntar
Se o que te fez mais lindo ainda
Foi a tua pressa de voltar
Levanta e vem correndo
Me abraça e sem sofrer
Me beije longamente
O quanto a solidão precisa pra morrer


este play contém 23 vídeos da Diva . documentos raros . desfrute destas emoções

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 26 de janeiro de 2008

Parabéns São Paulo



Uma menina moça de 454 anos . esta é o meu amor . a minha paixão . a cidade que desejaria muito ter sido minha terra natal . mas não foi . não tem importância isto . aprendi a amá-la mais ainda . quem sabe . um dia . não serei adotado por ela . 24 janeiro 2008 .




parabéns SAMPA .

assista aqui dois vídeos que retratam um pouco desta maravilha, ao som de Premeditando o Breque interpretando uma canção das mais lindas que tem a cara desta metrópole.








Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Apesar de ...

clarice . arte de loredano


... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer.
Apesar de, se deve amar.
Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi.
E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero.
Mas quero inteira, com a alma também ...



Clarice Lispector . caneta e pincel

“escrever é o modo de quem tem a palavra como isca:

a palavra pescando

o que não é palavra.”



Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O Sonho

imagem . blog piano . isabel ferreira

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus
caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

crônica de Clarice Lispector . versificada por Pe. Antônio Damázio




Sonhos . Peninha . Caetano Veloso
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Tempo



" Há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu:
Tempo de nascer e tempo de morrer,
Tempo de plantar e tempo para colher o que se plantou,
Tempo de matar e tempo de curar,
Tempo de derrubar e tempo de construir,
Tempo de chorar e tempo de rir,
Tempo de prantear e tempo de dançar,
Tempo de espalhar pedras e tempo de juntá-las,
Tempo de abraçar e tempo de se conter,
Tempo de procurar e tempo de desistir,
Tempo de guardar e tempo de jogar fora,
Tempo de rasgar e tempo de costurar,
Tempo de calar e tempo de falar,
Tempo de amar e tempo de odiar,
Tempo de guerrear e tempo de viver em paz "

Bíblia . Eclesiastes 3



"carinho aos amigos Bráz Jr . Mestiça (inspiração para este post) .
Th (parabéns) . Pedragávea (só louco) . Fabiano (Bibico do Planalto . companheiro de peraltices nos blogs)
mais que especial . DDzim"



És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Vou te fazer um pedido Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Entro num acordo contigo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
És um dos deuses mais lindos
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Ouve bem o que te digo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Quando o tempo for propício
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
E eu espalhe benefícios
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Apenas contigo e comigo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Num outro nível de vínculo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Nas rimas do meu estilo
Tempo . tempo. tempo . tempo ...

Oração ao Tempo . Caetano Veloso



Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Oração

Aqui estão duas crônicas dramáticas de Clarice Lispector. Em se tratando de palavras agudas, geradas da genialidade e da sensibilidade de Clarice já é motivo suficiente para merecer um momento de reflexão, mas estas crônicas, ganharam um lirismo estonteante na versificação feita por Pe. Antônio Damázio. Sintam a grandeza destas maravilhas ao som de outra obra tão extraordinária quanto . Adágio de Albinoni em uma versão jazística feita por European Jazz Trio.





Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços o meu pecado de pensar.




A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
-essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.






Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Verso Puro



Genial poetisa lusitana, marcada por uma vida trágica, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais pura beleza, carregada de erotização e feminilidade.

Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal.

"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"

Li, não sei onde

Li um dia não sei onde
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados

Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado...
Digo pra mim... de nós dois
Quem ama e quem é amado?


Florbela Espanca . poema original sem título . publicado em 1916

Os teus olhos

O céu azul, não era
Dessa cor, antigamente;
Era branco como um lírio,
Ou como uma estrela cadente

Um dia, fez Deus uns olhos
Tão azuis como estes teus,
Que olharam admirados
A taça branca dos céus.

