quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Eu sou ele de ela!




Em 1988 o jovem promovido carimbava requisições de materiais no almoxarifado para o controle dos pedidos que lhe impulsionavam o cotidiano enquanto respirava o pó de aço que em pretejava sua gola e seus punhos de camisa na repetida firma de seu dia a dia, e aos trancos carimbava seus reclames do excesso de pedidos sem assinatura que ele rejeitava para o honesto serviço do progresso. Apesar de funcionário novato já era a hora certa de reclamar ao chefe o que ele não podia aceitar: requisições que pediam de mais, parafusos e molas em quantidade absurda num papel sem assinatura que ele  no computador não poderia lançar, mais fácil usar a boa e velha caneta que escrevia as peças  nas fichas de inúmeras gavetas enfileiradas num arquivo de fichário cinza e enferrujado, lá tudo se pode concertar no próprio punho para a caneta cega que refaz as contas sem ofender ninguém. "engenheiros irresponsáveis ou operários analfabetos que não pensam no que é certo ou que não sabem escrever o nome".  Calma, dizia o chefe, no final do mês a conta fecha. Olhe, abriu sorrateiramente a porta do setor e mostrou para impressionar o jovem uma imensa garra comandada pelo motorista que do alto da torre descia a mão de aço que tomava a sucata de alumínio e ferro. Mas impressionante mesmo era o imã que com seus cabos de aço desciam próximos aos vagões lotados e, como mágica, fazem flutuar toda a sucata até o gigantesco forno, queimava em alto grau derretendo todo o material para fabricar o aço em lingotes flamejantes vermelhos e alaranjados, fogo que transforma o sucesso no progresso de toda nação. Lindo, ou não.  Só o ferro e o fogo não bastam, pois não são capazes nem de assinar para assumir as atas, um dia tudo sai do controle, pensou o jovem auxiliar de escritório dois, número registrado para diminuir seu salário.  Eu assino, disse o chefe. O rapaz debruçou-se sobre a mesa como uma secretária, curvou-se apoiando os cotovelos, enquanto o chefe em vez de assinar tocou suas nádegas, assinava com as mãos, os dedos, colocou um, dois, e depois a língua, fartou-se entre as pernas como quem lambe os lábios de uma vagina.  Sentiu o gosto de comer uma bundinha jovem e lisa, abriu a gaveta e retirou uma calcinha, vestiu no jovem menino que estreava seus 18 anos abraçando seus mamilos, virou ele sobre a mesa, mas era cedo para isso, ajoelhou o jovem então no velho assoalho que com suas mãos sujas de carbono roxo engoliu o pênis do chefe como uma, duas, três vias, de um registro feito de saliva, escorrendo pelo canto da boca que mal fechava, pelo pênis largo e grosso até a garganta silenciando o gosto, a fala, senão pelo joelho no velho assoalho que rangia, nunca foi trocado, madeira tão antiga quanto a poeira daquela firma. Insistiu o chefe, deitou o menino como uma menina sobre a mesa que abria as pernas para ser penetrado como um lingote de aço ... foi. Respirou com o pênis dentro o ir e vir de um sentir em demasia. Deu uma última estocada  beijando-lhe a boca, os mamilos, as coxas ... e ejaculou, ...livre! Então, descansados, perguntou: é sempre assim, você menino de menina. -Sim. -E não faz o papel de macho? -Não, que pergunta indecente. -Por que, você é crente. -Não, apenas sinto assim. -Assim como? -Feminina. -Como um menino de menina. -Não, como um rapaz de alma feminina, eu sou ele de ela. -E você assina. -Não, alma não fala, senti. -E o que garante que o teu sentir é de menina? -Nada, talvez por convicção. -Então você também não assina. Assim, o chefe apagou a luz do setor, olhou para o computador com tristeza de um progresso que logo substituiu os fichários, mandou embora os funcionários e suas convicções no kardex-almoxarifado e ainda trocou os tornos mecânicos por tornos computadorizados, desistiu o jovem do seu curso de processamento de dados e foi estudar teatro, mas até hoje, como cultura-funcionária de um funcionário, vive no pulmão do jovem promovido, "o velho pó de aço".  

Conto do amigo JúlioSeidenthal postado em seu Blog.

Bratz Elian
enfim! é o que tem pra hoje

20 comentários:

  1. Li esse conto no blog dele. Ele tem jeito para a escrita.
    Beijos Paulo

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  2. Existem escritores tão talentosos sem divulgação que acho foda quando um livro de merda faz sucesso. Estou lendo uma coletânea de contos gays que está me deixando bem feliz.
    O texto é bem legal. Parabéns para o seu amigo.

    bjão!

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  3. Putz, ele escreve super bem, gostei muito.
    Eu já não sei escrever assim, só rabisco rimas...rsrs.
    Beijos Paulo querido.

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  4. Muito bom o texto... mas temos que ler com mais calma, ou mais avidez, não sei. Desvendar os sentidos das palavras nem sempre é muito fácil.

    Beijos.

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  5. É um texto de tirar o fôlego... daqueles que não dá pra ler direto, sem pausas. Muito bom!

    Beijos.

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  6. Isso nem é para ler... é para saborear... palavra por palavra! Djuro! Bjs!

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  7. Sei lá... Não curti muito não. Será que estou azedo??

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  8. Conheço o Julio. Sempre com comentários profundos e reflexivos. Não imaginava que ele também podia nos proporcionar reflexões mais interessantes ainda.
    Parabéns, Julio [e ao Bratz também]
    Bjaum.

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  9. Perfect...
    Viajei aqui no conto... Muito bom...
    Abraços garotão!!!!!!!!

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  10. Agradeço os comentários de todos, e especialmente ao Bratz, que de tão generoso fez dele um especial amigo. beijão à todos e muita saúde.

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    1. Nada a agradecer queridão! Eu é que agradeço por nos brindar com esta preciosidade. Fica bem logo. Beijos

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então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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