terça-feira, 14 de outubro de 2008

Carta de Amor pra mim mesmo ...




... porque só eu sei o que preciso ouvir ...

Paulo,
Escrevo enquanto te olho por dentro. O que vejo nem precisa ser bonito, nasci para amar tudo que vem de você. Escrevo pra te fazer um afago. Porque te conheço inteiro, naquela hora em que tudo é silêncio e sombra, naquela hora em que sua gargalhada é um sol. Desse seu corpo que nasceu para abraçar, eu conheço cada poro, cada taqui-bradi-cardia. Conheço cada sopro, cada falha na tua voz. Toda a força do teu canto desafinado, eu conheço. A intensidade do teu gozo, a fluidez das tuas palavras orgásticas que não admitem tutelas. Eu te conheço além da tua relação anti-convencional com teus homens, com tuas mulheres. Com essas pessoas que você ama. Com essas que você se recusa a odiar porque não quer despender energia pra isso. Eu te conheço doendo. Eu te conheço em paz. E sei quando você finge que nunca fingiu um orgasmo. E é por isso, Paulo, que eu sou a pessoa que mais poderia amar você. Porque não me interessa onde você erra, me interessa o que você aprende, apreende, absorve. Me interessa é como você se transforma. Interessa é o teu olhar de novidade derramado sobre as coisas simples e cotidianas como se descobrisse a essência do mundo diariamente. O que interessa é esse seu não medo da morte, a sedução que ela exerce sobre você e o teu instinto de vida tão maior que tudo. Eu te conheço boêmio, anestesiado, intenso, sufocado, apertando os dentes. Eu te conheço premonitório, dando consultas em mesas de bar, plantando esperanças porque a intuição disse que sim, vai dar certo, e deu. Eu te conheço arrasado, opaco, ferido, feroz. Rabugento. Confuso. E não é menos Paulo. É a outra ponta do extremo. A totalidade. Eu te conheço tendo recaídas, não sendo ingênuo mas optando por acreditar no outro de novo, de novo, de novo. Mas só até a terceira vez. Eu te conheço com um mau-humor contagiante, com uma disposição esfuziante, com uma alegria solitária, com todos os teus amigos, ou sozinho com os teus livros. Aquele que só entra no mar de mãos dadas com alguém porque tem medo de não sair. O que não evita alturas porque quando olha pra baixo só pensa na não-queda. O que se treme inteiro lendo seus textos em eventos poéticos porque tem fobia de público. O amigo popular e agregador. O que morre de ciúmes e toma gelmax efervescente pra acalmar a gastrite ciumenta. Eu nasci pra amar você porque sei dos teus desesperos, tropeços, anseios. Sei da tua honestidade quando sente. E dessa intranqüilidade pela falta de ambição. Te conheço acordando de madrugada só pra anotar uma frase. E fazendo da prosa poética teu sossego. Da vontade que você tem de voltar logo pra casa só pra escrever aquele texto que nasceu durante a caminhada. Das tuas roupas com cores desconexas. Da tua irritação com pessoas desconectadas. Tua preocupação com o lixo. Teu preconceito com o luxo. Teu boteco copo sujo. E a solidão permanente e o teu namoro com a escrita. O que ainda posso dizer? Que você, Paulo, vive para a palavra, mas anseia viver exatamente aquilo que ela não alcança. É por isso que eu te amo além do amor.
Eu te amo para sempre. Hoje.


Adaptado de Marla de Queiroz


06 Albinoni Adagio...

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

Um comentário:

  1. É ...
    você tem um dom, o mais belo dom dons!
    Tens o dom de se expressar através das palavras.
    algo que eu particularmente admiro de todo meu coração.
    Quando crescer que ter esse dom!
    Texto sublime.
    Obrigada por publicar sempre .

    ResponderExcluir

então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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