Quando sentiu este olhar:
Que doçura, que primor!
Disse o céu, e ciumento,
Tornou-se da mesma cor!


Florbela Espanca . publicado em 1916

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Tudo quanto penso




Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.
Fernando Pessoa






Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Correspondência


As pessoas se escrevem porque não podem se falar: o mais das vezes por causa da distância, da separação, de um espaço que as falas não podem transpor.
Esse foi durante séculos o único meio de dirigir-se aos ausentes, de levar o pensamento aonde o corpo não podia ir, aonde a voz não podia ir, e talvez esse seja o mais belo presente que a escrita deu aos viventes: permitir-lhes vencer o espaço, vencer a separação, sair da prisão do corpo, ao menos um pouco, ao menos pela linguagem.
Escrevemos nossas cartas para habitarmos juntos, tanto quanto pudermos, apesar da separação, apesar do espaço, o pouco tempo que nos é dado em comum, para compartilhar alguma coisa, um acontecimento, ou um pensamento, uma emoção ou um sorriso, muitas vezes quase nada e esse é o essencial de nossas vidas, para compartilhar essa pobreza que somos, que vivemos, que nos faz e desfaz, antes que a morte nos pegue, para não renunciar, enquanto respiramos e sejam quais forem os quilômetros que nos separam, à doçura de viver juntos, em todo caso ao mesmo tempo, à doçura de compartilhar e de amar. Contemporâneos da mesma eternidade, que é hoje. Passantes da mesma passagem, que é o mundo.
Escrevo-te para dizer-te que te amo, ou que penso em ti, que me alegro, sim, de ser teu contemporâneo, de habitar o mesmo mundo, o mesmo tempo, de só estar separado de ti pelo espaço, não pelo coração, não pelo pensamento, não pela morte.
A escrita nasce da impossibilidade da fala, de sua dificuldade, de seus limites, de seu fracasso.
Por que escrever quando se pode falar-se, quando se fala efetivamente? Porque nem sempre se pode falar, nem de tudo, porque a fala pode criar obstáculo para a comunicação, por vezes, ou condená-la à tagarelice, porque é preciso ter tempo de ficar sozinho, porque é doce pensar no outro em sua ausência, ainda que se deva vê-lo no dia seguinte, dizer-lhe o lugar que ocupa em nossa vida, mesmo quando ele não está presente, em nosso coração, em nossa solidão.
Nossas cartas se parecem conosco, desde que o queiramos um pouco, e mesmo, às vezes, quando não o queremos. Frágeis como nós. Irrisórias como nós. Bela por vezes. Pobres e preciosas, corriqueiras e singulares, quase sempre. Um pouco de nossa alma introduziu-se ali, na pouca espessura de um envelope. Um pouco de nossa vida, na loucura do mundo. Um pouco do nosso amor, no deserto das cidades.
Por que se escreve uma carta? para habitarmos juntos a essencial solidão, a essencial separação, a essencial e comum fragilidade. Para descrever o tempo que está fazendo, o tempo que está passando. Para contar o que nos tornamos, o que somos, o que esperamos. Para exprimir a distância, sem a suprimir. O silêncio, sem o corromper. O eu, sem se fechar nele.

André Comte . Bom Dia, Angústia!, do ensaio “A Correspondência”

Mensagem . Canção antiga em uma nova roupagem de Ná Ozzetti . Linda


Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Insensatez


A insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor
O seu amor
Um amor tão delicado
Ah, porque você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração quem nunca amou
Não merece ser amado

Vai meu coração ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não Pede perdão
Não é nunca perdoado

Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim







(Insensatez na voz de Fernanda Takai . uma releitura de Nara Leão, da Bossa Nova, contemporãnea e extremamente bela)

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...



terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Luta e Glória


“As coisas da guerra são de todas as mais sujeitas a contínuas mudanças; o que eu mais creio, e deve ser verdade, é que aquele sábio Frestão, que me roubou o aposento e os livros, transformou estes gigantes em moinhos, para me falsear a glória de os vencer, tamanha é a inimizade que me tem; mas, ao cabo das contas, pouco lhe hão de valer as suas más artes contra a bondade da minha espada.”

de Dom Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes

(Publicado no Blog Abstrações Virtuais de André Meireles)

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...


Eu morri por falta de beleza


Eu morri por falta de beleza
Ajustado no túmulo,
Quando quem morreu de verdade foi um mentiroso
No quarto adjacente.
Ele questionou-me suavemente por que falhou?
"Pela beleza", eu respondi.
"E eu pela verdade, os dois são um só;
Nós somos irmãos", disse ele.
E assim, como parentes reunidos numa noite,
Conversamos entre as salas,
Até que o musgo alcançou os nossos lábios,
E cobriu os nossos nomes.

adaptado de Emily Dickinson

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

É 100


Este Blog começa a fazer história e isto me deixa feliz. Ao longo dos últimos 05 meses tive oportunidade de compartilhar com os amigos um pouco das minhas emoções. É certo que após um início meio que tímido, de novembro para cá a produção foi intensa, acho que reflexo mesmo de um momento de vida, afinal tudo é assim mesmo, cada tempo tem o seu tempo. Assim, completamos hoje a postagem de número 100 e, para celebrar, escolhi momentos de estrema beleza do "poetinha" - Vinícius de Moraes. Falar mais o que ... deixo cada um com a minha emoção, com a sua emoção, com a emoção do sentimento de um dos gênios de nosso tempo.



Ternura - Vinicius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora .












Obrigado a todos que aqui se fazem presentes

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Avatá

Hoje uma postagem bem light . só uma brincadeira de quem não tinha muita coisa para fazer . daí fui criando um avatá para mim . "abraxux e bjux"


Photobucket - Video and Image Hosting



Amigo! Alguém que sabe tudo a nosso respeito e gosta da gente assim mesmo...

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sábado, 12 de janeiro de 2008

Tabacaria


“(...)
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente 0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(...)”
Fernando Pessoa

(texto e foto publicado por andré meireles em seu blog . abstrações virtuais)


Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Mais um pouco do talento


Mineira de voz firme e maleável, Angela Evans começou a carreira em 1990 e, em 1996, entrou para a banda Fina Estampa. Chamou atenção dos músicos mineiros quando participou do projeto Noite dos Violonistas, promovido por Pacífico Mascarenhas, com Toninho Horta, Baden Powell e Chiquito Braga, e da Noite dos Pianistas e Convidados, com João Donato, Marcos Mazano e Mauro Continentino, em homenagem a Luiz Carlos Vinhas. O primeiro disco, “Marítma”, de 2002, apresentou uma cantora pronta, madura, com uma forma de cantar samba intenso e original. O segundo trabalho, “‘Um Pouco de Morro, Outro Tanto Cidade Sim”, ganhou elogios de artistas como Wilson das Neves e Luiz Carlos da Vila, e provocou a aproximação com Hermínio Bello de Carvalho. Que, após ouvir o disco classificou a cantora como “uma excelente e visceral cantora-interprete, com timbre cheio de lindas estranhezas, portadora de grande personalidade. E que, espero, irá também abalar os vossos corações, tal qual fez despertar o meu”.

Outra palhinha do talento . quer mais . visite meu outro blog

http://paulobraccini.vox.com/




Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

Uma "pequena notável"



A música mineira que já gerou Clara Nunes, vê brilhar em seu cenário a "pequena notável" Ângela Evans. Guerreira, de anos, vem colhendo seus frutos de reconhecimento nacional, ao lançar seu mais novo CD "um pouco de morro outro tanto cidade sim", onde canta Elton Medeiros, Eduardo Gudin, Nei Lopes, Wilson das Neves, Cristóvão Bastos dentre outras feras da MPB. Para ilustrar este reconhecimento, postamos aqui coluna do músico Aquiles Reis (vocalista do MPB4), que se rende às virtudes desta que veio pra ficar no cenário da música brasileira.

Angela Evans chegou.

Você já ouviu falar em Angela Evans? Ela é dessas cantoras que chegam e abalam; daquelas que vêm e alucinam. A voz de Angela tem rara personalidade: metalizada nas notas agudas, nasalada nas notas médias. Ao ouvi-la, senti o mesmo impacto, tive a mesma surpresa, de quando escutei pela primeira vez o cantar de Jamelão.
Lançado pela Abolição Discos, Um Pouco de Morro Outro Tanto Cidade Sim é o CD que traz Angela Evans à cena. Ele expõe uma cantora que chega pronta aos ouvidos gerais, não fosse ela de Minas. Angela tem tal grau de maturidade vocal, que sua voz prescinde de retoques e salamaleques para se revelar inteira.
Produzido por Jota Moraes, o CD está impregnado de evidente carinho. Na direção musical está Cristóvão Bastos – ele fez todos os arranjos e tocou piano nas onze faixas do disco –, que tratou de garantir a excelência do trabalho arregimentando músicos do calibre de João Lyra (violão), Jurim Moreira e Carlos Bala (bateria), Bororó (baixo acústico), Jorjão Carvalho (baixo elétrico) e Ovídio Brito (percussão).
O CD abre com "Estrela" (Elton Medeiros, Eduardo Gudin e Roberto Riberti), da qual foram extraídos os versos que dão título ao disco. O violão e o ritmo começam. O piano soa a bela melodia, tocando acordes em bloco. Logo vêm as notas soltas. Chega o tamborim. Vem a voz. Meu Deus! O violão e o baixo acústico fazem o centro. A bateria de Jurim e a percussão de Ovídio conduzem tudo com afabilidade. O violão e a delicadeza do piano encerram a música.
Em "E o Vento Levou" (Wilson das Neves e Cláudio Jorge), o piano e o violão fazem a introdução. A voz canta notas iguais às do piano. O baixo acústico marca. O piano balança. As viradas da bateria são limpas, certeiras. O violão afiança. O piano conduz o som, ora em acordes, ora em notas soltas. Breve intermezzo de piano. Volta a voz de Angela... Meu Deus!
"Sete Saias" (Wilson Moreira e Nei Lopes). Samba no qual o violão é quem dá o tom. O piano toca acordes que fazem tudo pela melodia e pela harmonia. Vem a segunda parte. Agora o piano dá um acorde a cada tempo, emprestando à música suingue ainda maior. A bateria não se faz de rogada e participa da brincadeira. Pára tudo. Ficam bateria e baixo acústico. A voz canta o contagiante refrão. Meu Deus! Voltam todos. O piano segue com sua malemolência, dando um acorde na cabeça de cada tempo. Simples. Alegre.
"Não Tem Perdão" (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza): a introdução traz um diálogo entre o violão e o piano. Então, a música de Ivan brota da garganta de Angela Evans. Linda. O diálogo volta, e a voz retoma a primeira parte do samba. O piano segue pontificando. A bateria e o baixo acústico chamam para si a entrada da segunda parte e levam pela mão a cantora e sua voz – meu Deus! Volta o diálogo inicial. Fim da música.
"Favela" (Jorginho e Padeirinho), obra-prima que ganhou arranjo moderno que lhe dá ares de ainda mais contemporaneidade. O arranjo escrito para bateria, piano, baixo acústico e violão cria uma bela introdução. E.os acordes, usando notas graves do piano, lhes dão tons épicos. Volta a voz de Angela. Cristóvão passa a tocar predominantemente nas notas agudas. O violão suinga. O agogô se junta ao baixo para revelar um samba antológico. E todos voltam a tocar juntos. O desenho criado para a introdução volta. Angela canta. Meu Deus! Conclui-se um dos momentos mais belos do CD.
"Nada a Declarar" (Cristóvão bastos e Nei Lopes) – título que parece ironia, posto que tudo foi declaradamente cantado por Angela Evans – tem piano, baixo elétrico, violão e a bateria de Carlos Bala tocando a introdução. O samba que fecha o CD tem seu ponto máximo no momento em que o ritmo deixa para os acordes destacados de piano e violão. Este artifício causa expectativa em quem aguarda a volta da bateria. E ela volta com tudo. O samba se revela. A voz alonga.
Que voz tem Angela Evans, meu Deus! Feito a de Jamelão, a dela não nega fogo.


Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa

http://www.brazilianvoice.com/mostracolunas.php?colunista=Aquiles%20Reis&id=864







Uma amostra do som musical de Angela Evans




Mais um pouco de Ângela Evans em meu outro Blog e no site pessoal:

http://paulobraccini.vox.com/

http://www.angelaevans.com.br/

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Sêcos & Molhados


Nasceu no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai, e aos 17 anos entrou para a Aeronáutica, indo mais tarde trabalhar no laboratório de anatomia patológica do Hospital de Base de Brasília. Pouco mais tarde começou a cantar em um quarteto vocal e participou de um festival universitário, depois do que enveredou para a carreira artística, querendo ser ator de teatro. Com esse objetivo foi para o Rio de Janeiro em 1966, onde virou hippie e passou a viver da venda de peças de artesanato. Em 1971 mudou-se para São Paulo, adotou o nome artístico Ney Matogrosso e passou a integrar o grupo Secos e Molhados, que, em apenas um ano e meio de vida, tornou-se um fenômeno, vendeu mais de um milhão de discos e se desfez. Ney Matogrosso projetou-se com o sucesso da banda, chamando a atenção por sua voz e por sua performance sempre teatral no palco. Com o fim do Secos e Molhados seguiu uma carreira individual de sucesso, ganhando vários Discos de Ouro e de Platina e se apresentando no exterior. Conhecido sobretudo pela maneira extravagante de se apresentar, com maquiagem, roupas escandalosas, trejeitos e a voz aguda, sempre criou polêmica, e um de seus maiores sucessos foi "Homem com H" (Antônio Barros). Seus discos da década de 70 ("Pecado", "Bandido", "Feitiço", "Seu Tipo") foram marcantes em sua carreira. Excursionou pelos Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Europa e Israel. São dessa época as músicas "América do Sul" (Paulo Machado), "Bandolero" (Lucinha), "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" (Chico Buarque/ Rui Guerra). Nos anos 80 gravou "Por Debaixo dos Panos" (Ceceu), "Tanto Amar" (Chico Buarque), "Ando Meio Desligado" (Mutantes), "Sangue Latino" (João Ricardo/ Paulo Mendonça), "Vereda Tropical" (Gonzalo Curiel). Em 1986 se apresentou pela primeira vez sem fantasia, e resolveu incorporar um lado sóbrio à sua escandalosa carreira. Desde então resolveu valorizar seu trabalho exclusivamente como cantor e adotou um repertório clássico de MPB. O primeiro disco a seguir essa linha foi "O Pescador de Pérolas" (1986), em cujo repertório inclui-se "O Mundo É um Moinho" (Cartola), "Dora" (Dorival Caymmi), "Da Cor do Pecado" (Bororó) e "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso). Apresentou-se em temporada acompanhado pelo violonista Raphael Rabello, com quem gravou o disco "À Flor da Pele" em 1990, e gravou discos dedicados a intérpretes/compositores, como Ângela Maria ("Estava Escrito", 1994), Chico Buarque ("Um Brasileiro", 1996) e Cartola (“Ney Matogrosso interpreta Cartola”, 2002). Depois de participar de um disco da banda Pedro Luís & a Parede, em 2004 Ney resolve se juntar à banda num projeto conjunto. O resultado disso é o CD “Vagabundo”, lançado pela Som Livre, que se desdobra em dois DVD´s: um da etapa de ensaios e gravações e outro do show registrado ao vivo no Olympia em junho de 2005 (ainda a ser lançado). Com músicas variadas, “Vagabundo” é composto de 14 faixas, passeia desde a época do Secos&Molhados com “Assim Assado”, passando por “Disritmia” (Martinho da Vila), A Ordem é Samba (Jackson do Pandeiro e Severino Ramos), Napoleão (Luhli e Lucina), entre outras. Em 2005, pela gravadora Universal, é lançado em CD e DVD ao vivo, gravados no SESC Pinheiros (SP – Capital) em dezembro de 2004, “Canto em Qualquer Canto”. Neste projeto, Ney Matogrosso retoma o formato de recital, deixando um pouco de lado suas apresentações performáticas e se concentrando na sua interpretação. O CD é composto por 14 faixas, alguns clássicos de seu repertório que voltam recriados, com arranjos belíssimos e originais, dentre eles: “Dos Cruces”, “Ardente”, “Tanto Amar”. Além de músicas inéditas como “Canto em Qualquer Canto”, de Ná Ozzetti e Itamar Assumpção, “Uma Canção por Acaso”, de Pedro Jóia e Tiago Torres da Silva, “Oriente” de Gilberto Gil.




Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Convite


meu post de hoje é para convidar os amigos deste blog para uma viagem pela ,minha terra .
as minas gerais .
suas cores . seus sons . suas emoções .


para isto visitem meu outro blog no link abaixo:


http://paulobraccini.vox.com/

Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...







terça-feira, 8 de janeiro de 2008

"Meu Bem Querer"


Encontre alguém que te chame de lindo ao invés de gostoso.
Que te ligue de volta quando voce desligar na cara dele.
Que permaneça acordado só para observar você dormindo.
Espere por alguém que te beije na boca com muito amor, mas que também te beije na testa com muito respeito.
Que queira te mostrar para todo mundo mesmo quando voce está suado.
Alguém que segure sua mão na frente dos amigos dele.
Que te ache a pessoa mais bonita do mundo e que insista em te segurar pela cintura.
Aquele que te lembra constantemente o quanto ele se preocupa com você e o quão sortudo ele é por estar ao seu lado.
Espere por aquele que esperará por você.
Espere por aquele que vire para os amigos e diga
É a pessoa que eu sonhava! (rl)
um presente de Fabiano Teles





Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Compartilhar - Sêneca, Cartas a Lucílio


Tu não podes conceber de quanta importância se reveste para mim cada dia.
Se a sabedoria só me for concedida na condição de a guardar para mim, sem a compartilhar, então rejeitá-la-ei:
nenhum bem há cuja posse não partilhada dê satisfação.
Sêneca, Cartas a Lucílio
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Tristeza


De Tanto Amor . Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Ah ! Eu vim aqui amor
só pra me despedir
E as últimas palavras desse nosso amor,
você vai ter que ouvir
Me perdi de tanto amor,
ah, eu enlouqueci
Ninguém podia amar assim e eu amei
E devo confessar, aí foi que eu errei
Vou te olhar mais uma vez,
na hora de dizer adeus
Vou chorar mais uma vez
quando olhar nos olhos seus,
nos olhos seus
A saudade vai chegar
e por favor meu bem
Me deixe pelo menos só te ver passar
Eu nada vou dizer
perdoa se eu chorar

"Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu." Luis Fernando Veríssimo

nem comento mais nada ...





Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

Jesus! O Homem Histórico


Capítulo Final
De Jesus a Cristo. Imagine Nova York como o centro espiritual do mundo muçulmano. Ou mesmo a Basílica de São Pedro, no Vaticano, transformada numa mesquita dedicada ao profeta Maomé. Improvável, não? "Foi algo dessas proporções que aconteceu com a expansão do cristianismo", diz André Chevitarese. "Em cerca de três séculos, a crença de uns poucos seguidores se tornou a religião oficial do Império Romano, o mesmo império que havia ordenado a sua morte."Como isso ocorreu?
Para os cristãos, a resposta é simples: Jesus ressuscitou. Essa seria a evidência de que o homem crucificado não era, afinal, apenas um homem e sim Cristo, o messias esperado pelo povo judeu. Mas como entender o evento da ressurreição? "Nenhum outro tipo de milagre se choca mais com a mentalidade cética da moderna cultura ocidental", diz o padre John P. Meier. Para ele, ficar especulando sobre o que aconteceu com o corpo de Jesus é, do ponto de vista da história, uma tarefa inútil. "A essência da crença na ressurreição é que, ao morrer, Jesus ascendeu em sua humanidade à presença de Deus", diz Meier. "Descobrir qual a ligação dessa humanidade com o seu corpo físico não é matéria dos historiadores."
Mas se a ressurreição é uma questão de fé e não de história, os estudiosos estão pelo menos conseguindo esclarecer detalhes sobre o terrível momento que a teria antecedido: a crucificação. Tudo começou em 1968, quando foi descoberto na região de Giv'at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém, o único esqueleto de um crucificado conhecido pela ciência. Depois que os ossos foram analisados pelos pesquisadores do Departamento de Antiguidades de Israel e da Escola de Medicina Hadassah, da Universidade Hebraica de Jerusalém, conclui-se que os braços não foram pregados, mas amarrados na travessa da cruz. Já as pernas do condenado foram colocadas em ambos os lados da base vertical de madeira, com pregos segurando o calcanhar em cada lado. Não havia evidências de que suas pernas haviam sido quebradas depois da crucificação para apressar a sua morte. "O curioso é que uma revelação surpreendente sobre a morte na cruz não surgiu da descoberta de esqueletos, mas da falta deles", diz Pedro Lima Vasconcellos, da PUC de São Paulo. "Afinal, se centenas e até milhares de pessoas foram crucificadas na época, por que apenas um esqueleto foi encontrado?"
O historiador John Dominic Crossan diz que há uma razão terrível para isso: "As três penas romanas supremas eram morrer na cruz, no fogo e entregue às feras", diz Crossan. "O que as tornava supremas não era a sua crueldade desumana ou sua desonra pública, mas o fato de que não podia restar nada para ser enterrado no final." Apesar de ser fácil de entender por que não sobraria nada de um cadáver consumido pelo fogo ou devorado por leões, ele diz que a maioria das pessoas esquece que, no caso da crucificação, o corpo era exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. Como um ato de terrorismo de Estado, a extinção do cadáver também tinha como vantagem para as autoridades evitar que o túmulo do condenado se tornasse local de culto e resistência.
Mesmo que ninguém saiba o que ocorreu após a morte de Jesus (alguns historiadores acham razoável que a família e os amigos pudessem ter reivindicado o seu corpo), o fato é que seus seguidores passaram a relatar suas aparições. "Não se deve subestimar o poder dessas experiências em nome do racionalismo", diz Paulo Nogueira, professor da Universidade Metodista de São Paulo. "Afinal, as pessoas tinham visões, entravam em transe. É uma simplificação, por exemplo, ficar tentando encontrar razões sociológicas para explicar a experiência mística responsável pela conversão de Paulo."
Nascido na cidade de Tarso, na atual Turquia, Paulo (São Paulo, para os católicos) talvez seja o homem que, sozinho, fez mais pela expansão do cristianismo que qualquer outro dos seguidores de Jesus. O curioso é que, antes de se converter, ele era uma espécie de agente policial encarregado de perseguir os cristãos. "Sua conversão foi tão surpreendente na época como seria hoje ver um embaixador israelense se converter à causa palestina", diz Monica Selvatici, doutoranda em História da Unicamp e especialista em Paulo. "Suas idéias terminaram afastando o cristianismo do judaísmo da época."
Ela explica que, depois da morte de Jesus, não havia uma distinção clara entre judeus e cristãos. "Os seguidores de Jesus eram apenas judeus que defendiam a tese de que ele era o messias, ao contrário daqueles que não o reconheciam como tal", diz Mônica. "Eram uma ala do judaísmo, assim como o PT tem alas que não representam as idéias predominantes do partido." Como falava grego muito bem e foi um dos cristãos que mais viajaram, ele discordava dos judeus-cristãos que defendiam a tese de que os gentios convertidos precisavam seguir rigorosamente a lei judaica, incluindo aí a necessidade da circuncisão - não vista com bons olhos pelos estrangeiros. Em suas cartas (epístolas), são famosas as polêmicas travadas com Tiago (São Tiago, para os católicos), suposto irmão de Jesus, que teria sido um defensor de um cristianismo mais fiel ao judaísmo.
Mas a idéia central de Paulo, resumida na frase de que "o verdadeiro cristão se justifica pela fé e não pelos trabalhos da lei", prevaleceu. Os gentios podiam agora se converter sem tantos empecilhos e o cristianismo ganhou novas fronteiras. "Paulo ajudou a tirar de Jesus a imagem de um messias para o povo hebreu, transformando-o num salvador de todos os povos", diz Mônica. "Jesus deixou de ser um fenômeno regional para ganhar um caráter universal."
A influência de Paulo é tão grande, que há historiadores que chegam a dizer que o cristianismo como o conhecemos é, na verdade, um "paulismo". "Isso é um exagero", diz Paula Fredriksen, professora de estudos religiosos da Universidade de Boston e autora do livro From Jesus To Christ ("De Jesus a Cristo", inédito no Brasil). "Com ou sem Paulo, já havia um movimento forte entre os judeus cristãos de que os gentios não precisavam seguir estritamente as leis para serem salvos", diz Paula.
Mas o que levaria um cidadão romano a trocar os seus deuses para cultuar um judeu da Galiléia? (Lembrando que, na época da morte de Jesus, um cidadão romano sabia tão pouco sobre as várias correntes do judaísmo como um ocidental hoje sabe sobre as linhas do Islã.) "O cristianismo trouxe uma idéia de salvação da alma que não existia na religião romana", diz Pedro Paulo Funari, professor de história e arqueologia da Unicamp. "A religião romana tinha um aspecto formal, público, pouco ligado às inquietações da vida depois da morte". Mas Funari explica que, apesar do formalismo das crenças romanas, a idéia de salvação da alma já estava difundida na população pela influência de algumas religiões orientais, como o culto a Íris e Osíris, do Egito. "Isso deve ter facilitado ainda mais a expansão do cristianismo em Roma", diz Funari.
O ápice dessa expansão se deu quando o imperador romano Constantino converteu-se ao cristianismo, no século 4. Ninguém sabe ao certo se ele foi motivado mais por dilemas espirituais do que razões políticas (afinal, ao se converter, ele pôde contar com o apoio dos cristãos e com a estrutura de um Igreja já bem organizada.) O certo é que alguns séculos depois, a cruz, imagem brutal da sua crucificação, foi usada para invocar a guerra e a paz entre os povos. E Yeshua, o judeu pobre que morreu praticamente despercebido durante a Páscoa em Jerusalém, já era conhecido por boa parte do mundo como o Cristo. O mesmo Cristo cujo nascimento passou a ser celebrado todos os anos, no mês de dezembro, no dia de Natal.


Então, fica aqui esta matéria que achei "super interessante" (desculpem o duplo sentido da expressão). Um assunto que polêmico por natureza mas que tem o seu lado histórico ja bem fundamentado nas pesquisas e estudos arqueológicos.

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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